Publicidade Publicidade O conde Francisco Scarpa, que contava ter recebido esse título do papa Pio XII, preferia que os amigos o chamassem de Chico. Apesar de apreciar a informalidade no tratamento, era um cavalheiro requintado. Tinha em
casa Picasso e Rolls-Royce. Adorava festas. Durante décadas, quando ia a Paris, hospedava-se numa suíte do luxuosíssimo Plaza Athénée. Nos anos 50, viajava com a família para a Europa de transatlântico e levava junto uma vaca leiteira, que era ordenhada no porão sempre que os filhos pequenos pediam a mamadeira. Paulista de Sorocaba, herdou a fortuna do pai, o imigrante italiano Nicolau Scarpa, criador da Cervejaria Caracu. Foi também dono da Skol e orgulhava-se de haver lançado a primeira
cerveja em lata do Brasil. Segundo seu filho-playboy, Chiquinho Scarpa, ele chegou a ter quarenta fazendas, além de usina de açúcar, metalúrgica e fábrica de tecidos. Francisco estudou química na Alemanha, onde em 29 de setembro de 1938 testemunhou uma cena histórica: a chegada dos líderes das maiores potências europeias da época para a assinatura do Pacto de Munique, que redundou na entrega da Checoslováquia aos nazistas. Do lado de fora, em meio a bandeiras com suásticas, ele conseguiu
fotografar, infelizmente de costas, Hitler, Mussolini e o primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain. Viúvo desde o ano passado, morava em companhia de Chiquinho, da antiga criadagem e de uma cacatua no palacete que construiu
em 1949 na praça batizada com o nome de seu pai, nos Jardins. As duas filhas, Renata e Fátima, residem em casas contíguas. Até poucos meses atrás, ainda jogava paciência no computador. Foi ali que ele morreu na última terça-feira (18), de complicações de um AVC sofrido em dezembro. Tinha 103 anos. “Nasceu rico, viveu rico e morreu rico”, resumiu o advogado da família, Marco Antonio Fanucchi. Continua após a publicidade
Francisco Scarpa Filho, ou apenas conde Chiquinho Scarpa, é uma figura reconhecida na mídia brasileira por seu suntuoso estilo de vida. Ele mora desde que nasceu em uma mansão no Jardim América, bairro nobre na região central de São Paulo. O empresário tenta vender o imóvel há oito anos. Seu objetivo é morar em um local "menor". A ideia inicial era se desfazer da casa por R$ 120 milhões; mas ela está listada agora pelo valor mínimo: R$ 63 milhões. Ou seja, o comprador terá um descontão de R$ 57 milhões.
Em entrevista ao Notícias da TV, o bon vivant conta que a mansão de 1.500m² de área construída e 4.000 m² de terreno foi adquirida por seu pai, o empresário Francisco Scarpa (1910-2013), em 1948. Chiquinho nasceu três anos depois da compra do imóvel. Sua mãe, Patsy Scarpa (1930-2012), deu à luz ele pelas mãos de uma parteira na casa. O conde dorme no mesmo quarto desde 1951.
Apesar dessa relação antiga com a mansão, o conde de 67 anos quer se mudar. É que manter a casa "dá um trabalho tremendo". Para que tudo siga funcionando, ele tem 12 funcionários fixos, seis seguranças e "cinco cães policiais" da raça pastor alemão que ficam soltos no jardim à noite para proteger a propriedade.
"A casa é muito grande, Me dá um trabalho tremendo. Eu sou sozinho, minhas duas irmãs moram em casas ao lado, mas elas têm a vida delas. Elas praticamente não vêm aqui e viajam muito. Fico sozinho e é muita coisa pra cuidar. Um dia quebra uma coisa, outro dia tem que arrumar outra. É muito grande pra mim", confessa Scarpa.
Ele adianta que não precisará dividir o dinheiro da venda da mansão com suas irmãs, Fátima e Renata Scarpa. Chiquinho vive na casa com a namorada, a goiana Luana Risério, de 35 anos. O casal tem três bichinhos de estimação: um shih tzu, chamado Pacheco Pafúncio, e "dois canarinhos que cantam o dia inteiro".
Durante o dia, o jardim da mansão ainda é habitado por cavalos, uma lhama, uma alpaca e mais uma "porção de bichos" que são de sua irmã, Renata. Chiquinho apenas empresta o jardim para os animais pastarem.
BOSSA NOVA SOTHEBY'S INTERNATIONAL REALTY/DIVULGAÇÃO
A fachada da suntuosa propriedade de Chiquinho Scarpa no Jardim América, em São Paulo
O conde quase vendeu o imóvel para um árabe no passado, mas o negócio foi melado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). "Tinha um comprador árabe. Ele ia comprar essa casa aqui por R$ 120 milhões e um prédio do Michael Klein [filho do fundador das Casas Bahia] por R$ 800 milhões", lembra.
"Ele trouxe o dinheiro da Arábia Saudita, passou pelo Banco Central, depositou no Banco Itaú, mas, quando eu fui fazer a venda, o Coaf não permitiu porque o árabe não tinha provado a origem do dinheiro. Aí eu fui reduzindo o preço. Fui pra R$ 100 milhões, depois pra R$ 80 milhões, e agora eu estou em R$ 63 milhões. R$ 3 milhões é a comissão para quem vender", explica o empresário.
"Esse é o valor mínimo do imóvel", afirma ele, decidido. "Já tive oferta de R$ 55 milhões, mas não vendi. Tive muitas visitas também. Como uma parte da casa dá para a rua Estados Unidos, é um endereço que pode ser comercial. Você pode fazer um negócio. Uma porção de gente veio visitar, mas estão todos esperando a [Reforma da] Previdência sair pra ver se melhora a situação."
Quando questionado se a venda foi motivada por algum problema financeiro, Chiquinho Scarpa solta uma longa risada, rapidamente seguida por uma negativa. "Tanto é que eu não estou com pressa nenhuma de vender. Tenho coisa muito maior vendendo por aí, pelo amor de Deus. Eu tenho cervejaria, tenho usina, tenho loteamentos, tenho fábrica de tecidos e sou sócio de grandes empresas. Sou sozinho, esse é que o problema", justifica.
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Uma das oito salas da mansão de Chiquinho Scarpa: o conde está cobrando R$ 42 mil pelo m²
A mansão de Scarpa vale o preço?
Especialistas em negociações imobiliárias ouvidos pela reportagem explicam que o caso de uma venda como a da mansão de Chiquinho Scarpa é diferente. Por se tratar de uma propriedade que está na mesma família há anos, "a expectativa do dono acaba sendo maior do que a realidade do mercado", segundo um expert que preferiu não se identificar por não ter visitado a residência pessoalmente.
Scarpa está pedindo R$ 42 mil por metro quadrado; o valor médio no bairro da casa é de R$ 12 mil. A área contruída de 1.500 m² conta com oito salas, seis dormitórios, 10 banheiros, academia, piscina, campo de futebol e 12 vagas na garagem.
O conde entregará a casa com boa parte da mobília e da decoração. Para o seu novo endereço, ele já levou lustres de cristal, os móveis essenciais e quadros.
"As coisas importantes já foram pra outra casa. Quem comprar meu imóvel vai acabar ficando com o que ainda tem. Os tapetes de parede, por exemplo, são muito grandes. Não cabem na minha casa, nem na casa das minhas irmãs", explica.
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Um dos quartos da casa de Chiquinho Scarpa; ele mora no imóvel desde que nasceu, em 1951
A nova casa do conde
Scarpa aguarda a venda de sua mansão no Jardim América para se mudar para um novo endereço. "Uma casa menor, que já está praticamente pronta", diz. De fato, a nova casa tem menos metros quadrados. Mas ainda é bem maior do que a média.
"Ela tem 2.000 m² de terreno e mais ou menos 800 m² ou 900 m² de área construída. Não é uma casa grande, mas é uma casa moderna, de fácil acesso. Tem a minha academia de ginástica, tem a piscina, tem um jardim, tem uma sala de jantar, tem uma sala, dois quartos só e dois banheiros", conta.
Veja abaixo outras fotos da mansão, que está à venda por R$ 63 milhões:
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Área externa da casa de Chiquinho Scarpa no Jardim América, região nobre de São Paulo
Sala com uma decoração clássica; o imóvel foi adquirido pelo pai de Chiquinho em 1948
O luxo e o tamanho de um dos dez banheiros da mansão em São Paulo chamam a atenção
Área externa da casa do conde Scarpa no Jardim América: são 1.500 m² de área construída