A segunda notícia tem uma abordagem mais técnica do que a primeira

1Este estudo apresenta o diagnóstico da participação da imprensa escrita na divulgação de informação sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, um país rico nesses recursos, a quem a procura internacional coloca na delicada condição de fonte de matéria-prima para grande parte das indústrias que florescem pelo mundo fora.

2Mesmo admitindo que essa procura pode configurar oportunidades de desenvolvimento para o país, a exploração desenfreada dos recursos naturais pode conduzir ao seu esgotamento precoce e consequente empobrecimento das comunidades que deles dependem para a sua sobrevivência.

3Experiências empíricas demonstram que em muitos países, no lugar de proporcionar um desenvolvimento efectivo e equilibrado das comunidades, a disponibilidade de recursos naturais acaba conduzindo os países para uma situação de maldição de recursos. Com efeito, os recursos se transformam em fontes de conflitos derivados não só da ganância do ser humano, mas também, e na maioria dos casos, de lacunas na circulação de informação capaz de gerar conhecimento e estimular um debate desinibido envolvendo todos os actores de desenvolvimento.

4A preocupação crescente nos dias que correm é perceber o reflexo efectivo que a exploração desses recursos gera na vida das comunidades. Neste exercício, há que destacar o papel jogado pela comunicação social, nomeadamente a imprensa escrita, nos processos de decisão e de divulgação de boas práticas de gestão dos recursos naturais, bem como na denúncia de atitudes, comportamentos e acções que atentem contra o correcto uso da riqueza que a natureza coloca à disposição da civilização humana.

5O estudo apresenta dados inferidos de uma análise quantitativa e qualitativa de matérias sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, publicadas nos sete jornais objecto da pesquisa, a partir dos quais se podem identificar pontos fracos e fortes da abordagem que a imprensa faz do assunto.

6Também identifica os actores que participam no debate sobre a exploração de recursos naturais e discute algumas razões estruturais que justificam a abordagem que os jornais fazem sobre a exploração dos mesmos.

7Para efeitos do presente trabalho recorremos à classificação de géneros jornalísticos proposta por Lagardette (2001), com base na natureza dos acontecimentos, na profundidade da pesquisa e no tratamento dos dados recolhidos pelo jornalista.

8Objectivamente, ele identifica duas grandes saídas, por sinal as mais comuns na imprensa moçambicana, nomeadamente o género informativo, que integra a Notícia, a Reportagem e a Entrevista, e o género de opinião que inclui o Editorial e o Artigo de Opinião individual.

9Uma vez que as fontes representam a base de qualquer notícia, na nossa pesquisa destacamos três tipos fundamentais de fontes, nomeadamente as Fontes Oficiais ou Formais, as Fontes Oficiosas e as Fontes Independentes, segundo a classificação desenvolvida por alguns estudiosos de comunicação social.

10Assim, entende-se por Fonte Oficial ou Formal aquela que é mantida pelo Estado ou por instituições que conservam algum poder do Estado ou ainda por empresas públicas e privadas. Um exemplo de fonte oficial são as assessorias de imprensa do governo a vários níveis, da Assembleia da República e de outros departamentos oficiais, de acordo com Lage (2001) e Melo (2002).

11Geralmente, e segundo classificação de Carneiro (como citado por Erbolato, 2001, p. 183), as fontes oficiosas são pessoas bem informadas, por exemplo altos funcionários ou políticos importantes que adiantam alguma notícia ou emitem julgamento ou análise de acontecimentos delicados, geralmente na área política, de governação ou de economia.

12As Fontes Independentes não têm qualquer relação aparente de poder ou interesse com o assunto. As Organizações Não Governamentais são um exemplo típico deste tipo de fontes.

13Para efeitos da presente pesquisa, e por razões metodológicas, consideramos apenas dois níveis de fontes, as oficiais e as não oficiais, assumindo que as fontes independentes encontram enquadramento nesta última classificação.

14O objectivo declarado de qualquer órgão de informação é fornecer relatos dos acontecimentos julgados significativos e interessantes. Tal como escreve a socióloga norte-americana Tuchman (1978), apesar de ser um propósito claro, esse objectivo é, como muitos outros fenómenos aparentemente simples, algo extremamente complexo.

15O jornalista sabe que as fontes de informação não são desinteressadas: embora de maneira tácita, a obtenção de uma informação configure uma espécie de contrato que se firma entre o jornalista e a fonte, cada um dos quais com um interesse específico.

16A questão de acreditar na fonte apresenta-se em função da credibilidade que esta despertou no jornalista, que será maior quanto mais alta for a posição da fonte, segundo a lógica de que “a posição de autoridade confere credibilidade”.

17No entanto, segundo Brickmann (1994, pp. 80-81) por detrás das declarações de uma fonte estão, muitas vezes, implícitos interesses pessoais ou a intenção de prejudicar alguém.

18Gans (1979, p. 81) escreve que os económica e politicamente poderosos conseguem fácil acesso aos jornalistas e geralmente são procurados por estes para usá-los como fontes de informação. Segundo ele, os que não detêm poder são mais dificilmente abordados pelos jornalistas e geralmente não são procurados como fontes de informação, até as suas actividades produzirem notícias de desordem social ou moral.

19Segundo Traquina (2004), os jornalistas preferem as fontes oficiais porque são mais fáceis de contactar e porque são consideradas mais informadas e credíveis.

20Tal como refere Sigal (1986) citado por Traquina (2004), saber o modo como as notícias são produzidas é a chave para compreendermos o que elas significam.

21Subjacente a esta afirmação está a ideia das notícias como uma construção social da realidade.

22Para efeitos do presente trabalho consideram-se recursos naturais todos elementos da natureza com utilidade para o Homem, com o objectivo de desenvolvimento, sobrevivência e conforto da sociedade como um todo.

  • 1 World Trade Organization (2010).

23Recursos naturais são reservas de materiais que existem no ambiente natural, escassos e economicamente úteis na produção ou consumo, tanto no seu estado bruto ou após processamento são componentes materiais ou não da paisagem geográfica, mas que ainda não tenham sofrido importantes transformações pelo trabalho humano e cuja génese é independente do Homem mas aos quais este atribuiu, historicamente, valores económicos, sociais e culturais.

24Entre os recursos naturais considerados nesta pesquisa identificamos seis grandes grupos, nomeadamente o grupo dos Recursos Minerais, que inclui o Petróleo, Gás Natural, Carvão, Ouro e Pedras, Areias e outros e Recursos sem especificação; os Recursos Hídricos, que incluem toda a riqueza lacustre e fluvial; os Recursos Marinhos, que se referem à vasta produção do Mar, que se estende ao longo de cerca de 2.700 quilómetros da costa moçambicana.

25Estão igualmente englobados os Recursos Florestais, relativos à vegetação indígena ou não, os Recursos Faunísticos, nomeadamente aqueles que se referem a toda diversidade de espécies animais e a Terra usada nas mais diversas utilidades.

26Moçambique é um país extenso, com cerca de 800 mil quilómetros quadrados, uma costa com 2.700 quilómetros que detém uma vastidão de recursos procurados tanto para consumo interno como para exportação como matéria prima para alimentar as mais variadas indústrias.

  • 2 Informações divulgadas na segunda sessão do “Observatório sobre o Meio Rural” – Maputo, Abril 2011.

27Em 2010, dos 41 milhões de hectares de florestas disponíveis no país, 0,75% foram desmantelados para o corte ilegal de madeira. A extracção de carvão vegetal, a agricultura e as queimadas descontroladas também contribuíram para este cenário.

28Relativamente à fauna, tem-se que a caça furtiva, as necessidades alimentares das comunidades e o crime organizado para a obtenção de pele e troféus para os mercados asiáticos, usando alguns países vizinhos para escoar, contribuem para a exploração desregrada.

29A nível do recursos marinhos, há uma preocupação em relação a algumas espécies protegidas como dugongos, tartarugas, tubarão, raia, baleia entre outros, que estão em vias de extinção.

  • 3 Informações divulgadas na segunda sessão do “Observatório sobre o Meio Rural” – Maputo, Abril 2011.

30Estatísticas divulgadas indicam que só com a pesca ilegal, Moçambique acumula anualmente prejuízos na ordem dos 35 milhões de dólares norte americanos.

31Num país com uma abundante disponibilidade de terra, sabe-se que 69% da população vive da agricultura e dos recursos que o campo oferece. No entanto, cresce a preocupação com a agudização de conflitos envolvendo as comunidades nativas, investidores e o Estado, todos eles com interesses na exploração daquele recurso.

32O aumento da procura de recursos naturais tem estado a motivar projectos e fluxos de investimento que propiciam ambientes e cenários de trabalho jornalístico.

33Aliado a este facto, os elevados volumes de investimento orientados para a exploração de carvão, gás natural, petróleo, pescado e madeira acabaram ditando o destaque destes recursos, razão pela qual o Estado os definiu como estratégicos e, por isso mesmo, merecedores de estratégias mais concertadas de gestão.

34Por concentrar a atenção dos detentores do poder (político e financeiro), estes recursos tornaram-se facilmente agenda da comunicação social, estando na origem da maioria das matérias publicadas no período em estudo e analisadas ao abrigo da presente pesquisa.

35Do ponto de vista epistemológico, a abordagem do presente trabalho não se posiciona em qualquer dos extremos tradicionais da pesquisa em ciências sociais, por reconhecer que tanto o paradigma positivista, que considera a possibilidade de um conhecimento puro sem influência do estudioso sobre o objecto estudado, como o paradigma interpretativista, que se funda na pura interpretação dos significados, possuem limitações.

36O meio termo das duas concepções epistemológicas resulta na combinação dos métodos qualitativo e quantitativo, o que melhor responde aos termos de referência deste trabalho. A primeira aborda o objecto em si, sem a preocupação de medir ou quantificar os dados colectados, matéria exclusiva da quantitava.

37A pesquisa cobriu uma amostra de 396 edições de sete jornais diários e semanários, publicados no período de Janeiro de 2010 a 30 de Maio de 2011.

38Os diários pesquisados são o Notícias, Diário de Moçambique e O País, e os semanários cobertos são o Savana, Domingo, Zambeze e A Verdade.

39Para os diários considerámos uma população de 1.326 artigos publicados ao longo dos 17 meses, da qual extraímos uma amostra de 322 jornais, correspondentes a 25 por cento daquela população.

40Nos semanários, a população considerada é de 296 jornais, da qual foi extraída uma amostra de 74 publicações, equivalentes a 30 por cento do universo correspondente.

41A selecção da amostra obedeceu ao método de amostragem sistemática.

  • 4 A lista das edições seleccionadas para o estudo e dos artigos identificados, com menção às respecti

42A extracção dos elementos da amostra consiste na escolha, ao acaso, do primeiro elemento, sendo os restantes obtidos mecanicamente mediante progressão aritmética de razão k (Mulenga, 2000). A escolha desde método tinha em vista garantir que cada elemento da população tivesse oportunidade de fazer parte da amostra.

43Nos jornais seleccionados fez-se o levantamento de artigos, noticiosos ou de opinião, que retratam a exploração dos recursos naturais em Moçambique.

44Foi feita a análise de vários elementos reconhecidos teoricamente como integrantes dos quatro géneros jornalísticos seleccionados para o estudo, (notícia, reportagem, entrevista e opinião) que, ordenados e classificados sistematicamente, possibilitaram a análise do conteúdo respectivo.

  • 5 Naturalmente que os autores reconhecem que a cobertura de acontecimentos imediatos também resulta d

45Nos artigos analisados, a prevalência do género notícia dá-nos a frequência da cobertura de acontecimentos esporádicos e imediatos, com mera intenção de informar o sucedido de forma breve, enquanto que o recurso ao género reportagem dá-nos a percepção da existência, ou pelo menos da intenção do jornalista ou do órgão de informação, de uma tendência para a abordagem dos assuntos com alguma profundidade.

46O artigo de opinião ilustra o nível de preocupação dos cidadãos, jornalistas e órgãos de comunicação em participar no debate sobre a exploração dos recursos naturais, contribuindo com ideias ou criticando as práticas e procedimentos.

47O estudo procura analisar as fontes de informação, subdividindo-as em duas categorias operativas de (i) fonte oficial e (ii) fonte não oficial, sendo que a prevalência da primeira permite aferir o número de vezes em que o governo e entidades empresariais são privilegiados no debate jornalístico sobre a matéria, enquanto que a segunda nos dá a indicação do número de vezes em que as organizações da sociedade civil, partidos políticos, ambientalistas e cidadãos em geral, intervêm no debate jornalístico sobre o assunto.

48O estudo aferiu também o destaque dado às matérias, considerando o seu posicionamento nas páginas dos jornais, ou seja na primeira página, nas páginas ímpares ou nas páginas pares que, teoricamente, indica progressivamente o grau de importância conferido a determinada matéria.

49Este cenário indica-nos a importância atribuída às matérias, embora nem sempre tal coincida com a real intenção do órgão.

50Foi igualmente considerado o facto de o artigo levar ou não ilustração, como um elemento agregador de valor à matéria informativa, o que também está ligado ao tamanho ou extensão que o mesmo ocupa nas páginas do jornal.

51Aliás, a extensão de um artigo ou mesmo o número de páginas que um periódico lhe consagra, bem como o tempo que ele dura sendo considerado tópico de actualidade são uma boa medida para compreender o interesse que um jornal atribui a um acontecimento ou evento específico. Em consequência disso, os leitores são também induzidos a considerar que tal acontecimento ou evento é ou não importante.

52A pesquisa complementa-se com a confrontação dos resultados da consulta feita aos jornais e os pontos de vista dos actores dos jornais que resultam de um inquérito dirigido a sete profissionais dos jornais em estudo.

53Este capítulo apresenta os resultados do estudo em função das categorias definidas acima. Numa primeira fase, apresentamos os dados referentes a cada jornal analisado, começando pelos diários Notícias, Diário de Moçambique e O País.

  • 6 Na classificação dos tipos de recursos, a pesquisa considera, para além dos minerais (petróleo, car

54No período em análise, o Notícias publicou um total de 49 artigos sobre exploração de recursos naturais, 33 dos quais abordando assuntos sobre recursos minerais, dois sobre recursos hídricos, cinco sobre marinhos, cinco sobre florestais, dois faunísticos e outros dois sobre terra. Dos 33 sobre recursos minerais, seis abordam o petróleo, três o gás natural, oito o carvão, cinco o ouro e pedras preciosas, cinco outros minerais que não constam da classificação adoptada neste trabalho e seis recursos minerais sem qualquer especificação nos artigos analisados.

55Dos 49 artigos, 35 (72%) são notícias, nove (18%) reportagens e três (6%) artigos de opinião e duas (4%) entrevistas do tipo pergunta-resposta.

56No que diz respeito às fontes de informação, 94% das notícias citam fontes oficiais enquanto as restantes recorrem a fontes não oficiais. Paralelamente das nove reportagens, 56% citam fontes oficiais e as restantes usam fontes não oficiais. Como prática, a reportagem leva mais do que uma fonte, havendo no caso em análise situações de combinação de fontes oficiais e não oficiais num mesmo artigo. Quanto aos artigos de opinião, não se coloca a questão do tipo de fonte uma vez tratar-se de ideias lavradas a partir das convicções do autor.

57O Notícias apresenta 27 (55%) artigos sobre exploração de recursos naturais na primeira página. Deste universo, 21 (78%) abordam assuntos sobre recursos minerais, com destaque para o carvão, petróleo e gás natural, considerados pelo governo como minerais estratégicos. Enquanto isso, outros 17 artigos nas edições pesquisadas localizam-se em páginas pares e cinco em páginas ímpares.

58Geralmente, a aparição de um assunto na primeira página de um jornal revela o grau de importância dado a essa matéria por parte do jornal, o mesmo acontecendo em relação aos artigos que aparecem nas páginas ímpares.

59Isso explica, por exemplo, a preferência que tem sido dada pelos anunciantes a vender os seus produtos nas páginas ímpares em detrimento das pares.

60Contudo, no jornal Notícias, as páginas noticiosas apresentam geralmente editorias fixas, facto que à partida sugere que a maior ou menor importância dada a determinado assunto é determinada pela posição da editoria na qual será inserida.

61Embora tradicionalmente haja tendência de se associar o tamanho de um artigo à sua importância, esta abordagem é cada vez mais posta em causa dada a necessidade que os jornais têm de ter mais espaço para publicar notícias que, por via disso, têm de ser pequenas. Contudo, notícias curtas podem reportar assuntos importantes. O jornal em análise apresenta 38 (78%) artigos em tamanho igual ou inferior a ¼ de página, o que pode ser compreensível já que a maioria dos artigos são do género notícia.

62Dos restantes artigos, seis ocupam ½ página; três, uma página e dois mais de uma página. Este último caso são entrevistas do tipo pergunta-resposta, publicadas às segundas-feiras.

63O recurso à ilustração é uma das alternativas encontradas para acrescentar valor aos artigos jornalísticos, constituindo uma tentativa de representação fiel do facto noticioso. No caso, dos 49 artigos publicados no jornal Notícias, 27 levam ilustração com fotografias tanto de fontes como de motivos ligados ao assunto em abordagem.

64A predominância da notícia como género jornalístico e a hegemonia das fontes oficiais nas notícias pode significar uma maior opção pelo imediatismo em detrimento do jornalismo investigativo que, pela sua natureza, permite uma abordagem mais equilibrada e uma melhor confrontação das fontes, o que evita situações de maldição dos recursos, com particular destaque para os minerais, mais reflectidos nas páginas do Notícias.

65O Diário de Moçambique publicou um total de 30 artigos sobre a exploração de recursos naturais nas edições correspondentes ao período em análise. Destes artigos, 17 (57%) fazem referência à exploração de recursos minerais, oito aos recursos florestais, três aos recursos marinhos, um aos hídricos e um à Terra. Dos recursos minerais, os que abordam o carvão apresentam-se em maior número, com seis artigos, três sobre gás, igual número para minerais não especificados, dois sobre petróleo, igual número sobre ouro e outras pedras e um para outros minerais.

66Do total de artigos apresentados, 19 (63%) são notícias, 10 (33%) reportagens e apenas um artigo é de opinião. No jornal Notícias, grande parte das notícias (17) apresenta fontes oficiais. Contudo, este jornal tem a particularidade de apresentar um considerável número de reportagens (10) com um número de fontes equilibrado, considerando que elas apresentam sete fontes oficiais e outras sete não oficiais.

67Um dos aspectos que chama atenção neste jornal é o facto de, no período em análise, não aparecerem artigos sobre exploração de recursos naturais na primeira página. Dos restantes artigos no interior do jornal, 19 encontram-se em páginas pares e 13 em páginas ímpares.

68Quanto à ilustração, encontramos apenas 11 artigos ilustrados. Dezanove artigos ocupam ¼ de página ou menos; cinco, meia página; dois, uma página e quatro mais de uma página.

69No período em análise, o jornal O País publicou um total de 35 artigos sobre exploração de recursos naturais, 22 dos quais abordando assuntos sobre recursos minerais, três sobre recursos hídricos, quatro sobre marinhos, dois sobre florestais, três faunísticos e um sobre terra. Dos 22 que reportam sobre recursos minerais, quatro abordam o petróleo, três o gás natural, quatro o carvão, um ouro e pedras preciosas, seis outros minerais que não constam da classificação adoptada neste trabalho e quatro são sobre recursos minerais sem qualquer especificação.

70Do total de artigos, 21 (60%) são notícias, 11 (31%) são reportagens, 2 artigos de opinião e existe uma entrevista do tipo pergunta-resposta.

71No que diz respeito às fontes de informação, 19 notícias citam fontes oficiais enquanto duas recorrem a fontes não oficiais. Em dois artigos, são citadas tanto fontes oficiais como fontes não oficiais. Enquanto isso, as 11 reportagens publicadas pelo O País no período coberto pela pesquisa citam fontes oficiais, embora em seis delas surjam também fontes não oficiais.

  • 7 A discrepância numérica explica-se pelo facto de alguns artigos terem mais do que uma página, ou se

72Apenas três artigos sobre exploração de recursos naturais publicados pelo jornal O País no período da pesquisa localizam-se na primeira página, um dos quais é um editorial que reflecte a posição daquela publicação em torno da problemática do projecto de areias pesadas de Chibuto. Outros dois artigos são notícias, ambas sobre recursos minerais. 16 artigos estão localizados em páginas pares e outros 18 em páginas ímpares.

73No período em análise, O País apresenta 15 artigos em tamanho igual ou inferior a ¼ de página, o que pode ser compreensível já que a maioria dos artigos são notícias.

74Dos restantes artigos, 11 ocupam meia página, seis uma página e três mais do que uma página.

75Dos 35 artigos sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, publicados no jornal O País entre Janeiro de 2010 a Maio deste ano, 19 são ilustrados com fotografias tanto de fontes como de motivos ligados ao assunto em abordagem.

76À semelhança do Notícias, há, no jornal O País, uma predominância do género notícia entre os artigos estudados, com a particularidade de grande parte deles serem reprodução de textos publicados noutros órgãos, nomeadamente as agências de informação. Ou seja, este jornal apresenta poucos artigos que sejam resultado da deslocação de seus repórteres para os locais onde decorrem os acontecimentos relativos à exploração de recursos naturais. Chama igualmente atenção o facto de a maioria dos artigos neste jornal, quer notícias quer reportagens, terem suporte em fontes oficiais.

Gráfico 1: Artigos publicados por tipo de recurso natural

77No conjunto das edições analisadas, o jornal Zambeze apresenta apenas sete artigos sobre recursos naturais, sendo dois sobre recursos minerais, dois sobre recursos hídricos, dois sobre recursos florestais, um sobre recursos marinhos e um sobre terra. Diferentemente dos outros jornais, não foram encontrados artigos sobre exploração de carvão, petróleo ou gás. Encontra-se um artigo que aborda, de forma específica, dois tipos de recursos, florestais e faunísticos, o que justifica o facto de serem sete artigos mas com oito recursos abordados.

78Outro aspecto que faz diferença neste jornal é o facto de ter apenas uma notícia com fonte não oficial, sendo os restantes artigos abordados na forma de reportagem. Do conjunto de fontes consultadas, encontramos no período em análise o uso de seis fontes não oficiais nas reportagens e três fontes oficiais em artigos do mesmo género. Fica claramente marcada a predominância de fontes não oficiais neste jornal.

79Sete artigos ocupam páginas pares e dois páginas ímpares. Seis artigos possuem ilustração. Dois artigos possuem ¼ de página ou menos, três, meia página e dois têm uma ou mais páginas.

80Este é um jornal independente cujo surgimento esteve ligado ao movimento de democratização da imprensa em Moçambique e consequente esforço de contraposição da imprensa pública. Isso explica a predominância de fontes não oficiais que, numa perspectiva teórica, vinculam interesses independentes do poder público.

81O jornal Domingo apresenta um total de 20 artigos que abordam na sua globalidade os recursos naturais. Destes, sete abordam recursos minerais, um recursos marinhos, oito florestais e três faunísticos. Os recursos minerais abordados subdividem-se em: petróleo (um), carvão (dois), ouro e pedras (um), outros recursos não referidos na categorização adoptada neste trabalho (dois) e um sem especificação.

82Neste jornal predominam notícias, que se apresentam em número de onze, citando um total de nove fontes oficiais e duas que não citam fontes. As reportagens são sete no total, citando três fontes oficiais e quatro não oficiais. Quanto ao género opinião, encontramos dois artigos que representam a voz não oficial como é característica neste género jornalístico.

83Neste jornal, nenhum artigo sobre recursos naturais mereceu posição na primeira página e os restantes ocuparam seis páginas impares e 14 páginas pares. Os artigos apresentam 16 ilustrações.

84Nove artigos possuem dimensões menores ou iguais a ¼ de página, cinco meia página, três uma página e dois mais de uma página.

85A predominância do género notícia neste jornal contraria a prática dos semanários, que procuram abordar os assuntos com maior profundidade, apresentando mais artigos de reportagem e análise. Também reflecte o interesse em reproduzir o discurso oficial, num jornal com fortes ligações ao poder político.

86O semanário A Verdade apresenta um total de 14 artigos sobre recursos naturais, sendo três sobre recursos minerais, todos sobre gás. Apresenta igualmente dois sobre recursos hídricos, cinco sobre os marinhos, três sobre recursos florestais e um sobre recursos faunísticos.

87As notícias totalizam dez e todas usam fontes oficiais. As reportagens são quatro, sendo que apenas uma cita fonte oficial.

88Este jornal não publicou artigos na primeira página, tendo ocupado 11 páginas ímpares com artigos sobre exploração de recursos naturais e três páginas pares. Sete artigos têm ilustração.

89Dez artigos ocupam um espaço menor ou igual a ¼ de página, três meia página e um ocupa uma página.

90É o único jornal que publicou mais artigos nas páginas ímpares. Uma vez mais, o uso de fontes oficiais está relacionado com o facto de terem sido publicadas mais notícias do que outros géneros.

91O jornal Savana publicou um total de 20 artigos sobre recursos naturais no período em análise, subdividindo-se em oito sobre recursos minerais, dos quais dois sobre petróleo, um sobre carvão e cinco sobre recursos sem especificação. Tem igualmente um sobre recursos hídricos, dois sobre marinhos, dois florestais, três faunísticos e quatro sobre terra.

92As notícias totalizam 11 artigos, apresentando nove fontes oficiais e uma não oficial. As três reportagens apresentam uma fonte oficial e duas fontes não oficiais. Os restantes sete são artigos de opinião em que não se coloca a questão das fontes, em virtude de reportarem convicções individuais dos respectivos autores.

93Nenhum artigo sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique mereceu espaço na primeira página deste semanário, pelo menos nos artigos analisados no âmbito da pesquisa.

94Contudo, encontramos um total de 12 artigos em páginas ímpares contra oito em páginas pares. Apenas quatro artigos foram ilustrados e 13 ocupam um espaço igual ou inferior a ¼ de página, um ocupa meia página, três uma página e três mais de uma página.

95É o semanário que apresenta maior número de artigos de opinião sobre o assunto. O Savana apesar de ser privado e ter uma política editorial orientada para o exercício da pressão sobre os poderes públicos, apresenta mais fontes oficiais. Este facto não está necessariamente ligado a qualquer preferência por este tipo de fontes, mas sim está associado ao facto de apresentar mais notícias do que reportagens. As notícias apresentam um facto comum, poucas fontes e um maior número de fontes oficiais.

Gráfico 2: Artigos publicados por recurso estratégico

96No âmbito da pesquisa sobre a cobertura da imprensa a assuntos sobre exploração de recursos naturais em Moçambique, foram analisados 175 artigos publicados entre Janeiro de 2010 e Maio de 2011 em sete jornais editados em Moçambique.

97Os artigos foram identificados de uma amostra de 322 jornais diários e 74 semanários.

98Da primeira análise, que consistiu na categorização em função do género jornalístico, constatou-se que 108 são notícias, 49 reportagens, 15 artigos de opinião e três entrevistas tipo pergunta-resposta.

99Compulsando os dados, nota-se uma clara predominância da notícia em relação a outros géneros, o que se pode compreender como resultado da importância que ela joga enquanto base da actividade jornalística. Apesar de a predominância da notícia ser comum em todos os jornais analisados, é nos jornais diários que esta tendência é maior (62%).

100Com efeito, o jornal Notícias, com 35 notícias identificadas no contexto da pesquisa, é o diário que mais explorou este género comparativamente ao O País, com 21 artigos, e o Diário de Moçambique, com 19 artigos.

Gráfico 3: Artigos publicados por género jornalístico

101Do ponto de vista do estímulo do debate sobre os recursos naturais, a reportagem é o género jornalístico que oferece maior espaço de manobra para o aprofundamento das matérias. Numa análise comparativa sobre o uso de notícias e reportagens nos jornais estudados, nota-se que os semanários tendem a fazer um maior uso da reportagem, com 38% contra 26% dos jornais diários.

102Um caso sui generis é do semanário Zambeze, com um total de sete reportagens e apenas uma notícia. Esta diferença pode explicar-se pelo tempo de que os semanários dispõem para aprofundar os assuntos, acabando por privilegiar as reportagens comparativamente com as notícias, até porque estas muitas vezes perdem actualidade antes de chegado o dia da publicação do semanário.

103A participação do jornalista, dos jornais e do cidadão no debate público sobre a exploração dos recursos naturais em Moçambique é também manifestada através de artigos de opinião que normalmente se fundam no conhecimento e no interesse do articulista sobre determinada matéria, além de funcionar como forma de expressão do sentido de cidadania e um importante indicador do nível de crescimento democrático das comunidades.

Gráfico 4: Artigos por género/jornal

104Apesar da sua relevância no contexto do jornalismo moderno, onde joga um papel determinante na promoção do debate, nota-se que este género jornalístico é muito pouco explorado nos artigos analisados. Com efeito, da amostra de jornais analisados foram identificados apenas 15 de opinião, o que representa apenas 6,5% do total de artigos compulsados no âmbito da pesquisa. O jornal Savana, com sete artigos de opinião, supera de longe todas as restantes publicações, incluindo os diários, no que à exploração deste género diz respeito.

105Não menos importante é a constatação da existência de semanários como o Zambeze e a Verdade que, em todas as edições analisadas, não publicaram nenhum artigo de opinião sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, seja em colunas assinadas individualmente ou em editorial, que reflecte a opinião do jornal como uma organização.

106A entrevista, enquanto género jornalístico, é muito pouco privilegiada na amostra de jornais integrados neste estudo, havendo apenas duas publicadas pelo jornal Notícias. Esta constatação presta-se à ideia de que, tal como no artigo de opinião, a entrevista só pode ser explorada por profissionais com domínio efectivo das matérias sobre as quais se propõem a entrevistar alguém igualmente com domínio sobre o assunto.

107O fraco domínio desta área pode estar por trás das raras opções pela entrevista do tipo pergunta-resposta e consequente aposta na notícia e na reportagem que aparentemente exigem menor esforço do jornalista e são mais fáceis de produzir.

108A classificação obedeceu a um critério que subdividia as fontes em dois tipos: fontes oficiais e não oficiais. A pesquisa identificou a predominância de fontes oficiais (97) nos artigos analisados e 39 fontes não oficiais.

109O recurso às fontes oficiais é particularmente notório nos jornais diários, ocupando 78 por cento do total das usadas nos artigos analisados, enquanto que nos semanários este tipo de fontes ocupa 57 por cento.

110Compulsando os dados pode constatar-se que o cenário de predominância das fontes oficiais sobre as não oficiais está, por sua vez, relacionado com a predominância do género notícia, já que os promotores desta são, geralmente, de natureza oficial.

111Nos semanários, o equilíbrio que se nota no uso de fontes oficiais (57%) e não oficiais (43%), longe de constituir uma mera opção editorial, é sobretudo reflexo da predominância do género reportagem que, pela sua natureza, remete o jornalista a uma sistemática confrontação das fontes. Esse equilíbrio atinge o seu pico no jornal Savana, que reparte o uso das fontes em 50 por cento para cada tipo.

112De um modo geral, mesmo os semanários apresentam mais fontes oficiais do que fontes não oficiais, com a excepção do jornal Zambeze que tem um ascendente das fontes não oficiais (sete) contra apenas três oficiais. Importa referir que, nas edições inclusas na amostra seleccionada para este estudo, o jornal Zambeze oferece apenas oito artigos, dos quais sete são reportagens, podendo justificar-se a predominância das fontes não oficiais pelo notório predomínio da reportagem.

Gráfico 4: Análise dos artigos quanto às fontes de informação

113Os jornais Notícias e O País são os únicos que colocaram artigos sobre a exploração de recursos naturais na primeira página (27 e 3, respectivamente) o que resulta claramente do predomínio do género notícia naqueles órgãos de comunicação social, que têm nas fontes oficiais, sobretudo no governo, o principal promotor. Importa referir que, nos últimos tempos, o governo tem aparecido cada vez mais como fonte de informação, face ao crescente número de projectos de exploração mineira.

114Esta constatação pode ser comprovada nos dados em anexo, que ilustram a prevalência, nos jornais analisados, de artigos sobre exploração de recursos minerais, nomeadamente carvão e hidrocarbonetos (petróleo e gás natural).

115No seu conjunto, os 396 jornais pesquisados ao abrigo do presente estudo publicaram um total de 175 artigos sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, dos quais a maioria, 82, equivalente a 47%, estão localizados em páginas pares. Teoricamente isto reflecte a pouca importância atribuída às matérias que tais artigos abordam, já que a localização em página par reduz a visibilidade do artigo no jornal.

Gráfico 7: Artigos publicados por localização/jornal

116Ainda assim, há 63 artigos, representando 36% do total, colocados em páginas ímpares e apenas 17 por cento dos artigos estão localizados na primeira página dos jornais. Tendo em conta a periodicidade dos jornais, e analisados os dados da recolha, tem-se que os jornais diários apresentam 29% dos artigos em páginas pares enquanto que os semanários apresentam apenas 18% dos seus artigos em páginas pares.

117Uma interpretação linear dos dados leva-nos a inferir que os semanários atribuem maior importância à abordagem de matérias sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique, comparativamente com os jornais diários.

118Naturalmente, esta interpretação deve ter em conta o facto de não se poder vincular a localização de um artigo à sua importância, nem descurar a relevância dos limitantes encontrada no decurso da pesquisa.

119Pouco mais de metade dos artigos analisados nesta pesquisa estão ilustrados com fotografias, gráficos e outras infografias. A fotografia acrescenta valor ao conteúdo e aumenta a probabilidade de a informação ser consultada pelos leitores e, dessa forma, se constituir como foco de debate público em torno da matéria que retrata.

120É preciso referir que a decisão dos gatekeepers sobre que artigos devem, ou não, ser acompanhados de fotografia pode reflectir o grau de importância atribuído ao conteúdo e, no caso, seria razoável referir que o ideal seria que nos artigos analisados houvesse mais ilustração.

121Tendo em conta a periodicidade dos jornais, os semanários são os que apresentam mais artigos ilustrados.

Gráfico 6: Artigos publicados quanto à localização

122Já referimos que a extensão de um artigo jornalístico nem sempre define, automaticamente, a relevância ou a importância que determinado jornal lhe atribui, considerando a sua linha editorial. Parece compreensível a relação entre a predominância de artigos com uma extensão até um quarto de página, na sua maioria do género notícia, em todos os jornais analisados.

123Ademais, o tamanho dos artigos sob a forma de notícia pode crescer com a inclusão de ilustração, facto que explica a existência de 23 artigos ocupando meia página.

124Contudo, é preciso considerar que, pela sua natureza, as notícias têm um tamanho menor que não lhes permite ir ao detalhe, fazer uma maior confrontação das fontes e nem sempre oferece espaço para inclusão de ilustração.

125Nos dias que correm é comum associar-se a falta de informação à pobreza das comunidades. É, pois, preocupação justa e actual que os órgãos de comunicação social cumpram o seu papel como garante da circulação de informação que satisfaça as necessidades de conhecimento e preencha as lacunas que perigam o diálogo e esvaziam algumas decisões que vinculam maiorias.

126Discutir a abrangência e a relevância da prestação da imprensa escrita na divulgação de assuntos relacionados com a exploração de recursos naturais em Moçambique nunca se tornaria possível sem uma incursão nos conteúdos por eles publicados e uma avaliação criteriosa dos actores e promotores do discurso jornalístico e, mais importante ainda, sem uma busca das razões estruturais que condicionam a abordagem que a comunicação social faz ao assunto.

127Apesar do período relativamente curto estabelecido para a pesquisa (Janeiro de 2010 a Maio de 2011), o desenvolvimento do trabalho acabou denunciando algumas fragilidades de organização nalguns jornais seleccionados para o estudo, nomeadamente a falta de um arquivo organizado que permita uma consulta eficiente de edições passadas da sua publicação. Aliás, esta tendência é igualmente notória até em instituições vocacionadas como são os casos da Biblioteca Nacional ou do Arquivo Histórico de Moçambique, onde ainda não funciona um mecanismo fiável de arquivo das principais publicações editadas no país.

128Na generalidade, a cobertura jornalística dos assuntos sobre a exploração de recursos naturais em Moçambique obedece a uma agenda e critérios definidos pelo governo, multinacionais e os demais interessados nos investimentos. Isto é confirmado pela predominância de fontes oficiais em detrimento das não oficiais, onde se enquadram, por exemplo, as comunidades e as organizações não-governamentais e da sociedade civil.

129O estudo detecta problemas no cruzamento das fontes de informação por parte dos jornalistas, que muitas vezes se escudam na política editorial para excluir determinadas sensibilidades do debate. O uso correcto e o cruzamento das fontes de informação são determinantes para a elaboração de um discurso jornalístico coerente que funcione como inspiração para a construção de uma opinião pública equilibrada.

130O estudo faz referência à importância da reportagem por permitir maior espaço para a investigação e o cruzamento das fontes. Tendo em conta este pressuposto, pode-se concluir que os semanários são os que melhor se lançam à investigação do assunto em estudo por apresentarem mais reportagens em comparação com as notícias.

131O cenário de concorrência que caracteriza o mercado contemporâneo de comunicação social acaba por ser um elemento que atenta contra a perfeição jornalística entendida como o relato objectivo de factos, com a intenção única de proporcionar ao público informações que lhe permitam melhorar a sua leitura e compreensão dos fenómenos.

132Do presente estudo ficou clara a tendência dos jornais estudados de limitar a sua prestação à notícia, citando fontes oficiais, não tanto para cumprir uma agenda de cobertura desenhada segundo o seu compromisso editorial, mas para participar de um debate estimulado, controlado e orientado para prioridades dos poderes político e económico.

133Este facto pode ser compreendido considerando o conjunto de fragilidades estruturais dos jornais, desde as de ordem técnica às económico-financeiras, que condicionam sobremaneira o trabalho da imprensa escrita.

134Por exemplo, o facto de o jornal Notícias ser o único a apresentar artigos na primeira página pode estar associado às figuras político-económicas envolvidas como promotoras das notícias.

135O mesmo se pode dizer em relação ao semanário Zambeze que apresenta sete reportagens todas elas citando fontes não oficiais, isto é, excluindo os actores oficiais.

136Esta tendência explicará a fraca presença de artigos de opinião relacionados com a exploração de recursos naturais, o que, por sua vez, se pode entender que seja resultado de um fraco domínio destas matérias por parte dos órgãos de comunicação, em razão do pouco investimento que os mesmos fazem na investigação destas matérias.

137Ainda assim, há que destacar o caso do jornal Savana que, apesar de apresentar apenas duas reportagens, publicou sete artigos de opinião sobre o assunto em análise, o que nos remete para duas possibilidades: ou investe no debate directo sobre o assunto para fugir da tirania das fontes de informação ou publica as suas próprias convicções para influenciar a opinião pública.

138Não havendo iniciativa de accionar uma investigação sobre a exploração dos recursos naturais, os jornais tendem a ficar apegados à agenda que lhes é proposta pelos poderes político e económico, acabando por contribuir muito pouco na construção de uma opinião pública esclarecida sobre a matéria, essencial para uma participação espontânea e consciente das comunidades na protecção do bem comum.

139Mais do que uma dissertação sobre ideias acabadas a respeito deste assunto, a pesquisa permite que se esboce uma nova maneira de ver a relação entre o jornalismo e a exploração dos recursos naturais enquanto matéria-prima que os actores do sector industrial procuram para agudizar as diferenças entre si, com base no tamanho dos seus activos.

140Mais do que isso, os resultados deste estudo denunciam uma fragilidade estrutural dos próprios jornais, que envolve limitações económicas, fraca formação técnica dos jornalistas e lacunas nas disposições legais que degeneram em dificuldades de acesso às fontes de informação.

141Tudo isto concorre para a tendência crescente de se confinar o artigo jornalístico a uma lógica de mercado, que vale mais pelo que vende do que pela profundidade do conteúdo que aborda.

Qual é o tipo de linguagem utilizada na notícia?

Sendo assim, a NOTÍCIA é um relato relativamente curto e objetivo, escrito em 3ª pessoa (em que o narrador é observador e conta os fatos). A linguagem usada é a FORMAL, com sua função referencial, denotativa.

O que explica a coincidência na escolha dos dados iniciais das duas notícias?

Resposta. Resposta: os fatos da onde foi tiradas as notícias devidas.

Como deve ser o texto da notícia sob o ponto de vista da linguagem?

A linguagem deve ser objetiva, acessível e impessoal, atendo-se a representar a realidade dos fatos, sem inserir julgamento pessoal.

Que elementos da notícia dão veracidade a ela?

Veracidade dos fatos Em sua maioria, a notícia é sempre acompanhada de entrevista com testemunhas, especialistas, imagens, que reafirmam a veracidade da informação. Afinal, uma notícia nunca pode conter questões duvidosas ou mentirosas.