A expansão da indústria cultural na sociedade contemporânea se relaciona

Quais seriam as principais características da formação do indivíduo na sociedade contemporânea e como pensar em uma experiência estética instigadora de sentidos não-cristalizados capazes de instigar o indivíduo a não-conformação" 

Juliana Chaves
Especial para o Portal da UEG
  

Quais seriam as principais características da formação do indivíduo na sociedade contemporânea e como pensar em uma experiência estética instigadora de sentidos não-cristalizados capazes de instigar o indivíduo a não-conformação" Os autores Walter Benjamin, Theodor Adorno e Max Horkheimer, da teoria crítica, oferecem elementos para o entendimento da difícil formação do sujeito crítico-reflexivo na atualidade, para o desvelamento do gerenciamento da cultura pela indústria cultural como estratégia de uniformização de uma subjetividade que gera passividade e para a possibilidade de oposição a essa realidade.


A racionalidade da sociedade contemporânea realiza a constituição dos indivíduos, combinando, ao mesmo tempo, três características: a primeira se refere às condições objetivas que se elevam sobre as pessoas e são consideradas intransponíveis. A segunda é representada pelo enfraquecimento da constituição do eu com a perda de modelos dignos de identificação, do contato com o outro e da experiência, e a terceira, se realiza no enaltecimento de um indivíduo ideal descolado das condições concretas.


Paradoxalmente, a sociedade que prega a liberdade é a mesma que imprime uma realidade ameaçadora que sustenta o medo, a impotência e o tédio. As condições objetivas favoráveis ao medo perpetuam a fragilidade dos indivíduos, reduzindo-os como sujeitos. Sob constante ameaça, todos lutam para garantir a própria sobrevivência. As contradições do capitalismo tardio são cada vez mais agudas, pois, paralelamente à explosão da produtividade, a pobreza é ampliada e a autoconservação fica mais difícil; concomitantemente à acessibilidade dos bens culturais e à ampliação dos meios de comunicação, mais as informações são multiplicadas e esquecidas no indivíduo e mais a experiência e o encontro com o outro, com o diverso, são mutilados; cada vez mais há a instauração de leis que garantem a vida, enquanto a vida é danificada.


A competitividade faz com que os indivíduos se tornem indiferentes com o outro, mesmo que, muitas vezes, essa indiferença seja encoberta pela política de afetividade que enaltece o amor, a colaboração e a compaixão, encobrindo o ódio entre os competidores. Essas contradições não são mais ocultadas, mas inseridas na racionalidade que justifica a vida possível. Atualmente, o medo é mantido e renovado, atuando com base em dados objetivos e subjetivos, uma vez que a ameaça se mantém. Como o medo não é elaborado os seus elementos retornaram com maior força fazendo com que a dominação encontre solo propício.


Pode-se dizer que a vida segue submetida à racionalização e ao planejamento, pois a autopreservação pressupõe o ajustamento às exigências de preservação da lógica capitalista, como se a doutrina da sobrevivência do mais apto fosse uma teoria da evolução orgânica, sem a pretensão de impor imperativos éticos à sociedade. Nesse contexto, a sobrevivência, e até o sucesso, dependem da capacidade da adaptação do indivíduo às pressões que a sociedade exerce sobre ele. Para tanto, “basta se dar conta de sua própria nulidade, subscrever a derrota – e já estamos integrados” (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 143). É notória a idéia de que a realidade é difícil de ser transformada e, esta, é expressa em afirmativas como o mundo é assim mesmo, não tem mais jeito.


A perda da experiência e do contato com o outro é mais um elemento que constituiu a fragilidade do sujeito e pode ser detectado nos que passam apressados pelas ruas apresentando um movimento uniforme. Essa perda de vínculo com o outro já fora denunciada pelo escritor Poe (1944), em texto denominado O homem das multidões. O autor descreve os transeuntes das cidades (bêbados, miseráveis, homens de negócio ou pessoas de condição elevada) como autômatos. Ele ressalta que, embora alguns pareçam expressar satisfação com eles próprios e estejam solidamente instalados na vida, apresentam um movimento disciplinado e adaptado e mantêm entre si uma relação exemplar no caos da cidade moderna. Para Benjamin (1983), nessa rapidez, até o sorriso dá o que pensar, pois parece que deixa de ser convite à proximidade, para ser um pára-choque mímico.


Benjamin (1983, p. 36) assinala que fazem parte da massa pessoas de todas as classes e condições sociais, as quais deveriam ter as mesmas qualidades, capacidades e interesses em serem felizes, mas que,

no entanto, passam pelos outros com pressa, como se nada tivessem em comum, nada que ver uns com os outros. [...]. O único entendimento que os une, é esse, tácito, de cada um se conservar do seu lado da calçada, à direita, para que as duas correntes de multidão que avançam em direções opostas não se estorvem reciprocamente. 


Nessa movimentação ninguém honra os demais sequer com um olhar. Se os indivíduos de antes ainda lançavam “olhares para todos os lados (aparentemente) sem motivo, os de hoje têm de fazê-lo à força para atentar aos sinais de trânsito” (Benjamin,1983, p. 43). Embora participem do processo civilizatório, essas pessoas retornam cada vez mais ao estado selvagem de isolamento.


A perda da experiência cristaliza os sentidos e dificulta o entendimento de sua gênese, deixando o indivíduo mais vulnerável. Para não serem surpreendidos com o imprevisto, que testemunha a sua insuficiência, os homens defendem-se dos acontecimentos inusitados, repetem compulsivamente o instituído, assumem um comportamento volúvel ou incorporam o novo por ser o socialmente aceito. Nesse processo, realizam o treinamento do controle dos estímulos para que possam se organizar antecipadamente para a recepção desses estímulos e assinalar ao acontecimento um exato lugar temporal na consciência (Benjamim, 1983).


Exemplos disto podem ser encontrados na atenção das pessoas em verificar o número de chamada na bina ou na escuta seletiva daqueles que gravam toques diferenciados no celular para identificação de quem deseja falar e, em decorrência, o tom de voz que devem expressar. Na perda da experiência, o indivíduo perde a possibilidade de ser afetado, respondendo de forma mimética a toda situação. Mas, se a constituição do indivíduo se dá por mediações empobrecidas devido à limitação das experiências, que por sua vez acabam resultando em sentidos mutilados, será que é possível pensar em um movimento contrário que ofereça resistência a essa lógica hegemônica"


Alguns afirmam que a resolução está na valorização do indivíduo, mas é preciso ter muito cuidado com as saídas personalistas. A valorização da força individual, que deve assumir total responsabilidade pela superação das crises pessoais e sociais, sem vinculação com as condições determinantes da existência, pode ser encontrada na vendagem de livros de auto-ajuda, na idéia de alfabetização emocional (Goleman, 1995), e na atitude dos que apregoam a harmonia e a paz em situações desumanas de vida. Essa racionalidade apregoa um indivíduo ideal, descolado das condições objetivas, que deve buscar narcisicamente o imperativo da felicidade e do bom humor full time, em virtude de propiciar saúde.


Não é por acaso que essas crenças fazem apologia a uma força interior do sujeito uma vez que buscam encobrir as contradições sociais e a inexistência do indivíduo autônomo. Elas clamam pela formação de um indivíduo que as condições objetivas não favorecem e, justamente, por ele não existir, é que se fala tanto nele. Assim, a mesma sociedade que valoriza o indivíduo é a mesma que impede a sua realização. Ao resgatar o sujeito, essa racionalidade desconsidera as condições objetivas impostas pela lógica dominante e produz uma igualdade, já realizada a princípio, o que ajuda a justificar o existente. No entanto, quanto mais se anima o mundo mais ele se apresenta sem vida. Em decorrência disso, anima-se o inanimado em expressões como mercado tenso, bolsa nervosa e bombas inteligentes. Essas expressões já denunciam o desamparo em que se encontra a humanidade. Ao fazer apologia ao indivíduo forte desvinculado da sociedade instiga-se mais ainda o sofrimento, pois quem sofre, além de sofrer sozinho, sente-se culpado por não conseguir reagir.


A experiência estética também é reduzida nesse contexto, gerando a conformidade, a universalização e a regressão dos sentidos sem que a pessoa o perceba. Até os indivíduos que acompanham uma grande exposição ou um festival de filmes, denominados de arte, apresentam certo automatismo. Em ambos, o tempo é insuficiente para que os espectadores percebam o acúmulo de cenas, imagens e objetos, e, além disso, o ritual de contato com a arte, que deveria envolver o recolhimento, fica prejudicado. A obra de arte permanece sujeita a olhadelas superficiais de espectadores apressados, e a sua contemplação é perturbada pela passagem de outras pessoas que comem pipoca e colocam o assunto em dia.


Além do mais, o espectador sente-se na obrigação de extrair algo da obra observada, da peça encenada, de ter uma compreensão exata do que foi exposto e, dessa forma, a arte torna-se um calvário. São várias as pessoas que continuam a assistir uma peça ou a ler um livro, atividades que lhes assemelham a uma tortura, para evitar serem chamadas de insensíveis ou não-entendedoras de arte. Para cada um que vivencia essa situação, resta o comprovante da entrada do teatro, a reprodução em miniatura de uma grande obra de arte ou a aquisição do livro que permanece intacto em uma estante da biblioteca. Tudo isso funciona como um passe, um tiket que garante ao indivíduo que ele realmente pertence ao seleto público de apreciadores das mais belas artes. Esse vínculo estabelecido com a arte obstrui os sentidos e instiga a relação coisificada com o mundo, com o outro e consigo mesmo.


A indústria cultural instiga e propaga essa racionalidade, pois fragmenta, padroniza, empobrece os conteúdos da esfera cultural e exclui a mediação dificultando a reflexão. A indústria cultural se desenvolve segundo a lei de mercado e com a intenção de adequar-se aos seus consumidores. Assim sendo, a massa é a própria ideologia da indústria cultural, ainda que esta não possa existir sem se adaptar àquela. A indústria cultural duplica na consciência dos homens o que existe, isto é, o que acontece no plano econômico se reconstrói no plano cultural-formativo. Nesse caso, a formação cultural é a “formação” cultural artificial: “A aparência socialmente necessária para o ‘avanço’ da produção seria uma socialização de objetos que incluiriam os ideais antes presentes na formação cultural e agora não mais formados, mas adquiridos como dados do exterior” (MAAR, 2001, p. 118).


A semiformação realizada pela indústria cultural não é a imposição de produtos, como mercadorias, a sujeitos deformados, mas a produção de sujeitos sujeitados, a adesão voluntária de sujeitos ao processo de reprodução da sociedade em sua configuração vigente, isto é, a produção de consciências em conformidade com a sociedade atual, significando dizer que “o problema não se resume aos bens impostos pela indústria cultural [...]. Os indivíduos não aderem ao que lhes é estranho sem que algo neles seja mobilizado” (CROCHÍK, 2001, p. 30). Existem, portanto, um círculo de manipulação e necessidades retroativas e a integração voluntária de seus consumidores. As formas pelas quais as pessoas se relacionam com os bens culturais são mediadas pelo valor de troca. É como se os ouvidos e os olhos estivessem treinados pelas necessidades de manutenção do poder. No âmbito da civilização, ela é produtora das mercadorias como necessidades e, no âmbito da cultura, é produtora das consciências que delas necessitam. A indústria cultural trata os indivíduos como clientes ou como sujeitos funcionais e, nesse movimento, a fraqueza do Eu revela-se na mesma proporção que a ilusão da existência individual.

A fragilidade do Eu é consolidada quando a capacidade de experiência efetiva da realidade é fraudada e, em seu lugar, é ofertada uma experiência substitutiva ilusória, levando as pessoas à integração e não à autonomia. Como sujeitos funcionais, os indivíduos são lembrados na organização racional e são encorajados a nela se inserir com bom senso; como clientes, consomem os ideais coletivos que passam a ser considerados individuais, gerando uma ilusão que falseia a consciência dos sujeitos e impede sua auto-reflexão (FREIRE, 2003).

As pessoas reconhecem-se nas mercadorias da indústria cultural que geram a ilusão do particular, de liberdade, de felicidade e do novo em cada sujeito e encobrem os processos de aprisionamento, fazendo com que integrem a uniformização coletiva. A felicidade e a satisfação estão vinculadas à propriedade de um determinado bem de consumo, que é exaltado pela propaganda, a qual, ao personalizá-lo, retoma a idéia de individual em contraposição ao coletivo. Nesse processo, a cultura é invadida por uma racionalidade tecnológica que unifica os conteúdos transmitidos com o intuito de ser mais aceitável a todos, não exigindo tempo para reflexão e excluindo toda mediação possível (MARCUSE, 1973).


Pode-se afirmar que a indústria cultural tem por objeto o mundo enquanto tal e recorre ao culto aos fatos, limitando-se a elevar, graças a uma representação tão precisa quanto possível, a existência ruim dos fatos. Por trás disso, há uma mensagem implícita aos consumidores: “converte-te naquilo que és” (HORKHEIMER; ADORNO, 1973, p. 202). Além do mais, em meio a todo o sofrimento, ainda aparece a assistência conciliatória que encobre suas causas, o que já denota uma certa frieza. É como se a frieza fosse jutificada pelo mundo que a torna necessária: “assim é a vida, tão dura, mas por isso mesmo tão maravilhosa, tão sadia” (HORKHEIMER e 1985, p. 141). A constatação do trágico já não é mais ocultada, o sofrimento não é mais suprimido, mas registrado e aceito no mundo com um cínico pesar. Quanto mais a realidade é impregnada com o sofrimento necessário, mais ela é realista e assume o aspecto de destino. Quanto menos promessas faz a indústria cultural, menos ela é cobrada a dar explicação a essa vida sem sentido. Além de encobrir as causas do sofrimento sobre o manto da camaradagem improvisada, a indústria cultural ainda conclama as pessoas a encarar a realidade virilmente.


Segundo Horkheimer e Adorno (1985, p. 132), “o riso é um banho medicinal que a indústria do prazer prescreve constantemente para o esquecimento do que nos faz sofrer”. A socialização total tenta atenuar as resistências e os conflitos advindos do sacrifício e do sofrimento, eliminar a capacidade crítica em prol da resignação e ressaltar a alegria na possibilidade de consumir. O riso torna-se o meio fraudulento de ludibriar a felicidade, pois os instantes de felicidade não o reconhecem. O riso que permite achar graça na desgraça torna o indivíduo ridículo, pois o desprezo e o autodesprezo nele estão incluídos, o que confirma a impotência dos homens diante do mundo administrado.


Por sua vez, a indústria cultural também oferece o consolo de que um destino humano forte e autêntico ainda é possível. A felicidade não deve chegar para todos, mas para quem tira a sorte, ou melhor, para quem é designado por uma potência superior (HORKHEIMER; ADORNO, 1985). Apenas um pode tirar a sorte grande, pode se tornar célebre e mesmo que todos tenham a mesma probabilidade, “esta é para cada um tão mínima que é melhor riscá-la de vez e regozijar-se com a felicidade do outro, que poderia ser ele próprio e que, no entanto, jamais é” (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 135-136).


Assim, a felicidade é conquistada no acaso, na premiação e não por um efeito calculável do próprio trabalho. Assim sendo, as massas, escaldadas, não realizam mais sua identificação imediata com o milionário na tela, porém, ao mesmo tempo, também não conseguem se desviar, em nome da resistência, um milímetro sequer da lei do grande número. Com base no exposto, pode-se perceber a progressiva semiformação que cria, aceita e reproduz o conformismo.


Diante dessa realidade, como pensar em arte como forma de resistência"  Não é por acaso que desde a Antiguidade a arte seja objeto de reflexão. No entanto, pergunta-se o que caracteriza a arte" Não restam dúvidas que ainda não se resolveu por definitivo a questão da natureza, do objetivo e do sentido da educação estética, mas gostaria de oferecer alguns elementos para o debate: 

a) arte não é aquilo que se eleva como ideologia, que surge como superestrutura, que se sobrepõe às relações econômicas; ela não está separada das condições objetivas e nem é totalmente resultado delas; 

b) a arte não está acima do bem e do mal, ela não é redentora do sofrimento da humanidade, já que, em muitos casos, se produz arte, ou ela é apropriada, sem serem consideradas as condições de sofrimento de sua produção, o que significa que qualquer produção cultural não se justifica em si mesma, mas deve ser objeto de reflexão da razão humana;

c) a arte não é aquilo que propicia a doçura, a calmaria ou o deleite ao indivíduo, pois, às vezes, ela estabelece a inquietação e a repugnância diante da barbárie humana; além do mais, o deleite também pode ser resultado do prazer advindo do lazer; 

d) a arte também não pode ser entendida como aquilo que contagia as pessoas, pois isso também se revela no canto da torcida diante da vitória de seu time, do entoar os parabéns ou no grito dos que vão para a guerra;

e) a arte não pode ser instrumentalizada como veículo de transmissão de conhecimento de uma civilização, ser simplesmente objeto de representação do conteúdo da disciplina de história da arte ou um meio para o desenvolvimento da vontade moral;

f) a arte também não é um recurso da pedagogia ou da didática para tornar os alunos mais envolvidos com a aprendizagem, ou seja, ela não é uma técnica ou uma dinâmica de distração;

g) a arte não um simples ornamento da vida, pois dessa forma dela se retira a possibilidade de apontar o verdadeiro estado das coisas, o desvio dessas coisas e, pela contradição, a possibilidade de surgir outra coisa.

           
Assim definida, a arte é realizada de modo estreito e não representa oposição à sociedade vigente que deforma os sentidos e massifica as formas de pensar. A arte não é uma cópia da realidade.

           
A riqueza da obra de arte reside em seu caráter estético, que instiga emoções e sentidos variados. A obra de arte, por não ser acabada e comportar elementos do espectador, incita uma experiência estética que provoca reações que começam pelo sensorial e se estendem ao sentimento, ao pensamento e ao conhecimento. O objetivo final da reação estética não é repetir alguma reação real, mas superá-la e vencê-la.

           
A arte pode ser encarada como a possibilidade de provocar a verdadeira experiência, em contraste com a que se decanta na vida padronizada das massas civilizadas, declara Benjamin (1983, p.52), pois o tempo objetivado em uma obra não é o meticulosamente cronometrado, no qual “cada segundo encontra a consciência em guarda a fim de aparar o seu golpe”. Não se deve tentar esgotar a arte. Segundo Benjamim (1983), assim como a flor não esgota o seu perfume ao ser cheirada, e o gozo renova a necessidade de cheirá-la, não há pensamento, lembrança ou ação que possa anular ou saciar-se do efeito da arte.


É primordial que a experiência estética provoque sentidos que suspendam o indivíduo de sua vida cotidiana para que ele retorne a ela com uma subjetividade mais rica e ampliada. A arte provoca uma confusão, uma intranqüilidade que desvela forças. Imaginar como seria possível um mundo diferente exige o estremecimento dos sentidos que propiciam um pensamento reflexivo. É justamente por renunciar à verdade, por ser sem sentido, porém, completa, que a arte é capaz de propiciar inquietações.


Talvez em razão de a transformação depender do inconformismo e da capacidade imaginativa, a sociedade capitalista instrumentaliza a arte ou a difunde de forma massificada, dificultando a experiência, o aguçamento dos sentidos e a reflexão. Nesse contexto, o papel de cada um consiste em reconhecer e revelar os mecanismos que tornam as pessoas incapazes de adquirirem sentidos plenos e também saber o que, no movimento de cada um, permite e preserva o pior. É a tensão entre o que a arte poderia ser, e como ela vem sendo apropriada que deve ser refletida para que o conhecimento não se reverta em dominação.

Juliana Chaves é professora da UEG. 

Qual o papel da indústria cultural na produção cultural contemporânea?

Qual o objetivo da Indústria Cultural? Fundamentada na lógica capitalista, a Indústria Cultural busca por maneiras de obter e aumentar o lucro. Quando aplicada ao meio cultural, essa lógica pede uma padronização nas obras produzidas, a fim de que atendam ao gosto do maior número possível de pessoas.

Qual a relação entre indústria cultural é sociedade?

Por hora a técnica da indústria cultural só chegou à estandardização e à produção em série, sacrificando aquilo pelo qual a lógica da obra se distinguia da lógica do sistema social. Mas isso não deve ser atribuído a uma lei de desenvolvimento da técnica enquanto tal, mas à sua função na economia contemporânea.

Quais são as principais características da indústria cultural?

Na Indústria Cultural, se fabricam ilusões padronizadas e extraídas do manancial cultural e artístico. Estas se mercantilizam sob o aspecto de produtos culturais voltados para obter lucro. Além disso, tem o intuito de reproduzir os interesses das classes dominantes, legitimando-as e perpetuando-as socialmente.

Qual é o impacto da indústria cultural na produção artística contemporânea?

Influencia diretamente na produção artística contemporânea na medida em que reduz a criatividade, ideias novas em nome do consumismo. Indústria Cultural é um conceito usado para designar a transformação de diferentes obras em produtos padronizados, devido à introdução da tecnologia no processo de produção cultural.

Toplist

Última postagem

Tag