Quais são os fatores de risco para o uso das drogas?

O tripé fatores individuais, fatores familiares e fatores ambientais é usualmente enfatizado tanto no contexto de proteção quanto no contexto de risco

Resposta

Já com algumas décadas de pesquisa sobre o uso e abuso de substâncias psicoativas, é possível identificar fatores de proteção contra o uso de drogas bem como fatores de risco. Os programas de prevenção ao uso de substâncias têm buscado nos gêneros textuais científicos aqueles fatores mais fortemente e consistentemente associados com a chance de um adolescente não iniciar o consumo de alguma substância psicoativa ou mesmo de não abusar das mesmas.

O tripé dos fatores de proteção

O tripé “fatores individuais – fatores familiares – fatores ambientais” é usualmente enfatizado tanto no contexto de proteção quanto no contexto de risco. Interessantemente, muitos dos fatores identificados como protetores contra o uso de substâncias também são apontados como protetores contra violência juvenil, comportamentos sexuais de risco, gravidez precoce, dentre outros.

Os principais fatores de proteção citados nos gêneros textuais científicos podem ser sumarizados abaixo:

a) fortes e positivas conexões familiares;

b) monitoração dos comportamentos dos filhos e amigos;

c) ter regras claras dentro do ambiente familiar a respeito do consumo de substâncias;

d) envolvimento ativo dos pais e cuidadores na vida das crianças;

e) fortes conexões positivas entre os adolescentes e instituições, como a escola e as instituições religiosas;

f) desenvolvimento e fortalecimento das habilidades do adolescente em lidar com situações adversas.


Resiliência, persistência, autotranscendência: fatores de temperamento que ajudam a prevenir o consumo

Embora os fatores citados sejam notavelmente importantes na proteção contra o uso de substâncias, deve-se levar em conta os aspectos da própria personalidade do jovem. Resiliência, persistência, autotranscendência, ser cooperativo, ter direcionamento são alguns fatores de temperamento e caráter associados com a inibição do uso de substâncias. Também, positiva autoestima e boa autorregulação tendem a proteger o jovem contra o consumo de substâncias.

Influência dos pares

Alguns estudos têm enfatizado que a influência de pares tende a ser muito mais forte do que a influência dos pais sobre o uso de substâncias por um jovem. Entretanto, parece que a influência dos pais modera o fator “influência dos pares”. Isso significa que quanto mais saudável for o relacionamento com os pais, a convivência entre os pais, a salubridade do ambiente intrafamiliar, menor será a influência real dos pares, apesar da sua força.

O silêncio no ambiente doméstico a respeito do uso de substâncias não é recomendado, tendo em vista que é impossível deixar de, pelo menos, ouvir falar a respeito delas tanto através da mídia quanto através dos pares.

Fatores de risco e de proteção são independentes um do outro

Alguns autores têm afirmado que os fatores de risco e os fatores protetores relacionados com o uso de substâncias são independentes um do outro. No entanto, um indivíduo sempre estará diante e exposto tanto a fatores protetores quanto a fatores de risco, em uma balança que pode pender mais para um lado do que para o outro em diferentes fases da vida.

O indivíduo não é um receptáculo inerte que apenas recebe informações e assimila comportamentos, sejam pró-sociais ou dissociais. Ele não é um “disco rígido”. Ele interage com estes fatores, dentro de uma rede neurobiológica e psicossocial complexa, incluindo os seus próprios fatores genéticos.

A personalidade que “busca por sensações”

Por exemplo, uma das dimensões da personalidade nomeada “busca por sensações” tem sido consistentemente associada com o uso de substâncias entre jovens. Esta dimensão da personalidade reflete a tendência do indivíduo em procurar novidades, experimentar sensações diferentes, pouco valorar os riscos para experimentar tais sensações. Tal dimensão da personalidade pode moldar o comportamento individual e social, tornando-se direta e indiretamente associada com a busca por experiências diferentes e excitantes, como é o caso do consumo de substâncias. Em um estudo com cerca de 5.000 jovens entre 12 e 18 anos de idade, traços da chamada “busca por sensações” foi um forte e significativo fator relacionado com a formação de rede de amigos apoiadores do uso de substâncias, mesmo após o controle das variáveis protetoras, tais como religiosidade, supervisão parental, desempenho acadêmico e relacionamentos positivos com os familiares. Possuir altos escores nesta dimensão da personalidade não é uma sentença certa para o consumo de substâncias; no entanto, predispõe um jovem a usá-las mesmo estando protegido por fatores sociais e ambientais. De qualquer forma, os fatores de proteção citados foram negativamente e significativamente associados com a formação de amizades apoiadoras do uso de substâncias, apesar da força desta dimensão de personalidade.

Transtornos mentais e consumo de drogas

Outrossim, devemos levar em consideração que certos transtornos mentais são bastante associados com o consumo de drogas. Assim, com pais atuantes, os jovens que manifestam sintomas de ansiedade, depressãohiperatividade serão rapidamente identificados e deverão receber tratamento adequado e precoce, evitando consequências nocivas.

A observância aos fatores protetores citados no início do texto deve ser feita estreita e prudentemente. Seguramente, eles terão um papel importante na vida do jovem, mesmo se ele decidir usar substâncias psicoativas em um determinado momento da sua vida.

Abaixo, forneço interessante referência para consulta:

Yanovitsky, I. (2005). Sensation Seeking and Adolescent Drug Use: The Mediating Role of Association With Deviant Peers and Pro-Drug Discussions. Health Communication, 17(1): 67-89.

Atenção! Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

Texto Original

Danilo Antonio Baltieri

Médico psiquiatra. Mestre e Doutor em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade. Currículo Lattes.

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Danilo Baltieri

Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.

Quais os fatores de risco para uso de drogas?

4 fatores de risco que podem indicar dependência química.
Círculo social. É muito comum pessoas terem o seu primeiro contato com as drogas ainda na infância. ... .
Traumas. Uma situação de intenso estresse ou alguma perda podem levar uma pessoa a buscar conforto no consumo de drogas. ... .
Transtornos mentais. ... .
Vulnerabilidade..

Quais são os perigos e as consequências do uso de drogas?

O consumo constante de entorpecentes, mesmo de forma recreativa, pode resultar em dependência química e contribuir para comorbidades relacionadas à saúde física e mental. O uso esporádico de bebidas ou de drogas pode agravar sintomas de depressão e pode iniciar quadros de ansiedade patológica, por exemplo.

Quais são os principais riscos de uso de drogas na juventude?

O uso de drogas na juventude torna a pessoa mais vulnerável à dependência química na vida adulta. Isso porque o cérebro permanece com inúmeros receptores dessas substâncias e também pelo fato da adolescência ser a fase em que são definidos os hábitos que serão levados ao futuro.

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