Quais as necessidades futuras ou desafios do melhoramento de plantas na atualidade?

Agricultura e Recursos Florestais

15 de julho de 2021

Segundo Aluízio Borém, “o melhoramento de plantas é a ciência e a arte de modificação genética das plantas para torná-las mais úteis ao homem”, e é, também, uma esperança para a população mundial, em constante crescimento.

Estudiosos preveem que o número de habitantes no planeta Terra chegará a 9 bilhões em 2050, o que demandará um aumento de 60% na produção agrícola em relação ao que se tem hoje, para garantir alimentos a todos esses indivíduos. 

O melhoramento de plantas, ciência que consiste no desenvolvimento de novas variedades de alimentos, mais resistentes a intempéries climáticas e pragas, mais adaptáveis a diversos tipos de solos, é, portanto, uma das soluções mais viáveis em diversos aspectos para dar conta de suprir as necessidades da população por alimentos em curto, médio e longo prazo. 

Melhoramento de plantas, livro de Aluízio Borém, Glauco V. Miranda e Roberto Fritsche-Neto, trata sobre essa tão valiosa ciência e arte. Publicado originalmente em 1996, a obra chega à oitava edição em nova casa editorial.

Para falar sobre essa novidade, o Comunitexto conversou com o Professor Aluízio Borém. O pesquisador discorreu sobre o conceito de melhoramento de plantas e os desafios que essa técnica ainda enfrenta.

Além disso, falou sobre a motivação para elaborar a obra e as novidades presentes nesta nova e exclusiva edição. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Aluízio Borém apresenta possibilidades de melhoramento para diversas espécies. Foto: Gaetano Cessati/Unsplash

Comunitexto (CT): Em que consiste o melhoramento de plantas?

Aluízio Borém (AB): O melhoramento de plantas é a ciência e a arte da modificação genética das plantas para torná-las mais úteis ao homem, desenvolvendo, assim, novas variedades mais resistentes a pragas e doenças, mais produtivas, com melhor qualidade nutricional, mais adaptadas a diferentes solos, climas e regiões, e com outras características diferentes de interesse em benefício da população.

CT: Melhoramento de plantas e modificação genética dos organismos são a mesma coisa? Quais são as diferenças?

AB: A modificação genética dos organismos, que gera os transgênicos, é parte do melhoramento de plantas. É a biotecnologia, a engenharia genética aplicada ao melhoramento de plantas.

É o melhoramento de plantas moderno, realizado em laboratório, para a introdução de características de outras espécies na variedade que nós queremos.

Nós podemos, através da modificação genética de plantas, trazer genes de feijão e colocar na soja, de arroz na soja, da soja no trigo, de bactérias na soja, e assim sucessivamente.

CT: De que maneira o melhoramento de plantas pode contribuir em curto prazo com a crise de insegurança alimentar que o Brasil tem enfrentado?

AB: Melhoramento de plantas é a melhor estratégia para a seguridade alimentar porque, através do desenvolvimento de variedades resistentes a pragas e doenças, nós podemos assegurar uma maior estabilidade de produção.

Por meio do desenvolvimento de variedades mais tolerantes às adversidades climáticas, nós podemos estabilizar a produção. Então, o melhoramento de plantas é uma estratégia altamente responsável sob o ponto de vista ambiental, porque, através dela, pode-se aumentar a produção sem necessidade de incorporar novas áreas produtivas ao sistema de produção.

Dessa forma, o melhoramento de plantas torna-se um grande auxílio na segurança alimentar e na preservação do meio ambiente.

CT: Quais são os desafios desse campo de pesquisa atualmente?

AB: O principal desafio que a ciência do melhoramento de plantas enfrenta hoje é lidar com as adversidades por que a agricultura tem passado, como a redução da área cultivada. Na maioria dos países, a área cultivada vem se reduzindo, por expansão das cidades, dos parques industriais, das rodovias, e também por perda do solo devida à erosão e outros problemas de áreas que, antigamente, eram produtivas e se tornaram marginais.

Além disso, nós temos o problema do aquecimento global, que resulta em clima mais adverso, com enchentes maiores e mais severas, inundações maiores e mais severas, e secas mais pronunciadas; assim, produzir alimentos torna-se mais difícil.

Com isso, o melhoramento de plantas tem que lidar com esses estresses bióticos e abióticos, mais pragas, mais doenças. E para lidar com essas adversidades, novas variedades têm que ser desenvolvidas.

Felizmente, a ciência tem andado a passos largos, disponibilizando novas ferramentas, mais modernas, para o melhorista desenvolver variedades. Então, o futuro continua promissor.

CT: Sobre o livro, quais foram as motivações para escrever Melhoramento de plantas?

AB: Por volta dos anos 1986 e 1987, quando nós começamos a dar aula de melhoramento de plantas, notamos que não havia nenhuma literatura em português adequada para atender os estudantes nos seus estudos.

Então, eu havia estabelecido comigo mesmo que, quando eu fizesse o doutorado (tive a oportunidade de fazê-lo no exterior), reuniria materiais adequados para escrever este livro. E assim eu fiz. Passei os anos de 1989 a 1993 no exterior fazendo meu doutorado e, ao regressar ao Brasil, comecei a redigir o livro Melhoramento de plantas. Em 1996, lançamos este livro para suprir a lacuna que existia em termos de literatura técnica para os nossos estudantes de agronomia e de pós-graduação em genética e melhoramento. 

CT: Quais foram os acréscimos que a nova edição recebeu em relação à última?

AB: Eu diria que um livro, para se tornar atrativo e atual, precisa sempre passar por modificações, atualizações e modernizações, porque a ciência evolui. Durante os anos de 2019 e 2020, tive a oportunidade de fazer um treinamento nos Estados Unidos, uma reciclagem.

Durante essa reciclagem, parte das minhas atividades e atribuições foi atualizar o livro Melhoramento de plantas. Nesse período, tive a oportunidade de entrevistar vários colegas de iniciativa pública e privada sobre os programas de melhoramento que eles vinham conduzindo, sobre quais as modernidades que eles haviam adotado.

Nós utilizamos tudo isso para atualizar este livro. Inclusive, escrevemos um capítulo novo, que traz exemplos de programas de melhoramento. Esse capítulo é super interessante para quem está começando um programa de melhoramento, porque dá as diretrizes numéricas, índice de seleção, intensidade de seleção, tamanho de parcela e número de indivíduos a serem conduzidos em cada população para várias culturas: milho, trigo, soja, cevada, batata, entre outras.

CT: O que motivou as mudanças?

AB: O que nos motivou a realizar essas atualizações e caminhar para a oitava edição foi o fato de que nenhum outro livro de melhoramento de plantas do Brasil trata desses mais recentes avanços e modernidades que vêm sendo aplicados ao melhoramento de plantas, como o uso de drones no levantamento de informações fenotípicas das plantas, o uso da genômica, a seleção genômica ampla, entre outros. Tudo isso nos motivou a atualizar o livro e, aqui, temos o prazer de estar apresentando-o à comunidade científica.

CT: Quais são os principais destaques da obra? E desta edição, especificamente?

AB: Os principais destaques desta obra são, de fato, o conteúdo reformulado, os capítulos novos, e também uma diagramação muito mais moderna que conseguimos imprimir, transferindo o livro para a Oficina de Textos, com a inclusão de algumas fotos coloridas e alguns outros aspectos que realmente revolucionaram o livro em relação à sétima edição, tornando-o bem superior.

CT: Qual é o principal público a quem o livro se destina?

AB: O livro Melhoramento de plantas se destina principalmente aos estudantes de agronomia, visto que a disciplina Melhoramento de Plantas é obrigatória em todos os cursos de agronomia do país, e também aos estudantes de pós-graduação em fitotecnia, genética e melhoramento e outras áreas correlatas. O livro também é de grande interesse para produtores de sementes e outros interessados em agricultura de maneira geral.

Lançamento na Ofitexto

A oitava edição de Melhoramento de plantas está em disponível na livraria técnica Ofitexto. A obra de Borém, Miranda e Fritsche-Neto pode ser adquirida em nosso site na versão impressa.

Capa de Melhoramento de plantas, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados.

Quais são as necessidades futuras e desafios do melhoramento de plantas na atualidade?

A produção de novas cultivares em espécies anuais leva em média 12 anos, enquanto para cultivares perenes esse tempo pode ser superior a 30 anos. Por isso, o melhorista deve tentar prever necessidades futuras. Um desses desafios é a procura por fontes de energia renovável.

Quais os desafios atuais do melhoramento vegetal?

Um outro desafio do melhorista vem se apresentando nos últimos anos: a olericultura tecnificou-se e intensificou-se de forma muito acelerada e parte dela migrou das regiões montanhosas da Mata Atlântica para o Cerrado por meio do uso de irrigação com pivô central. A cenoura é um importante exemplo.

Quais são os principais objetivos do melhoramento das plantas?

O melhoramento genético de plantas trata, entre outros aspectos, da genética e da interação do ambiente com a genética. Esses fatores permitem o aumento da produção global de alimentos, sendo, portanto, um dos principais objetivos específicos dessa ciência.

Qual a necessidade e a importância do melhoramento vegetal para a sociedade?

A importância do melhoramento de plantas é apresentada em diversos estudos realizados, uma vez que a mesma é capaz de aumentar a produtividade das áreas já utilizadas para a agricultura sem a necessidade expansão dessas áreas.

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