Por que os bovinos vêm contribuindo para o aumento do efeito estufa?

O metano faz parte do sistema digestivo dos animais ruminantes, que são aqueles que podem consumir alimentos à base de plantas, fermentando-os em um estômago especial para isso.

Durante esse processo de fermentação, o metano é gerado e uma parte é liberada mais tarde pelo arroto, por gases e pelas fezes, por exemplo (saiba mais abaixo).

Tecnologias podem diminuir a emissão de metano no agro — Foto: Arte / g1

A produção do gás é acentuada quando o animal não tem acesso a um alimento de qualidade.

No período chuvoso, quando os pastos têm melhores condições, a emissão de metano é cerca de nove vezes menor do que no período seco, aponta pesquisa de Marcílio Nilton Lopes da Frota, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte.

De acordo com o estudo, quanto menos fibroso e mais digestível for o alimento consumido, menos metano será produzido. Nessa situação, o animal ganha mais peso, leva menos tempo para ser abatido e, consequentemente, diminui o impacto no meio ambiente.

Por esta razão, a alimentação balanceada é fundamental para diminuir a produção de metano. Além disso, os aditivos reforçam esse processo, ao usarem elementos químicos para auxiliarem a nutrição animal e combaterem de diferentes formas a emissão do metano.

Como funcionam os aditivos?

Cada aditivo funciona diferente. Eles são compostos por elementos químicos misturados em algum meio de transporte, que pode ser o milho da ração, por exemplo, explica o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Sergio Raposo de Medeiros.

Um destes aditivos é o 3-nitrooxipropanol ou Bovaer, aprovado no ano passado na Europa, que, segundo Medeiros, poderia atingir redução de até 90% da produção de metano. O produto é descrito pelo pesquisador como “um míssil teleguiado” ao atingir e eliminar o metano.

Um produto mais antigo é o ionóforo, usado há 40 anos para diminuir matéria-prima na digestão. “Então, antes de ser metano, o que a gente tem no rúmen é hidrogênio (H2). E esse hidrogênio vira metano e o objetivo é diminuir a quantidade de H2, para as bactérias metanogênicas irem reduzindo o metano”, explica Medeiros.

O aditivo é colocado em pequenas quantidades na ração animal, se limitando a um ou dois gramas por cabeça.

Existem 2 benefícios principais ao usar estes compostos, aponta o pesquisador da Embrapa:

  • diminuir a produção de metano por kg de carne;
  • reduzir danos mecânicos a cada kg de alimento que o animal come, fazendo com que ele ganhe mais peso.

Este último ponto se refere a uma outra problemática da produção de metano: é uma perda energética para o gado, derrubando também o seu desempenho.

A emissão de metano representa perda de energia bruta do alimento ingerido que pode variar entre 6% e 12%, segundo Marcos Cláudio Rogério, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Há também outra vantagem: conforme os animais engordam mais rapidamente, é preciso menos cabeças para produzir uma boa quantidade de carne e há menos tempo até o abate - diminuindo também a quantidade e o tempo de emissão de metano.

Custa mais?

Por ser um item a mais na alimentação do rebanho, o aditivo vai aumentar os custos de produção em cerca de 10%, explica Sergio Medeiros.

Mas, como o aditivo pode fazer com que o animal ganhe mais peso, por causa da economia de energia, o criador pode lucrar mais. O pesquisador aponta que o ideal é que a quantidade de carne também seja elevada em 10%, fazendo os novos custos se pagarem.

Aditivos são misturados à ração. — Foto: TV TEM

Vacina antimetano e tecnologias do futuro

Uma dieta balanceada pode não ser o único caminho para tornar a pecuária mais ecológica. Cientistas do mundo todo experimentam outros métodos que poderão ser usados no futuro.

O pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste destaca um estudo desenvolvido na Nova Zelândia em que, através de uma vacina, o próprio organismo do animal irá diminuir a emissão de metano, com a produção de anticorpos.

Há também estudos na Embrapa que focam em entender o microbioma, descobrindo quais micro-organismos presentes no alimento favorecem a produção de metano.

Ao identificar em qual situação o gado irá desenvolver menos gás, os cientistas focam em reproduzir o cenário, como por meio de manipulação da dieta.

“É como se fosse uma fotografia, por exemplo, você tem uma forragem melhor e outra pior, a gente vai ver qual é o retrato de cada uma na sua composição de micro-organismo e a gente vai achar aqueles (micro-organismos) que são mais ligados à produção de metano ou não”, exemplifica Medeiros.

Outro investimento é o melhoramento animal. Através de uma seleção genética, os pesquisadores vão identificar quais animais produzem menos metano e os reproduzem entre si. Isso é possível porque o microbioma do rúmen animal é transmitido de geração em geração, aponta o pesquisador.

“Eu meço o metano, a resposta - que a gente chama de fenotípica -, exponho todos os animais à mesma situação, escolho os que produziram menos metano e cruzo com a fêmea. Depois, checo, nos animais que nasceram, quais que estão fixando esses genes e vou selecionando”, explica.

Porém, o resultado final ainda vai demorar uns bons anos, pois a herdabilidade do gado, a capacidade de herdar essas características, é de baixa para média, diz.

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Como compensar a emissão de gases

A ILPF consiste, basicamente, em uma produção composta por diferentes itens em uma mesma área. O gado, por exemplo, pode ser criado em um ambiente com a lavoura de milho e com a área de floresta.

Com este método, há um ciclo em que o gás carbônico, ou CO2, é retirado da atmosfera pela floresta e pelas raízes das pastagens. Então, apesar de o animal continuar emitindo metano, há esta compensação.

A ILPF gera um aumento da diversidade com consequente crescimento da biodiversidade no solo e tendência de redução das emissões de gases do efeito estufa.

“A gente brinca que é uma situação ganha, ganha, ganha, porque ganha o ambiente, porque vai ter menos metano; ganha a sociedade, porque tem mais carne produzida, evidentemente ajuda a ter disponibilidade do produto e o criador tem uma produção de maior ganho e mais estabilidade”, diz Medeiros, da Embrapa Pecuária Sudeste.

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Por que a criação de gado bovino contribui para o efeito estufa?

Esse processo natural, chamado de fermentação entérica, tem como subproduto o metano (CH4), um potente gás de efeito estufa, que é liberado na atmosfera pelo arroto e estrume dos bichos. E é principalmente por conta disso que grande parte das emissões de GGE na agropecuária veio da criação de gado nos últimos anos.

Qual a relação entre o efeito estufa e os bovinos?

Segundo o Inventário Nacional, o gado bovino responde por 15,4% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, enquanto a queima de combustíveis fósseis gera 15,1%. O estranho cômputo, quando divulgado, em 2014, deliciou tanto os ativistas vegetarianos quanto as montadoras.

Por que a criação de gado em larga escala contribui para o aquecimento global?

A criação de gado em larga escala contribui para o aquecimento global por meio da emissão de. metano durante o processo de digestão.

O que os ruminantes tem a ver com o efeito estufa?

Um único animal expele diariamente de 150 a 500 litros de metano na atmosfera. Pesquisadores da Escola Politécnica de Zurique querem diminuir a flatulência e eructação nos ruminantes.

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