3 quais as características do produto que afetam a contaminação microbiana

Neste artigo, Cláudio Hirai, Farmacêutico-Bioquímico, membro da Farmacopeia Brasileira do Comitê Técnico Temático de Microbiologia, membro da American Society of Microbiology e autor de diversas publicações em revistas científicas, discorre sobre a contaminação microbiana de produtos farmacêuticos.

Além da patogenicidade e da possibilidade de trazer riscos para a saúde do consumidor, ela pode também causar mudanças no aspecto físico, na cor e odor do produto, tais como quebra na emulsão, separação dos cremes e pomadas, fermentação com formação de gases, turbidez ou depósito e diversas outras, consequentemente, os produtos farmacêuticos orais e tópicos (cápsulas, comprimidos, suspensões, cremes), que não são estéreis, devem ser submetidos aos controles da contaminação microbiana.

Durante o decorrer dos anos são inúmeros os trabalhos publicados com relatos destas Ocorrências.

Um artigo muito interessante publicado teve como título “Revisão dos recalls envolvendo o controle microbiológico do período de 2004 a 2011 com ênfase nas considerações do FDA sobre microrganismos condenados”. Ele foi publicado no American Pharmaceutical Review de janeiro de 2012. De autoria de Scott Sutton e Luis Jimenez, o artigo mostra a análise de 642 ocorrências de recall no período de 2004 a 2011.

A análise realizada por eles detectou um aumento significante de recalls por motivos de contaminação microbiana. Deste total, 2% corresponderam a suplementos alimentares e probióticos, 7% a produtos cosméticos, 26% a produtos farmacêuticos e OTCs e os artigos para a saúde a 65% do total. Ainda segundo os autores, este índice pode não estar refletindo a verdade, visto que a exigência para os testes microbiológicos é recente, bem como a adoção das Boas Práticas de Fabricação por parte destas empresas.

Com relação ao recall devido à Falta de Garantia de Esterilidade do Produto, a maioria delas foi resultante de problemas de embalagem, tais como selagem inadequada da embalagem primária, problemas de transporte, esterilização incompleta, componentes não estéreis adicionados à fórmula etc. Foram poucos os casos de recall devido à contaminação microbiana.

A Falta de Garantia de Esterilidade significa que existe um problema potencial com o produto ou a sua embalagem, ou que o produtor não pode garantir que o produto foi produzido sob controle.

Com relação aos medicamentos não estéreis foram 142 recalls, sendo que 77 casos foram devido à contaminação por Bacilos Gram Negativos, 23 à presença de bolores e leveduras e, em três casos, devido à presença de Cocos Gram positivos.

Nos casos de contaminação por Bacilos Gram Negativos, a Burkholderia cepacia apareceu em 34% dos casos. Nos anos 80, a contaminação de um medicamento de uso inalatório pelo microrganismo causou a morte de inúmeros pacientes com fibrose cística.

Neste relatório, 15% dos recalls de produtos não estéreis cita somente a contaminação microbiana como causa do recolhimento. Cita-se também a presença do Bacillus cereus devido ao isolamento do mesmo em preparações para assepsia para uso em punção venosa.

A Burkholderia cepacia é um microrganismo Gram negativo aeróbico encontrado em vários ambientes, especialmente em águas, líquidos e ambientes úmidos, existem vários relatos com isolamento do mesmo em soluções parenterais, de irrigação, parenterais intravenosos etc.

É um patógeno oportunista, porém pode colonizar ou infectar o trato respiratório de pacientes com fibrose cística, também é isolado ocasionalmente em infecções relacionadas ao uso de cateteres em pacientes oncológicos em hemodiálise.

Casos de infecções hospitalares tendo como agente causador a B. cepacia têm sido descritos; infecções de pele, de tecidos moles e infecções pós-cirúrgicas relacionadas ao microrganismo são também objeto de descrições de casos.

Artigos relacionados, escritos pelo mesmo autor:

A contaminação microbiana por Cocos Gram positivos

Os bacilos Gram negativos da família Enterobacteriaceae

Contaminação microbiana por Pseudomonas

Controle microbiológico da nutrição parenteral

Pesquisa de micro-organismos patogênicos

Validação da limpeza e esterilização em equipamentos médicos

Micro-organismos probióticos

Carga microbiana das formulações orais sólidas

3 quais as características do produto que afetam a contaminação microbiana
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Neste post, serão abordadas as principais formas de contaminação, além de uma visão geral do assunto. Serão discutidos dados importantes e informações relevantes para a melhor compreensão do tema.

Para facilitar a compreensão do assunto, o post foi dividido em três tópicos principais:

  • Contaminação Biológica;
  • Contaminação Química;
  • Contaminação Física.

Estima-se que 600 milhões de pessoas adoecem e 420 mil pessoas morrem por causa de infecções alimentares todos os anos e esse dado pode ser considerado alarmante. Crianças com menos de 5 anos de idade representam 40% dos afetados por doenças relacionadas a contaminação de alimentos, com 125 mil mortes todo ano.

Existem três principais formas de contaminação que podem ocorrer na indústria de alimentos:

  • Contaminação Biológica: Ocorre devido a substâncias produzidas por organismos vivos – humanos, roedores, microrganismos. Isso inclui contaminação bacteriana, viral, ou parasitária, que pode ocorrer através de sangue, saliva ou fezes.
  • Contaminação Química: Ocorre em alimentos contaminados por algum tipo de substância ou reagente químico. Há também químicos que ocorrem naturalmente em alimentos, como toxinas em peixes e, em alguns casos, não levam a desenvolvimento de sintomas clínicos.
  • Contaminação Física: Refere-se a alimentos que tenham sido contaminados por algum objeto ao longo do seu processo de produção ou pelo produto de uma reação física com outros compostos.

Contaminação Biológica

Este grupo é representado, majoritariamente, por bactérias, fungos, parasitas e vírus, além de suas possíveis toxinas produzidas, sendo a maioria das contaminações causadas pelos dois primeiros micro-organismos citados. Para saber mais sobre as doenças causadas por esses agentes, você pode conferir o nosso texto sobre o assunto clicando neste link aqui.

Anualmente milhões de pessoas sofrem por infecções alimentares resultantes de bactérias, como Salmonella, E. coli enterohemorrágica (EHEC) e Campylobacter. Essas infecções podem vir a causar febre, dores de cabeça, náusea, vômitos, dores abdominais, diarreia, debilitação e até morte.

Algumas bactérias, como a Listeria – que pode ser encontrada, em produtos cárneos e lácteos, assim como em uma série de alimentos “prontos para o consumo” e pode crescer sob refrigeração – pode vir a causar abortos não planejados em mulheres grávidas ou a morte do recém-nascido.

Vibrio cholerae, responsável pela cólera, infecta seres humanos por meio de água ou alimentos contaminados. Sintomas incluem dores abdominais, vômitos, diarreia, que pode levar a uma desidratação severa e possível morte. Arroz, vegetais e diversos tipos de frutos do mar já foram responsáveis por surtos de cólera.

Já as Micotoxinas são compostos tóxicos produzidos por diferentes fungos, principalmente os do gênero Aspergillus, Penicillium e Fusarium através de alimentos contaminados ou plantações contaminadas (principalmente cereais).

A presença dessas toxinas em alimentos pode afetar a saúde humana e animal, já que algumas delas estão ligadas a diversas adversidades, como câncer, mutagênese, desordens gastrointestinais, renais e estrogênicas e atividades imunossupressoras, reduzindo a resistência do indivíduo a outras doenças infecciosas.

Outros causadores de contaminações importantes de salientar são os vírus, como o vírus da hepatite A, que pode causar doenças de fígado de longa duração e se espalha, tipicamente, através de frutos do mar crus ou mal cozidos, como na maioria das outras contaminações por micro-organismos.

Os parasitas, como por exemplo tênias (Echinococcus spp ou Taenia solium), que podem infectar pessoas através de alimentos ou do contato direto com animais.

Os príons, agentes proteicos infecciosos, associados diretamente com doenças neurodegenerativas e que podem ser transmitidos pelo consumo de produtos bovinos contendo materiais de risco, como tecido cerebral.

Contaminação Química

Alguns compostos químicos podem ser pouco biodegradáveis, assim como totalmente incapazes de serem degradados. Esse fato os torna agentes altamente perigosos quando o assunto é contaminação ambiental e alimentar por meio do seu acúmulo na cadeia trófica.

Certos agrotóxicos apresentam essa incapacidade de degradação e acabam causando diversos problemas de saúde. Teste em animais mostram a sua relação com defeitos e anomalias em neonatais, desregulação endócrina, obesidade, entre muitas outras doenças já relatadas.

Um relatório publicado no site oficial da ANVISA mostra um levantamento de amostras com potencial de causar riscos agudos após ingestão para os anos de 2013 a 2015. Vinte e cinco produtos foram analisados, sendo que um quinto mostrou níveis acimas dos normais em mais de 1% das amostras, destaque para a laranja que chegou a 12,1% das amostras coletadas.

Elementos como arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio são alguns dos metais presentes naturalmente no solo, na água e na atmosfera. A exposição a esses elementos químicos por meio da ingestão de alimentos ou água contaminada acarreta a sua acumulação no corpo e pode levar a diversos problemas, incluindo o dano de órgãos sensoriais, osteoporose, doenças cardiovasculares e até o desenvolvimento de câncer.

Contaminação Física

A partir de reações físicas, alguns produtos químicos tóxicos podem ser produzidos, por isso é muito importante manter atenção aos modos de produção dos alimentos.

Um exemplo é a acrilamida, um composto com provas fortes do seu potencial carcinogênico e que se forma naturalmente em alimentos com amido, durante a assadura, fritura e o processamento industrial em alta temperaturas e baixa umidade.

A acrilamida é produzida a partir de diferentes açúcares e aminoácidos, podendo estar presente em diferentes alimentos, como batatinhas, batatas fritas, pães, biscoitos e café.

Outro composto derivado de tratamentos em altas temperaturas é o furano. Presente em grãos de café e comidas pré-prontas para bebês, tem potencial para causar câncer de fígado, mas mais estudos ainda precisam ser realizados para avaliar seu efeito carcinogênico em humanos.

O espectro que abrange as maneiras por meio das quais pode ocorrer a contaminação de alimentos é imenso. Independente do agente responsável pela contaminação, seja ele químico, físico ou biológico, o impacto causado por um eventual descuido pode ser grave, tanto na saúde individual como na coletiva.

Tendo em mente essas informações, torna-se mais clara a importância da cautela que se deve ter durante a manipulação de alimentos, a fim de evitar problemas provenientes de quaisquer das contaminações existentes.

Referências

Bakhiya N. and Appel K.E., “Toxicity and carcinogenicity of furan in human diet.”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20237914

Luevano J. and Damodaran C., “A Review of Molecular Events of Cadmium-Induced Carcinogenesis”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4183964

Tellez-Plaza M. et al., “Cadmium Exposure and Clinical Cardiovascular Disease: a Systematic Review”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3858820

James K.A. and Meliker J.R., “Environmental cadmium exposure and osteoporosis: a review.”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23877535

Darbre P.D., “Endocrine Disruptors and Obesity”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28205155

Araujo J.S. et al., “Glyphosate and adverse pregnancy outcomes, a systematic review of observational studies.”, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27267204

World Health Organization, disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs399/en

Agência Nacional de Vigilância Sanitária, “Divulgado relatório sobre resíduos de agrotóxicos em alimentos”, disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/divulgado-relatorio-sobre-residuos-de-agrotoxicos-em-alimentos/219201?%0AinheritRedirect=false

European Food Safety Authority, “Contaminants in food and feed”, disponível em: http://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/contaminants-food-and-feed

European Food Safety Authority, “Europe-Wide Monitoring of Contaminants in the Food Chain”, disponível em: https://i.pinimg.com/564x/45/05/79/450579fb4c6f1c4e4a527bd349700d55.jpg

Quais as características do produto que afetam a contaminação microbiana?

As fontes de contaminação microbiana podem ser agrupadas em fontes diretas, tais como matérias-primas, água, materiais de embalagem; e indiretas, como os equipamentos, ambiente e operadores. A qualidade microbiana do produto final pode depender amplamente da qualidade das matérias-primas (fármacos e excipientes).

Quais são as principais fontes de contaminação microbiana dos alimentos?

Ar poluído, água contaminada e utensílios mal higienizados são as principais fontes contaminantes dos alimentos.

Quais as fontes de contaminação microbiana?

Quais são os principais tipos de contaminação?.
Biológica. A contaminação biológica se refere aos alimentos contaminados por microrganismos patogênicos ou substâncias que eles produzem. ... .
Química. ... .
Física. ... .
Cruzada. ... .
Ovos. ... .
Carnes. ... .
Laticínios. ... .

Como ocorre a contaminação microbiana?

A contaminação dos alimentos pode ocorrer através da forma inapropriada de preparação, armazenamento ou manipulação dos alimentos e no próprio ambiente onde são produzidos, sendo que a maioria dos microrganismos pode ser destruída através das boas práticas de higiene e fabricação e práticas adequadas de manipulação e ...