VER INFOGRÁFICO: Como os antibióticos funcionam e como as bactérias podem se tornar resistentes? [PDF]
A superbactérias são produzidas pelo uso excessivo de antibióticos. Quando os antibióticos são usados em excesso ou são mal utilizados, as bactérias que causaram a doença em questão são sobre-expostas e produzem mutações na tentativa de sobreviver. No que os especialistas chamam de "capitalismo genético", uma bactéria resistente tem uma vantagem evolutiva, de modo que não só tende a se manter, mas também a apresentar uma maior probabilidade de continuar adquirindo mecanismos de resistência.
Existem ocasiões atípicas em que a resistência surge de forma aleatória. Em outras ocasiões, ocorre a chamada transformação bacteriana, quando os genes responsáveis pela resistência são adquiridos no ambiente; outras vezes é obtida de bactérias relacionadas - conjugação - ou de vírus bacteriófagos - conhecidos como transdução.
Não importa quão modernos e sofisticados os antibióticos se tornem, as bactérias continuarão aperfeiçoando suas mutações, e quanto mais os antibióticos forem usados, mais bactérias evoluirão para resistir a eles. É, portanto, um problema que não pode ser interrompido, apenas atrasado.
QUAIS SÃO AS BACTÉRIAS MAIS RESISTENTES?
A própria Organização Mundial da Saúde estabeleceu três grupos de bactérias multirresistentes, de acordo com sua prioridade.
- Em prioridade 1 ou crítica, onde todos são resistentes a carbapenêmicos, os chamados antibióticos de amplo espectro, estão a Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, algumas enterobactérias como Klebsiella pneumonie, Escherichia coli e várias espécies dos gêneros Serratia e Proteus. No caso das Klebsiellas, já foram encontrados casos em que nenhum antibiótico é eficaz.
- Classificadas como prioridade 2 ou alta estão a Enterococcus faecium (resistente à vancomicina), Staphylococcus aureus (resistente à meticilina e à vancomicina), Helicobacter pylori (imune à claritromicina), Campylobacter spp. e Salmonella (ambas resistentes às fluoroquinolonas) e Neisseria gonorrhoeae (resistente à cefalosporina e à fluoroquinolona).
- E finalmente, existem as de prioridade 3 ou mediana que inclui Streptococcus pneumoniae (penicilina insensível), Haemophilus influenzae (resistente à ampicilina) e Shigella spp. (fluoroquinolona-imune).
IMPACTO SOCIAL E ECONÔMICO DAS SUPERBACTÉRIAS
Em 2020, este tipo de bactérias resistentes a antibióticos estava causando 700.000 mortes por ano, cerca de 33.000 na Europa e, segundo estimativas da Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários, cerca de 4.000 na Espanha, três vezes o número de mortes causado por acidentes de trânsito. As previsões previam que até 2050 o número de mortes atingiria 10 milhões em todo o mundo (atualmente o câncer mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano), mas os especialistas preveem que, ao ritmo atual, este número será atingido pelo menos uma década antes.
Um problema adicional é que existem poucos antibióticos experimentais que podem resolver esta situação. Especificamente, existem apenas 32 tratamentos em desenvolvimento clínico visando patógenos prioritários. Esta produção não é lucrativa para as empresas farmacêuticas, e o investimento privado em 2019 foi de apenas 120 milhões de euros, enquanto cerca de 8,6 bilhões de euros foram investidos na busca de tratamentos para o câncer.
Além disso, a mudança climática parece ser um problema adicional, com um número crescente de especialistas sugerindo que o aumento da temperatura permite que as bactérias superem a barreira protetora proporcionada pelos antibióticos atuais com mais facilidade e rapidez.
H2] COMO DESACELERAR ESTE PROCESSO? [H2]
As recomendações para desacelerar a chegada de um maior número de superbactérias abrangem diferentes áreas, já que este é um grande problema de saúde pública global. Por um lado, a comunidade médica tem diretrizes importantes para reduzir a prescrição de antibióticos, limitando seu uso se seu benefício for questionável. Também é importante que se monitore os medicamentos veterinários, um setor em que está concentrado 70% dos antibióticos e onde tem sido utilizado, e continuam sendo utilizados nos países em desenvolvimento, para apoiar o crescimento animal.
Do lado dos pacientes, há duas medidas fundamentais:
- Evitar a auto-medicação: Os antibióticos devem ser sempre prescritos por um médico e nunca devem ser tomados sem a supervisão de um médico. Os antibióticos devem ser especialmente evitados para doenças virais, como a gripe.
Completar o ciclo dos tratamentos: O tratamento não deve ser interrompido quando os sintomas começam a diminuir, mas somente quando o médico tiver decidido, pois se for interrompido antes disso, a infecção bacteriana pode não ser completamente eliminada, fazendo com que ela se adapte ao antibiótico e se torne resistente a ele.