Com a taxa Selic cravada em 13,75%, após mais uma alta anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no início deste mês, os juros dos títulos prefixados do Tesouro Direto engataram no movimento contrário, de desaceleração, deixando para trás os patamares recordes registrados em julho, quando passaram dos 13%. Nesta semana, os juros abriram abaixo dos 12%, sendo negociados nos mesmos níveis atingidos em março deste ano.
Os papéis mais curtos da classe, com vencimento em 2025, iniciaram a semana oferecendo retorno de 11,89% ao ano. Essa diferença de 1,86 ponto percentual entre o juro oferecido pelo papel prefixado curto na segunda-feira (8) e a Selic já era a maior desde o início deste ano, distância essa que só cresceu ao longo da semana. Na disputa de juros atrativos, entra ainda o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que tem oferecido 13,65% de rentabilidade ao ano.
"Quando temos um ciclo de aperto monetário, ou seja, elevação da taxa de juros para um nível que desacelere a inflação, é normal que os prefixados tenham taxas menores, pela expectativa de que os juros serão mais baixos à frente. Isso pode confundir os investidores na hora das aplicações, porque as taxas sempre estão mensuradas em porcentagem ao ano", explica o analista de renda fixa da XP, Pietro Consolaro.
Se vale a pena ou não ficar com um título que paga menos que o CDI e a Selic até 2025, o especialista sugere um meio termo. "A chave é a diversificação. Não conseguimos prever com precisão a trajetória de juros e inflação, mas diversificar a remuneração e os prazos protege os investidores de surpresas".
Ele lembra que a expectativa do mercado é que a taxa Selic inicie uma queda gradual a partir do próximo ano. Com isso, os títulos prefixados podem ser beneficiados no curto prazo. No entanto, se a taxa de juros subir mais e por mais tempo, a depender da pressão inflacionária, os títulos prefixados ficam relativamente em desvantagem aos pós-fixados.
Portanto, a recomendação de Consolaro é que os investidores mais conservadores prefiram ativos pós-fixados, como o Tesouro Selic ou investimentos atrelados ao CDI, por conta do menor risco de volatilidade e atratividade dos juros elevados. Para quem quer se manter nos títulos prefixados de curto prazo, a recomendação é que a alocação seja relativamente baixa, e que essas aplicações sejam levadas até o vencimento.
O analista do Itaú BBA, Lucas Queiroz, alerta que estender o prazo médio da carteira utilizando os títulos prefixados após todo este rali parece ser um toque excessivo de otimismo. "Estamos optando pelo Tesouro IPCA+ 2035 neste momento. Ainda, mantemos a parcela de 60% alocada em Tesouro Selic 2025".
O banco tem uma carteira sugerida de títulos públicos (chamada de Carteira Tesouro Direto) que pode dar retornos de 3% a mais para os investidores que buscam ganhos acima do CDI, em horizontes de 12 meses. Veja abaixo:
Composição da Carteira Tesouro Direto
Título | Classificação | Rentabilidade anual | Peso |
Tesouro Selic 2025 | Pós-fixado | SELIC + 0,0964% | 60% |
Tesouro Prefixado 2025 | Prefixado | 11,95% | 10% |
Tesouro Prefixado 2029 | Prefixado | 12,09% | 5% |
Tesouro IPCA+ 2026 | Indexado à inflação | IPCA + 5,46% | 15% |
Tesouro IPCA+ 2035 | Indexado à inflação | IPCA + 5,89% | 10% |
Para a estrategista-chefe da Órama Investimentos, Sandra Blanco, o que também colabora para a expectativa de queda da taxa é o afrouxamento das pressões inflacionárias nos EUA, que pode fazer com que o Federal Reserve, o BC americano, se abstenha de ficar mais agressivo com aumentos de juros por enquanto.
"Assim, quem comprou esses títulos prefixados com taxa de 13%, ou mais, já pode embolsar esse ajuste de preço, ao redor de 3%. Se embolsar, todavia, assume o risco de reinvestimento. Ou seja, pode ser que não encontre um ativo com taxa semelhante para aplicar os recursos da venda".
Em outras palavras, quem já garantiu prefixados acima dos 13%, pico atingido pela classe há alguns meses, vai ter um retorno de cerca de 3% se não quiser manter o investimento até o vencimento, já que as taxas da classe estão em movimento de queda atualmente (portanto, com preços maiores). Se a ideia é manter o investimento até o vencimento, a taxa de retorno contratada na compra do título é a que permanece.
Blanco recomenda que o investidor "não coloque todos os ovos na mesma cesta". "Tem que estar preparado para as oscilações, pois as incertezas estão no ar, e nos prefixados são mais evidentes. Se não está preparado para grandes emoções, o ideal é carregar mais nos pós-fixados, como o CDI".
Ela completa dizendo que o investidor deve apostar nos prefixados se estiver confiante que o país vai ter um arcabouço fiscal, que o próximo governo vai ser diligente com os gastos públicos, vai investir no desenvolvimento do país e a inflação vai retornar à meta. "Pois qualquer coisa diferente disto, pode mudar a trajetória dos juros", completa.
Vale lembrar que tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço. Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento —, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem já possui os títulos na carteira.