:: Atrelada ao contexto histórico do Brasil, a atividade cafeeira pode ser considerada "a primeira atividade mercantil não colonial" , implantada no seio de um Estado nacional recém-criado. Essa atividade assistiu o processo de diversificação da estrutura social, acompanhada do surgimento da vida urbana em razão do desenvolvimento, bem como as transições nas relações de trabalho e impetração de leis.
Foi com a mão-de-obra livre, oriunda principalmente da imigração
européia, é que a atividade tomou maior fôlego, mesmo que inicialmente esta estivesse calcada no uso de mão-de-obra cativa que se estendeu até 1888, ano de assinatura da Lei Áurea. Essa mudança coincide com a "transição capitalista" que definiu a nova divisão do trabalho, "base das relações imperialistas" , com a conseqüente expansão do movimento internacional de capitais, que ao entrarem no contexto econômico de nosso país, impulsionaram a rápida disseminação da cultura.
A transposição da mão-de-obra negra que até então representava um custo nulo para o latifúndio, para a mão-de-obra imigrante que exigiu grande volume de capital de giro para a sua sustentação, colaborou para a consolidação do Sistema Financeiro Nacional, implantado pela Família Real Portuguesa em 1808. A necessidade de um sistema que financiasse a produção e toda a sua infra-estrutura, passou a ser ainda mais importante quando a figura do comissário perdeu sua importância e a do exportador, geralmente agente de grandes empresas estrangeiras, passou a ter nas mãos, o poder de comprimir os preços do produto. Os recursos, em sua maioria oriundos de empréstimos realizados junto à bancos estrangeiros, foram fundamentais para a instalação de ferrovias, modernização dos portos brasileiros, abertura de estradas, pontos de beneficiamento. Entretanto, trouxe consigo, a ilusão do "dinheiro fácil" , que culminou em problemas que vão desde a desorganização do sistema bancário - que permitia a emissão de moeda em cada casa bancária sem a existência de lastro, aliada aos déficits orçamentários, deflagrando assim a endemia chamada inflação, até o abandono das lavouras de subsistência e aumento da importação de alimentos, já que os agricultores visando os lucros atrativos do café, deixaram de lado as demais culturas.
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2LANNA, Ana Lúcia Duarte. O Café e o Trabalho "livre" em Minas Gerais - 1870/1920. Revista Brasileira
de História: São Paulo. V. 6, p. 73-88, 1986.
3Idem, ibidem.
4Idem, ibidem.
5Conforme Delfim Neto, o Comissário era o principal banqueiro do cafeicultor, pois adquiria o produto 'a vista, estocando-o para posterior negociação com os agentes exportadores.
6NETO, Delfim. O Problema do Café no Brasil. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas e Ministério da Agricultura. 1979.
:: Graças aos recursos das exportações, que no final do século XIX respondia por cerca de 80% das receitas de nossa balança comercial, importância essa que manteve seu auge até o final da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), o café proporcionou a sustentação do aparelho político e administrativo do Regime Republicano, além de ter sido o fornecedor de recursos para a instalação do parque industrial nacional. O café sem dúvidas atuou "como elemento dinamizador da economia na medida em que gerou um capital excedente investido em outros setores que não o agrícola, e na medida, ainda, em que criou um mercado consumidor para novos produtos" , mesmo que nesse caso alguns estudiosos considerem que essa transferência de recursos tenha ocorrido em razão da necessidade de frear a sua expansão, evitando-se assim o risco da superprodução.
Dada sua importância na pauta de exportações do Brasil, foram introduzidas alterações de política econômica, que redefiniram as relações financeiras com o exterior, em razão dos muitos investimentos estrangeiros que aqui estavam sendo realizados. A política
cambial passou a ser melhor elaborada, assim como as preocupações com a padronização dos produtos comercializados, mesmo de forma simplificada, passaram a fazer parte do dia-a-dia do exportador.
O café, planta nobre que deixou as montanhas etíopes, em solo brasileiro, gerou riquezas e com elas os primeiros passos de uma nação.
Fonte: "A última impressão é a que fica: Introdução à Classificação e Degustação de Café". SINDICAFÉ-MG: Belo Horizonte. 2001.
A economia no Segundo Reinado sofreu grandes mudanças com a introdução do café nas pautas de exportação. Trazida pelas mãos do tenente coronel Francisco de Melo Palheta, as primeiras mudas da especiaria vingaram em solo paraense. Já nessa época, o consumo de sua bebida amarga era conhecido entre os consumidores europeus. Aos poucos, o café se tornou o produto-chefe de uma economia ainda sustentada pela imponência de seus latifúndios agro-exportadores.
O plantio sistemático da planta só se desenvolveu pelas regiões férteis do território fluminense, onde em 1760 eram cultivadas as primeiras remessas do produto. O terreno úmido e pantanoso da Baixada Fluminense era ricamente adaptado às exigências do novo gênero agrícola. Em breve espaço de tempo, o Rio de Janeiro galgou a posição de pioneiro do cultivo e na venda do café. No fim do século XVIII, as regiões da Tijuca, da Gávea e do Corcovado já estavam tomadas pelas plantações.
Preservando as características de nossa economia colonial, as plantações cariocas se sustentavam no uso do latifúndio, da monocultura e da mão-de-obra escrava. Tais características fizeram com que o plantio de café no Rio fosse atingido por sérias dificuldades. Uma delas estava relacionada ao uso indiscriminado do solo, o que acabou empobrecendo o potencial produtivo da região. Além disso, a proibição do tráfico negreiro, em 1850, acionou um freio na produção em terras fluminenses.
Porém, a ameaça de crise na ascendente produção cafeeira não se consolidou graças a uma nova frente de expansão de cultivo. A região do Oeste paulista, ao longo do tempo, conseguiu substituir os mercados dominados pelas primeiras lavouras e alcançar valores ainda mais expressivos. Isso aconteceu por conta da conquista dos mercados europeu e norte-americano. Paralelamente, a lógica produtiva implantada pelos cafeicultores paulistas também justificou o ritmo acelerado com que os pés de café dominaram nossa economia.
Constituindo um perfil diferente dos antigos grandes proprietários de terra, os cafeicultores do Oeste Paulista sustentaram a produção com uma nova postura. As lavouras eram sistematicamente inspecionadas, as técnicas de plantio eram renovadas e o emprego de infra-estrutura não foi poupado. Os recursos financeiros para tantos empreendimentos foram obtidos do acúmulo de capitais conquistado pela rápida aceitação do produto, o uso de capital financeiro e a dinamização da economia interna.
Sobre esse último aspecto, podemos destacar como o fim do tráfico negreiro contribuiu para que os recursos antes investidos nessa atividade fossem canalizados para a indústria e o comércio. Além disso, esse mesmo fenômeno contribuiu para que a mão-de-obra assalariada fosse adotada em substituição a outrora força de trabalho obtida pela exploração dos escravos negros. Nesse sentido, essa nova experiência abriu portas para formação de novas classes sociais no Brasil.
Em contrapartida, essa mesma diversificação econômica não deixou de fortalecer a classe proprietária de terras do país. Os grandes fazendeiros, durante o Segundo Reinado e a República Velha, tinham grande força de atuação política. Tal experiência causou diversos conflitos que marcavam o interesse conservador dos fazendeiros e as demandas inéditas de grupos de trabalhadores assalariados e urbanos. Somente no final da década de 1920 que observamos a crise das elites agro-exportadoras, inclusive a cafeeira, frente às mudanças experimentadas no Brasil Republicano.
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Por Rainer Sousa
Graduado em História
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SOUSA, Rainer Gonçalves. "Economia Cafeeira"; Brasil Escola. Disponível em: //brasilescola.uol.com.br/historiab/economia-cafeeira.htm. Acesso em 20 de novembro de 2022.