por Reinaldo Polito Você está tranqüilo, relaxado, sem a mínima preocupação de que possa ser envolvido em situações embaraçosas. De repente, sem mais nem menos, lá está você num beco sem saída, vestindo uma belíssima saia justa novinha em folha. Por mais que sejamos precavidos, por melhor que possamos planejar as nossas ações não tem como evitar – um belo dia o anjo da guarda dos Kennedy resolve nos amparar e a desgraça está feita. 1. Toca um celular Nessa época tive um aluno no nosso curso de expressão verbal que freqüentava as turmas das terças-feiras. No meu caso essa é a minha saída. Quando estou fazendo uma palestra e toca um
celular na platéia conto a história do Ricardo e se mais algum tocar vou brincando com o auditório, como se fosse o Ricardo falando – fecha a mesa doze para mim. O importante é não demonstrar contrariedade se o fato ocorrer. Nada de agir como alguns que chegam a parar a apresentação para censurar a pessoa que deixou tocar o celular. Estragam o desenvolvimento da mensagem, fazem papel antipático e só agravam a situação. 2. Falar de improviso? Eu? Por mais remota que possa ser a possibilidade de sermos chamados para falar durante um evento, sempre devemos nos preparar para essa eventualidade. Se mesmo assim o apanharem desprevenido, a saída para discorrer sobre um tema de improviso é começar a falar antes sobre assuntos que domina com profundidade, como os que estão relacionados à sua atividade profissional, ao seu hobby, àquela notícia que está acompanhando atentamente, ao fato que presenciou, a um trecho do livro ou à cena de um filme que o tocou. Assim, enquanto discorre sobre as informações que conhece bem, conseguirá planejar melhor a seqüência da exposição. Como os ouvintes recebem a apresentação como sendo uma só desde o princípio até o final, ao demonstrar desenvoltura e convicção sobre a parte do discurso que tem domínio, a platéia terá a impressão de que conhece o assunto todo, quando na verdade poderá ter muitas informações do que falou no início e talvez poucas do tema para o qual foi convidado a falar. 3. Cai a bandeja Se uma tragédia dessa natureza ocorrer durante a sua apresentação não entre em pânico, brinque com a platéia, procure fazer uma autogozação e conquistará a simpatia e a solidariedade dos ouvintes. Com o tempo você também estará torcendo para que um garçom desajeitado entre na sala derrubando a bandeja com os copos. 4. Deu o branco Se ocorrer o branco procure manter a tranqüilidade e haja da seguinte maneira: • Insista apenas uma vez para tentar descobrir qual é a palavra ou informação de que está precisando, se não encontrar nessa primeira tentativa não persista, pois poderá começar a se pressionar e ficará ainda mais nervoso. • A tática é repetir a última frase, de preferência com palavras diferentes, falando com mais energia, como se quisesse dar ênfase àquela mensagem. Ao chegar no ponto onde o branco tinha ocorrido provavelmente a informação aparecerá. • Se mesmo assim não conseguir se lembrar do que deveria dizer, continue calmo e diga aos ouvintes que mais à frente voltará a comentar sobre o assunto. É quase certo que sem a pressão do momento do branco e mais tranqüilo irá se lembrar da informação. Caso não se lembre, nada de mau ocorrerá, pois a platéia não irá cobrar essa mensagem dizendo – “Você disse que voltaria a falar sobre esse tema e não voltou”. Na verdade, os ouvintes imaginarão que eles é que não entenderam bem a informação. • Finalmente, você poderá usar uma expressão que quase sempre dá excelente resultado – se der o branco diga: “na verdade o que eu quero dizer é que”. Faça o teste e verifique como a necessidade de explicar a informação de outra maneira acaba trazendo a mensagem à tona novamente. • Se você sempre se preocupa em esquecer a seqüência da apresentação faça um roteiro com todas as etapas que pretende cumprir, assim, se não se lembrar de alguma poderá consultar os tópicos relacionados. Só o fato de saber que poderá contar com o roteiro provavelmente não se esquecerá de nada. 5. Por esta pergunta eu não esperava a) Descubra o motivo da pergunta Um ouvinte formula uma pergunta por alguns motivos: • Por dúvida – quando não compreende perfeitamente o que está sendo transmitido; • Por vontade de aprender – quando assimila as informações fornecidas, mas deseja saber mais sobre o assunto; • Por necessidade de se destacar no ambiente – quando deseja ser notado pelas outras pessoas, não importando o fato de ter entendido ou não a mensagem; • Para provocar – quando deseja atrapalhar a apresentação por causa da hostilidade que nutre contra o tema ou contra o orador; • Para testar os conhecimentos de quem fala – quando deseja certificar-se da segurança do orador sobre a matéria. b) Se concluir que o motivo da pergunta é para
demonstrar conhecimento, destacar-se no ambiente, provocar ou testar seus conhecimentos, uma boa saída é devolver a questão ao interlocutor. c) Se verificar que a pergunta foi formulada por dúvida ou vontade de aprender, poderá devolvê-la ao grupo. Mas atenção, se julgar que o momento é desfavorável para adotar essas táticas e que durante a exposição poderá encontrar a resposta, diga ao grupo que mais à frente voltará ao assunto. Dificilmente alguém iria discordar e você ganharia tempo para dar uma resposta mais apropriada, ou até para no final, a sós com quem fez a pergunta dizer que irá procurar a resposta. Agora, se concluir que esse caminho não será apropriado para a circunstância, use o último recurso – confesse que não sabe a resposta. 6. Essa pergunta foi provocativa Por isso, por mais agressiva que tenha sido a atitude do ouvinte, não demonstre aborrecimento ou contrariedade, para continuar tendo a vantagem da situação. Em seguida agradeça a oportunidade que ele está proporcionando para que você esclareça o assunto que é tão relevante. Ao demonstrar que está satisfeito com a chance de falar sobre o tema deixará claro que não tem nada a temer. Por exemplo, se alguém perguntar porque as vendas caíram tanto depois que você assumiu a direção comercial da empresa, poderá parafrasear a pergunta dirigindo-se à platéia, e não à pessoa que a formulou, dizendo: — O que está sendo perguntado é como se deu a minha promoção como diretor comercial e qual o comportamento do mercado consumidor para o nosso segmento de produtos. Desta forma a provocação da pergunta teria sido afastada e você poderia falar sobre cada uma das partes da questão como se fossem independentes. 7. Bateu o nervosismo O nervosismo
é maior no início quando ocorre a descarga de adrenalina provocada pelo medo. Com o transcorrer do tempo a adrenalina vai sendo metabolizada e o nervosismo diminui. Se você se surpreender e se assustar com o nervosismo irá se pressionar ainda mais e realimentar o medo. 8. Desculpe a nossa falha Mais uma vez é preciso dedicar cuidado especial à sua imagem. Embora não ocorra prejuízo na compreensão da platéia, os ouvintes poderão acreditar que a palavra foi pronunciada incorretamente por desconhecimento do orador; assim, é recomendado encontrar uma forma de encaixar a mesma palavra em uma das frases seguintes, para demonstrar que se tratou mesmo de um engano. 9. Deu problema no equipamento Planeje sua apresentação também com outros recursos e até
sem nenhum deles. Por exemplo, se você pretende usar o power point, não custa nada reproduzir as telas do programa também em transparência e deixá-las de reserva para uma eventualidade. Sempre poderá contar com um aparelho de retroprojeção para contornar o transtorno de uma falha no equipamento. 10. Esse eu não posso esquecer Se o número de pessoas for muito elevado você poderá usar uma técnica semelhante a que foi utilizada pelo meu amigo Nei Gonçalves Dias. |