Qual a importância de Ludwig Guttmann para as pessoas com necessidades especiais?

Algumas pessoas que estudam e pesquisam o esporte de maneira ampla, profunda e séria indicaram o documentário ‘Rising Phoenix’ (a versão brasileira é intitulada ‘Pódio para todos’), produzido pela Netflix. Sabia que o documentário tinha como tema principal o esporte paralímpico e fui assistir com uma expectativa alta, devido a indicação feita por pessoas admiráveis que trabalham e pesquisam o esporte. Essa expectativa alta se confirmou e foi além... dos inúmeros documentários que já assisti sobre esporte, sem dúvida nenhuma, está entre os melhores, quiçá seja até o melhor.

Não pretendo fazer uma resenha do documentário e tentarei evitar ao máximo os spoilers. No entanto, é importante que o leitor saiba da importância que essa produção tem e terá para o esporte paralímpico, inclusive como ferramenta educacional de transformação da sociedade, além de salientar que a gestão tem um papel fundamental para que isso ocorra. Resumidamente, o documentário conta com a participação de atletas e dirigentes que participaram dos últimos Jogos Paralímpicos. Os atletas contam as suas experiências pessoais, como funciona a preparação e o treinamento para se manter no alto rendimento e da importância que o esporte paralímpico tem para a sociedade em geral. Já os dirigentes contam sobre as dificuldades de gerir o movimento paralímpico e de que maneira eles encontram soluções para superar os constantes desafios que aparecem.

Antes de continuar discorrendo acerca do documentário, gostaria de esclarecer algumas questões sobre o esporte paralímpico e sobre o termo pessoa com deficiência. Historicamente, as pessoas com deficiência viveram a margem da sociedade por vários motivos, dentre eles a ignorância da população que tinha, ou ainda tem, um preconceito sem justificativa em relação a diversidade. Até a década de 1930, as pessoas com deficiência eram consideradas pessoas que não tinham futuro e que viviam com uma baixa qualidade de vida. Esse status quo começou a mudar durante a segunda guerra mundial, quando o neurologista alemão Ludwig Guttmann começou a utilizar o esporte como tratamento de reabilitação para soldados ingleses que voltavam da guerra com severas lesões. Guttmann, que era judeu, teve que fugir da Alemanha quando os nazistas estavam no poder. A Inglaterra concedeu o refúgio, e lá ele trabalhou no Centro Nacional de Traumatismos na cidade de Stoke Mandeville, onde implementou o esporte como tratamento de reabilitação e, em consequência disso, acabou criando os esportes paralímpicos, que teve sua primeira competição oficial em 1948, no mesmo dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. Em relação ao termo pessoa com deficiência (PcD), ainda vejo muitas pessoas utilizando os termos anteriores ‘pessoa com necessidades especiais’ ou ‘pessoa portadora de necessidades especiais’. Desde 2010, o termo correto e que está na legislação da Secretaria de Direitos Humanos Nº 2344, é pessoa com deficiência, seguindo a tendência mundial, que em espanhol é persona con discapacidad e em inglês que é person with a disability.

Voltando ao documentário, que eu não canso de elogiar, pois é daqueles que fazem você ver o mundo de uma outra ótica, justamente porque fica claro como o esporte paralímpico é importante para a sociedade. Uma das maiores virtudes do esporte paralímpico é fazer com que a população ignorante em relação ao tema consiga entender e ver o esporte paralímpico da forma que ele é de verdade. O esporte paralímpico é performance, é cultura, é superação, é história, é emoção e é competição de alto nível. E agora que eu chego na parte da gestão propriamente dita. Sem uma gestão adequada os eventos esportivos não acontecem e por muito pouco os Jogos Paralímpicos Rio 2016 não aconteceram. Faltando apenas seis semanas para o começo do evento, os organizadores dos Jogos Paralímpicos foram informados que não havia mais dinheiro, pois o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos havia gastado tudo nas Olímpiadas. Uma situação no mínimo revoltante. Os atletas paralímpicos ficaram devastados com a possibilidade real dos Jogos não acontecerem, mas os gestores Andrew Parsons, Xavier Gonzalez e Philip Craven conseguiram, com muita competência, e após várias negociações, os recursos necessários para que o evento ocorresse, através de uma liberação de verba por parte do governo federal.

Há algumas semanas, o canal Gestão em Jogo entrevistou a pesquisadora Jaqueline Patatas, referência na área da gestão do esporte paralímpico no Brasil. Nessa entrevista, ela ressaltou que o interesse pelo esporte paralímpico vem crescendo bastante a nível nacional e internacional, mas que o número de pesquisas acadêmicas na área é baixo e que ainda há muito a ser descoberto. Também falou que o Comitê Paralímpico Brasileiro vem fazendo um bom trabalho na parte da gestão, com bastante transparência e foco na formação de profissionais competentes para trabalhar com o esporte paralímpico. Para mais informações acessem o site do Comitê Brasileiro e do Comitê Internacional.

Que o esporte é uma ferramenta de transformação social não há dúvidas. O esporte paralímpico não é diferente e, quando bem trabalhado, vai além, sendo uma ferramenta de evolução da civilização, pois elimina ignorância e cultiva a diversidade, Cito uma frase do CEO do International Paralympic Committe, Xavier Gonzalez: “Nos Jogos Olímpicos, os atletas se tornam heróis; e nos Jogos Paralímpicos, os heróis já são os atletas que competem”. Para que esses heróis continuem transformando vidas para melhor através do esporte é necessária também uma gestão em nível de excelência. Isso é o que queremos. Curtam e sigam o nosso canal Gestão em Jogo em todas as plataformas digitais (Instagram, Facebook, Twitter, YouTube, Spotify e Linkedin).

Roger Luiz Brinkmann

Autor do livro ‘Personagens históricos da Copa Libertadores’

Mestrando em Ciências do Programa de Educação Física e Esporte da USP

Membro do Grupo de Pesquisa em comunicação e marketing esportivo (GEPECOM) da USP

Bolsista CNPQ

Quem foi Ludwig Guttmann e qual a sua importância para as Paralimpíadas?

Ludwig Guttmann (Toszek, 3 de julho de 1899 - 18 de março de 1980) foi um neurologista alemão que criou os Jogos Paraolímpicos e é um dos pioneiros no uso do esporte para reabilitação física de pessoas portadoras de deficiência.

Qual era a finalidade de Ludwig Guttmann com seus pacientes?

De acordo com artigo do cardiologista Lauro Arruda, publicado no site do Hospital do Coração, de São Paulo, Guttmann estudava e ajudava as pessoas que ficavam presas a camas ou cadeiras e que em três anos chegaram a um índice de mortalidade de 18% por conta de escaras, infecções ou de depressão.

O quê Ludwing atestou de seus pacientes?

Ludwig Guttmann atestou que boa parte de seus pacientes morria um ano após sofrer as lesões, a maioria delas na coluna vertebral, deixando-os paraplégicos ou tetraplégicos.

O que foi criado em 1948 por Ludwig Guttmann?

Era conduzida pelo médico alemão Ludwig Guttmann, que decidiu implantar práticas esportivas como ferramenta de reabilitação dos pacientes. A partir de 1948, ele estabeleceu uma competição que ficou conhecida como Stoke Mandeville Games.

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