A cura dentro de si mesmo carl rogers pagina

Por: Denise Raissa Lobato Chaves | Psicóloga.

O desejo de mudança é parte da nossa existência e, muitas das vezes, é necessário suporte psicológico para que aconteça de forma saudável.

Por que sinto vontade de mudar?

Em alguns momentos, nós podemos sentir que não possuímos suporte emocional para lidar com algumas situações na vida, principalmente ao enfrentar experiências que envolvem problemas, conflitos, perdas, estresse entre outras. O sentimento de não conseguir dar conta de algo se apresenta como uma possibilidade para refletir sobre os motivos que o influenciam e, de forma alguma, implica em fraqueza ou incompetência. Quando se tem essa percepção de si mesmo, muitas pessoas têm vontade de mudar, realizar uma mudança na forma como vê, como lida com a vida e com as pessoas.

Eu sou o que penso, julgo, valorizo, acredito, espero, temo, detesto, acredito… E esses aspectos podem mudar no decorrer da vida

A mudança é um processo comum da natureza humana, afinal, não há uma pessoa “verdadeira”, “fixa” e “acabada” dentro de nós, estamos sempre em processo de mudança. Existem características que percebemos como nossas e elas são compostas pelo que pensamos, sentimos, valorizamos, acreditamos, etc. E estes aspectos estão suscetíveis a mudarem conforme passamos por experiências durante a vida, portanto, a mudança é parte da nossa existência e há momentos mais críticos em que percebemos a necessidade de mudar e, assim pode surgir esta vontade mudar a si mesmo.

A mudança implica dizer que a pessoa busca mudar algumas coisas em si mesma que acredita estar lhe causando algum mal-estar e dificuldades, sejam elas relacionais, emocionais e outras. Por exemplo, alguém com uma baixa autoestima tem muitas dificuldades de se relacionar com as pessoas e se sentir importante no seu trabalho, em algum momento esta pessoa percebe a sua condição e passa a sentir vontade de mudar sua autoestima para se sentir bem, com mais motivação e mais segurança para lidar com outras pessoas.

Como a psicoterapia pode ajudar?

O psicólogo pode ajudar a partir psicoterapia, ao oferecer uma relação terapêutica a qual a pessoa se sinta aceita e compreendida, e assim, sentir mais confiança e autonomia para falar e lidar com seus problemas. Na psicoterapia, o psicólogo ajuda a pessoa a perceber melhor seus sentimentos e comportamentos, possibilitando que consiga encontrar, buscar e escolher outras formas de ser, de pensar sobre si mesma e sobre outros elementos que circundam sua vida.

Algumas pessoas que passam por momentos difíceis e não se sentem em condições de lidar com seus problemas podem encontrar suporte na psicoterapia. A relação com o psicólogo é momentânea e termina quando a pessoa tem condições de caminhar sozinha, sem necessitar tanto de suporte psicológico e consiga encarar seu processo de mudança de forma mais natural. O objetivo da psicoterapia é favorecer a autonomia para que a pessoa prossiga em condições mais saudáveis.

E você, sente que precisa mudar?

Por: Juliana Crespo Lopes | Psicóloga, Pedagoga, Dra. Em Desenvolvimento Humano e Educação.

Ser uma ludoterapeuta de crianças autistas significa ser psicóloga de crianças. Essa frase resume o que vou tentar provocar você neste curto texto.

A ACP é centrada em pessoas e não em diagnósticos portanto, não é diferente quando se trata de uma pessoa autista. Ela é pessoa, ainda de mais nada. Sendo assim, não existem fórmulas prontas ou protocolos a serem seguidos. Ainda assim, a criança em questão é autista e esse fato precisa ser tratado com respeitado e cuidado. Usei dois verbos bem intencionais, que explicarei melhor a seguir:

Ser uma ludoterapeuta de crianças autistas significa ser psicóloga de crianças.

Respeitar a pessoa autista e o autismo significa não buscar curas, uma vez que não é uma doença. Significa que um ludoterapeuta acepista não deve buscar tornar essa criança mais adaptável ao mundo. Deve contribuir para seu pleno desenvolvimento, favorecendo a autonomia e as diferentes habilidades, mas respeitando suas singularidades e especificidades.

Quando falo em adaptável, quero dizer sobre a ideia da pessoa ser “funcional” ou “parecer pouco autista”. Essas duas práticas são de violência contra os sujeitos, ao invés de respeitar seu jeito de ser e buscar proporcionar uma vida com qualidade.

Respeitar a pessoa autista e o autismo significa não buscar curas, uma vez que não é uma doença. Significa que um ludoterapeuta acepista não deve buscar tornar essa criança mais adaptável ao mundo.

Sobre o cuidado, ao contrário de menosprezar capacidades e ter atitudes capacitistas, é importante que um ludoterapeuta acepista tenha um olhar de cuidado a respeito de algumas questões que podem ser desconfortáveis para crianças autistas.

Algumas vezes pode ser um estímulo sensorial difícil de se lidar, outras vezes pode ser forçar uma situação que não cabe. Esse cuidado se relaciona a enxergar a criança autista em todos os seus aspectos; seus interesses e suas demandas; suas dificuldades e suas facilidades.

… é importante que um ludoterapeuta acepista tenha um olhar de cuidado a respeito de algumas questões que podem ser desconfortáveis para crianças autistas.

Trabalhar com crianças autistas nos abre uma nova possibilidade de enxergar e lidar com o mundo. De respeitar todas as pessoas, de entender de maneira concreta o que é a prática clínica e escolar da ACP: a partir dos interesses e das demandas de cada pessoa, caminhar junto para ajudar a promover seu melhor desenvolvimento.

Todas as pessoas têm a possibilidade de crescer e isso não é diferente para as crianças autistas. Não existem barreiras, e sim aspectos que precisamos olhar com atenção e trabalhar de forma individualizada, com respeito e acolhimento.

No post anterior “Comunicação Centrada na Pessoa – parte 1”, enfatizei a consideração de Carl Rogers sobre a relação estreita entre comunicação e psicoterapia. Neste texto, gostaria de elucidar os atributos de uma comunicação centrada na pessoa.

Inicialmente, Rogers* destaca duas barreiras que impendem a comunicação interpessoal.

Uma, é a tendência natural para julgar, avaliar, aprovar ou desaprovar as afirmações de outra pessoa ou de outro grupo. Neste sentido, a reação primária da pessoa é a de apreciar o que foi dito a partir do seu ponto de vista, o seu quadro de referências (do seu jeito de ser).

A outra, são as situações que envolvem fortes sentimentos e emoções – quanto mais intensos forem – minam com maior facilidade elementos comuns na comunicação. Então, nestas situações, haverão uma dualidade de ideais, de sentimentos, de juízos, cada um de seu lado no espaço psicológico.

…a reação primária da pessoa é a de apreciar o que foi dito a partir do seu ponto de vista, o seu quadro de referências (do seu jeito de ser).

Rogers afirma que a tendência para reagir a qualquer afirmação carregada de emotividade fazendo uma apreciação a partir do nosso próprio ponto de vista é a maior barreira à comunicação interpessoal.

E como transpor esta barreira?

Aprendemos por meio da relação psicoterapêutica que atitudes são mais importantes do que técnicas para o estabelecimento de uma boa comunicação, a que conecta as pessoas.

Mas, de quais atitudes me refiro?

Basicamente de uma atitude de compreensão empática. Esta atitude nos permite aproximar da experiência da pessoa, e apreender o seu quadro de referência interna em relação àquilo que ela está falando. É uma compreensão com a pessoa, não sobre a pessoa.

E, se junto desta atitude compreensiva, uma atitude de autenticidade e uma atitude respeitosa estiverem presentes em graus suficientes na relação, então, um ambiente psicológico favorável à boa comunicação está sendo construído.

Aprendemos por meio da relação psicoterapêutica que atitudes são mais importantes do que técnicas para o estabelecimento de uma boa comunicação, a que conecta as pessoas.

No entanto, este não é um processo fácil. Para estabelecer um processo de comunicação centrada na pessoa é necessário superar obstáculos: é preciso coragem.

Para finalizar, creio que uma comunicação centrada na pessoa ajuda a estabelecer uma compreensão recíproca, uma comunicação mútua e torna muito mais possível um determinado tipo de acordo. Este tipo de abordagem provoca uma maior aceitação de uns pelos outros e contribui para atitudes que são mais positivas e suscetíveis de conduzirem a soluções.

Definindo deste modo, cria-se uma interessante oportunidade para abordarmos o problema de maneira inteligente ou, se for em parte insolúvel, será aceito com mais tranquilidade.

* Rogers, Carl (2009). Tornar-se pessoa. 6ª. ed. São Paulo: Martins fontes.

Desde que comecei a atuar como psicólogo clínico percebi a importância da comunicação na relação terapêutica ou em qualquer outro tipo de relação de ajuda. Ao entrar em contato com os trabalhos do psicólogo norte americano Carl Rogers fui me interessando por este tema tão caro a nós psicólogos e psicoterapeutas.

Praticamente, em todas as fases dos trabalhos de Carl Rogers – em sintonia com o desenvolvimento da Abordagem Centrada na Pessoa – seja no campo da psicoterapia, da educação ou dos trabalhos com grupos, a comunicação sempre esteve relacionada em maior ou menor grau. Talvez, Rogers seja um dos principais psicólogos que contribuíram sobre a relação existente entre comunicação e psicoterapia.

E esta relação é bastante estreita. Segundo Rogers*, todo o trabalho da psicoterapia se refere a uma falha na comunicação. A pessoa emocionalmente desorganizada, tem dificuldades, em primeiro lugar, porque rompeu a comunicação consigo própria e, em segundo lugar, porque, como resultado desta ruptura, a comunicação com os outros se viu prejudicada.

… todo o trabalho da psicoterapia se refere a uma falha na comunicação.

Enquanto isso acontecer, continua Rogers, dão-se distorções na forma de comunicação entre a pessoa e os outros, sofrendo ela assim tanto no interior de si mesma como nas relações interpessoais.

A função da psicoterapia é ajudar a pessoa a realizar, por meio de uma relação especial com a terapeuta, uma comunicação perfeita consigo mesma. Uma vez isso efetuado, ela é capaz de se comunicar de um jeito mais livre e eficaz com os outros.

Podemos, portanto, dizer que a psicoterapia é uma boa comunicação no interior da pessoa e entre pessoas. Podemos também inverter a afirmação e ela continua verdadeira. Uma boa comunicação, uma comunicação livre, dentro ou entre pessoas, é sempre terapêutica.

Podemos, portanto, dizer que a psicoterapia é uma boa comunicação no interior da pessoa e entre pessoas. Podemos também inverter a afirmação e ela continua verdadeira. Uma boa comunicação, uma comunicação livre, dentro ou entre pessoas, é sempre terapêutica.

Neste sentido, se for possível caracterizar o estilo de comunicação desenvolvido por Carl Rogers, não me arriscaria em afirmar sobre uma comunicação centrada na pessoa. Mas, sobre isso, falarei em uma próxima publicação.

* Rogers, Carl (2009). Tornar-se pessoa. 6ª. ed. São Paulo: Martins fontes.

No post anterior, “Clínica da urgência psicológica – parte 1”, fiz uma breve reflexão conceitual sobre o tema. Neste post, pretendo refletir o seu sentido prático de intervenção.

Então vejamos: se a pessoa deu entrada em um hospital; se a pessoa recebeu uma notícia sobre o falecimento de um familiar; se a pessoa foi agredida física e/ou psicologicamente; se a pessoa sofreu impactos de um acidente ou desastre; se a pessoa terminou um relacionamento afetivo; se a pessoa foi demitida do emprego que necessitava; se a pessoa desconfia de uma traição ou foi traída; se a pessoa está sob estresse elevado; ou quando a pessoa chega no consultório — precisamos estar atentos ao primeiro contato com esta pessoa, porque ele é crucial dentro de uma perspectiva de cuidado em saúde mental – da urgência psicológica.

Existem muitas pesquisas que comprovam a potência do primeiro contato/encontro entre a psicóloga e a pessoa em sofrimento. O impacto positivo em sua saúde. Podemos afirmar que o processo da urgência psicológica é rico de elaboração quando acolhido, compreendido, ouvido realmente.

Podemos afirmar que o processo da urgência psicológica é rico de elaboração quando acolhido, compreendido, ouvido realmente.

Estar voltada prioritariamente para a urgência, e não para a mudança de personalidade (ou processos considerados profundos), desloca a intervenção da psicóloga para o momento da experiência (para o centro da pessoa; para a originalidade do encontro), e possibilita que a pessoa se atualize em seu movimento interno de forma genuína. Isso ajudaria a pessoa a entrar em contato com a sua urgência com mais inteireza. No entanto, são poucas as pessoas que possuem esta oportunidade; e profissionais preparados para tal intervenção/contato/encontro – facilitação.

A potência existente neste momento único cria muitas possibilidades de cuidados: psicoterapia, procura por auxílio médico, autocuidado, e outros tipos de suportes. Tem casos em que a pessoa se sente contemplada em sua urgência com apenas uma conversa com a psicóloga.

O que gostaria de enfatizar é a consciência sobre a importância do primeiro contato ou dos atendimentos pontuais — a presença — que coloca a psicóloga como uma facilitadora da promoção da saúde (mental).

Estar voltada prioritariamente para a urgência, e não para a mudança de personalidade (ou processos considerados profundos), desloca a intervenção da psicóloga para o momento da experiência (para o centro da pessoa; para a originalidade do encontro)

Como podemos ver, a clínica da urgência psicológica oferece uma proposta de intervenção condizente com as crescentes demandas complexas da sociedade. Acredito que estas novas demandas sejam o motivo pelo qual dispositivos com atendimento psicológico único ou pontual, presencial ou virtual – o plantão psicológico – têm crescido e ganhado a atenção da comunidade científica, das organizações e dos próprios usuários dos serviços.

Gostaria de compartilhar breves reflexões sobre a clínica da urgência psicológica.

Junto da minha parceira e amiga Márcia Tassinari, iniciamos o desenvolvimento destas reflexões no XII Fórum Brasileiro da Abordagem Centrada na Pessoa, setembro/2017, em Maringá. E em 2019, organizamos e lançamos o livro: Plantão e a clínica da urgência psicológica.

Este conceito foi exposto pela primeira vez na tese de doutorado de Tassinari, onde esboça a incompletude dos tratamentos psicoterápicos e aponta o Plantão Psicológico como uma possibilidade fértil para acolher a urgência da pessoa.

O que entendemos por clínica da urgência psicológica?

Primeiro, é uma abordagem com atributos terapêuticos que pretende atender a urgência da pessoa a partir do momento em que se manifesta. É o contato/encontro inicial com a pessoa nesta condição. Segundo, a urgência é o resultado de um processo crônico ou abrupto que ocorre na experiência interna da pessoa. Quando esta urgência emerge ultrapassando o limiar do suportável, a pessoa vivencia um alto grau de desorganização.

É uma abordagem com atributos terapêuticos que pretende atender a urgência da pessoa a partir do momento em que se manifesta.

Comumente esta desorganização psicológica provoca na pessoa sensações e/ou percepções de vulnerabilidade, ansiedade ou medo. Digamos que, o seu poder pessoal está subjugado (pelas incertezas), com o aumento significativo da incongruência entre a experiência e a consciência.

Temos aprendido que atender as urgências psicológicas quando do seu surgimento é considerar o cuidado em saúde mental desde o primeiro momento da intervenção. Porque, nestas ocasiões, o que está em jogo não é uma mudança de personalidade, mas estar atento ao momento de sofrimento da pessoa.

Temos aprendido que atender as urgências psicológicas quando do seu surgimento é considerar o cuidado em saúde mental desde o primeiro momento da intervenção.

Neste sentido, a modalidade de atendimento chamada de plantão psicológico representa na prática estes princípios da clínica da urgência psicológica.

Por: Taciane Castelo Branco Porto | Ludoterapeuta Fenomenológico-Existencial

A comunicação com a criança através dos livrinhos de histórias infantis é um meio que facilita entender o seu mundo interno, assim como o brinquedo e a brincadeira são a linguagem natural da infância.

A criança contemporânea não é a mesma da modernidade. Importante reinventarmos a nós mesmos psicoterapeutas infantis para compreendermos esta criança de hoje.

A criança contemporânea não é a mesma da modernidade. Importante reinventarmos a nós mesmos psicoterapeutas infantis para compreendermos esta criança de hoje.

Tempo novo, criança nova também!

A relação terapêutica, em toda a sua estrutura, necessita o resgate de um recurso antigo, porém significativo na estruturação de um eu autônomo e com forças: a literatura. A leitura no lugar da tecnologia dos jogos, da internet, do vídeo game.

“Para que uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isto. É que elas têm o poder de transfigurar o cotidiano. Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto angústias e medos ficam mais mansos. Claro que são para crianças. Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão.” (Rubem Alves)

Considerando a história infantil um recurso capaz de aproximar ludoterapeuta e cliente, interessei-me em estudar seu relato no processo psicoterapêutico com crianças.

O que acontece, no processo ludoterápico da Abordagem Centrada na Pessoa, com o relato de histórias infantis? Parti da hipótese de que a história infantil constitui um recurso com características facilitadoras do processo ludoterapêutico na Abordagem Centrada na Pessoa, assim como, comprovadamente, o brinquedo o é, ao servir de meio para a expressão de sentimentos da criança.

… a história infantil constitui um recurso com características facilitadoras do processo ludoterapêutico na Abordagem Centrada na Pessoa, assim como, comprovadamente, o brinquedo o é, ao servir de meio para a expressão de sentimentos da criança.

Trabalho desde 1998 com atendimentos clínicos, como psicoterapeuta, e acredito que além do brinquedo existem outros recursos que possam facilitar o encontro genuíno com cada criança que procura nossa ajuda.

Minhas preocupações me conduzem a pesquisar mais sobre as mudanças que podem ocorrer na criança exposta à leitura de livros infantis.

É um trabalho de construção, tijolo a tijolo, somando as atitudes do ludoterapeuta com os recursos lúdicos. Avante conosco!

No post anterior “o processo de tornar-se terapeuta” discorri sobre alguns pontos que considero importantes para o desenvolvimento de psicoterapeutas. Entre eles, a supervisão clínica, tem um lugar de destaque.

A supervisão clínica numa perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) está para além de uma avaliação sobre os atendimentos. Não é uma avaliação sobre o que está certo ou errado. E muito menos para ensinar sobre um modelo infalível de intervenção. Talvez o termo supervisão não seja o mais apropriado.

Entendo que a supervisão clínica na ACP é uma experiência de aprendizagem (aprender a compreender; aprender a ser-com) na qual os envolvidos realizam uma compreensão não somente sobre o atendimento, mas, sobretudo, como se vivencia as relações e dos desafios que envolvem a sua atividade profissional. Resumindo, o que está em jogo na supervisão clínica é a possibilidade da psicoterapeuta descobrir ou aperfeiçoar o seu estilo de ser terapeuta, como diz o professor Rogério Buys.

… o que está em jogo na supervisão clínica é a possibilidade da psicoterapeuta descobrir ou aperfeiçoar o seu estilo de ser terapeuta.

O educador Paulo Freire considerava que sem uma reflexão sobre a prática não haveria uma aprendizagem significativa. Neste sentido, o psicoterapeuta que não negligencia a experiência da supervisão clínica se apropria do seu processo de tornar-se terapeuta de uma forma mais autêntica e ética.

Além disso, a riqueza da supervisão clínica está no fato dela propiciar aos envolvidos alguns níveis de aprendizagens: teórico e/ou conceitual, técnica e/ou didática, e experiencial e/ou vivencial. Talvez, seja o espaço de aprendizagem que mais contribua para o desenvolvimento do psicoterapeuta.

… o psicoterapeuta que não negligencia a experiência da supervisão clínica se apropria do seu processo de tornar-se terapeuta de uma forma mais autêntica e ética.

São muitos os impedimentos ao psicoterapeuta para participar de uma supervisão clínica. Isto é inegável. No entanto, o que prejudica o seu desenvolvimento não são estes impedimentos, mas a impossibilidade de descobrir ou de aperfeiçoar o seu estilo de ser terapeuta.

O tornar-se terapeuta é um processo que se estende ao longo da vida, e talvez seja uma das atividades humanas que exige que se desenvolva mais atitudes pessoais do que habilidades técnicas. Por isso, não é fácil ser uma terapeuta. Acredite!

A relação terapêutica, em toda a sua complexidade vivencial, solicita que a terapeuta esteja consciente de seu processo de maturação enquanto pessoa. É importante que esta consciência sempre esteja presente.

A relação terapêutica, em toda a sua complexidade vivencial, solicita que a terapeuta esteja consciente de seu processo de maturação enquanto pessoa.

Uma vez participei de uma discussão em um grupo de estudos sobre a importância das artes na formação de terapeutas. Confesso que fiquei atraído pelas reflexões, e de pensar o quanto a arte pode ajudar no refinamento da sensibilidade, da expressão, da intuição, da presença – características caras aos terapeutas.

Depois de alguns anos trabalhando com formação de psicoterapeutas, acredito que além da arte existem outros pilares que auxiliam nestas formações: grupo de estudos; prática em atendimentos; supervisão (grupo ou individual); grupo de encontro; e a própria psicoterapia. Também por estas, não é fácil ser uma terapeuta. Acredite!

… e pensar o quanto a arte pode ajudar no refinamento da sensibilidade, da expressão, da intuição, da presença – características caras aos terapeutas.

Nem sempre será possível vivenciar todos estes espaços de aprendizagens simultaneamente, por diversos motivos. No entanto, para aquelas e aqueles que desejam seguir ou prosseguir com a tarefa de facilitação de processos humanos, será necessário uma consciência genuína sobre o próprio processo de tornar-se terapeuta.

Quando os terapeutas se apropriam do seu processo de tornar-se terapeutas, uma experiência significativa brota, e a partir daí, podem ser melhores companhias para aqueles que procuram ajuda em um momento de sofrimento.

É um trabalho muito especial. Acredite!

Em dois anos de trabalhos na clínica escola da universidade, tive a oportunidade de conversar com muitas pessoas que procuravam pelo serviço de atendimento psicológico (SAP) da instituição.

Durante aquele período realizamos pesquisas e estudos sobre a eficácia e abrangência do serviço à comunidade. Os resultados apontaram, por exemplo, que as principais urgências psicológicas das pessoas estavam associadas à: 1) ansiedade; 2) depressão; 3) problemas de relacionamentos.

Os resultados apontaram, por exemplo, que as principais urgências psicológicas das pessoas estavam associadas à: 1) ansiedade; 2) depressão; 3) problemas de relacionamentos.

O interessante deste pequeno recorte de realidade é que ele está de acordo com pesquisas de maior escala, como as realizadas pela OMS e o Ministério da Saúde nos últimos anos.

No entanto, o que mais me impressionava era que o SAP realizava um atendimento pontual (não era uma terapia) no momento em que a pessoa chegava na clínica. Muitas sem agendamento prévio. Geralmente, as pessoas chegavam com um grau elevado de angústia e sofrimento.

Nestes momentos difíceis, o diálogo afetuoso, a compreensão empática da urgência da pessoa, a disponibilidade em legitimar a pessoa como pessoa, transformava o atendimento psicológico numa conversa boa.

Nestes momentos difíceis, o diálogo afetuoso, a compreensão empática da urgência da pessoa, a disponibilidade em legitimar a pessoa como pessoa, transformava o atendimento psicológico numa conversa boa.

Uma experiência em que a maioria nunca havia experimentado. Porque não é comum diálogos significativos acontecerem no dia a dia. E eles aconteciam em apenas um encontro com a equipe de psicologia do SAP (chamados de plantonistas).

As pessoas retornavam para suas casas de diversas maneiras, ou mais aliviadas, ou mais organizadas, ou se sentindo compreendidas, ou com uma melhor percepção de si ou do seu problema.

Parece que uma conversa boa nos possibilita crescer enquanto pessoa. Descobrir novos caminhos.

Quais são os três grandes pilares da teoria de Carl Rogers?

Há três condições básicas e simultâneas defendidas por Rogers como sendo aquelas que vão permitir que, dentro do relacionamento entre psicoterapeuta e cliente, ocorra a descoberta desse núcleo essencialmente positivo existente em cada um de nós..
a consideração positiva incondicional;.
a empatia;.
a congruência..

O que fala o livro Tornar

O livro 'Tornar-se Pessoa' oferece uma introdução bem ampla sobre o entendimento de ser humano e seu crescimento pessoal, segundo o psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902-1987). Trata-se de uma obra de referência na psicologia humanista e na Abordagem Centrada na Pessoa.

Como citar Carl Rogers?

ROGERS, Carl R.; ROSENBERG, Rachel L. A Pessoa como Centro. São Paulo: EPU, 1977. ROGERS, Carl R.; STEVENS, Barry.

O que diz a teoria de Carl Rogers?

Uma das principais ideias da teoria de Carl Rogers é a da atualização humana: ele acreditava que o ser humano, em especial, tem uma forte tendência a se atualizar e se esforçar de modo contínuo para que se sinta realizado. Desse modo, o ser humano constrói pouco a pouco quem realmente é.