Como se chamava o imperador asteca na chegada dos espanhóis no século XVI?

Como se chamava o imperador asteca na chegada dos espanhóis no século XVI?

Montezuma abandona a capital do imp�rio asteca com a chegada dos espanh�is. Depois ele foi preso por Hern�n Cort�s (foto: Reprodu��o)

Ap�s avistar a primeira nau espanhola que aportava � costa do Golfo do M�xico, os moradores nativos daquelas terras acreditaram, em princ�pio, estar diante da “Serpente Emplumada”, divindade do ar, do planeta V�nus e da cultura – associada ao lend�rio Quetzalcoatl, rei de Tula, personifica��o da idade de ouro tolteca. Os astecas se acercaram dos espanh�is. Tocavam a terra com o dedo, levando-o em seguida aos l�bios – “comendo terra” –, cerim�nia que demonstrava respeito e implorava por prote��o. Era m�tuo o espanto entre �ndios e colonizadores, representantes das duas metades do mundo, que nunca antes haviam se cruzado e ali se enfrentavam: “Quem sois? De onde vindes? Onde fica a vossa morada”, interpelaram os espanh�is. “Foi de l�, foi de M�xico que viemos”, retrucaram os astecas. Ao que os conquistadores indagaram: “Se � verdade que sois mexicanos, qual � o nome do rei de M�xico?” Responderam: “Oh, senhores nossos, ele se chama Montezuma”.

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A tr�gica hist�ria dos povos vencidos do M�xico Central, contada em relatos n�o sob a �tica do conquistador espanhol, mas dos astecas, v�timas destro�adas na epopeia castelhana, � incurs�o � qual convidam os historiadores George Baudot (1935-2002) e Tzvetan Todorov (1939-2017), organizadores da obra Relatos astecas da conquista, lan�ada pela editora Unesp. Uma antologia das hist�rias originais – algumas in�ditas – acompanhadas das ilustra��es desses manuscritos, sobre o desembarque do conquistador Hern�n Cort�s (1485-1547). Os escritos em l�ngua nativa nauatle, mas tamb�m extra�dos de vers�es espanholas do s�culo 16, gritam o massacre que resultou o encontro de duas grandes popula��es que viviam em cantos distintos do planeta e ignoravam a m�tua exist�ncia.

Na Europa e em particular na Espanha, sobram textos sobre o excepcional acontecimento, sempre sob o olhar do vencedor. A invas�o e a coloniza��o da Am�rica, entretanto, originaram uma rica literatura de autoria dos �ndios, que coloca em xeque as narrativas – conscientes ou n�o – t�o difundidas por colonizadores, de que o continente americano seria desabitado ou povoado unicamente por “selvagens”, o que, em certa medida, “isentaria” o seu exterm�nio de ser entendido como um genoc�dio. N�o � toa, esses escritos do s�culo 16 foram, em princ�pio, proibidos, escondidos, censurados ou at� destru�dos. Mas no s�culo 19, a reboque dos movimentos de independ�ncia das antigas col�nias americanas, a hist�ria renasce das cinzas, em princ�pio em edi��es restritas ao grande p�blico.

Como se chamava o imperador asteca na chegada dos espanhóis no século XVI?

Revolta dos nativos contra os invasores europeus, depois de recep��o amistosa na costa (foto: Reprodu��o)

OS TERR�VEIS PRESS�GIOS

� por meio da publica��o do mais importante relato dispon�vel sobre a conquista em l�ngua nauatle – o livro XII do C�dice Florentino, uma enciclop�dia do mundo asteca, realizada sob a dire��o do franciscano Bernardino de Sahag�n – que Baudot e Todorov abrem ao leitor o trauma da conquista espanhola: ali, o relato hist�rico do sofrimento e desespero diante de seu universo estilha�ado, se funde � inspira��o filos�fica t�o presente na literatura herdada dos mexicas pr�-colombianos, que registravam desde a �poca dos toltecas nos s�culos 10-12, a mem�ria dos acontecimentos. Nele, os astecas relatam oito maus press�gios que antecederam a chegada dos espanh�is.

“Dez anos antes da vinda dos espanh�is, um press�gio de desgra�a apareceu pela primeira vez no c�u, como uma chama de fogo, como uma l�mina de fogo, como uma aurora. Parecia chover em pequeninas gotas, como que a perfurar o c�u: alargou-se na base e estreitou-se no v�rtice. Bem no meio do c�u, bem no centro do c�u chegou, at� o mais profundo cora��o do c�u (…) Mostrou-se durante um ano inteiro (…) Quando se mostrava, as gentes soltavam gritos, davam tapas nos l�bios, sobressaltavam-se, abandonavam o trabalho”. O inc�ndio do templo consagrado a Uitzilopochtli – o “Beija-Flor da Esquerda”, divindade solar e deus-guia da tribo asteca que presidia o pante�o mexicano – foi entendido como um segundo press�gio. A ele seguiu-se o “estilha�o do Sol” - a descarga de um raio – que atingiu o templo de Xiuhtecuhtli, “Senhor de Turquesa”, onde se imolavam as quatro v�timas rituais do fogo. Nesse ritual,o soberano oferecia o fogo no m�s de Izcalli – 18º m�s do calend�rio asteca, considerado do renascimento.

A queda de um cometa � luz do dia, foi o quarto press�gio. E, o quinto, um redemoinho no grande lago em M�xico-Tenochtitlan –, seguido do sexto press�gio: os gemidos de uma mulher noite adentro, acompanhados dos gritos “meus filhos queridos, chegou a hora da nossa partida!”. Foram ainda sinais funestos, um p�ssaro grande e cinzento, que possu�a um espelho redondo, esf�rico, sobre a sua cabe�a, onde se viam o c�u, as estrelas, a constela��o de g�meos, que fora pescado em uma rede no lago, que muito impressionou Montezuma, grande tlatoani dos astecas, o �ltimo imperador, aquele mesmo que receberia Hern�n Cort�s e morreria misteriosamente depois de ter sido preso.

Ao consultar os seus adivinhos sobre o p�ssaro que lhe provocara vis�es, Montezuma disse-lhes: “N�o sabeis o que eu vi? Umas pessoas que pareciam vir correndo de todos os lados”. O oitavo e �ltimo press�gio funesto foi assim registrado pelos astecas: “Muitas vezes apareciam homens, deformados, de duas cabe�as, mas um corpo s�. Levavam-nos ao Col�gio do Negro, mostravam-nos a Montezuma; assim que ele os via, desapareciam”.

Quando chegou a Montezuma a novidade daquela estranha presen�a na costa mexicana, as diferen�as e ao mesmo tempo a not�cia da superioridade t�cnica dos “deuses”, Montezuma fica paralisado, em estado de estupor. Compreende que o fato significa a derrocada do antigo sistema de pensamento: “Quem os conduziu a este lugar? Por que isso n�o aconteceu no tempo dos nossos ancestrais? N�o h� outro rem�dio, senhores, sen�o decidirdes o vosso cora��o e a vossa alma a sofrer com paci�ncia o que h� de vir, porque eles j� est�o �s nossas portas”, discursa Montezuma aos outros reis mexicanos, segundo relata o dominicano Diego Dur�n, na obra Hist�ria das �ndias da Nova Espanha. Os �ndios se aturdiam”, salienta Mu�oz Camargo, filho de um conquistador e de uma �ndia, autor da obra A hist�ria de Tlaxcala, na��o que lutou ao lado dos espanh�is contra os astecas. N�o se tratava de temor por perder reinos, terras e senhorios, mas por compreender que o mundo, tal qual o conheciam, chegara ao fim, que todas as gera��es estavam fadadas a desaparecer.

NATIVOS ADEREM AOS ESPANH�IS

Ao primeiro desembarque espanhol na costa mexicana, a expedi��o de Hern�ndez de C�rdoba, em 1517, n�o havia ali um Estado homog�neo, mas, antes, um conjunto de na��es dominadas pelos astecas de M�xico-Tenochtitlan, com rela��es entre vizinhos frequentemente hostis. Os tlaxcaltecas, que n�o integram o Imp�rio Asteca, s�o frequentemente v�timas de agress�es; por isso aliam-se ao invasor. As queixas se acumulam tamb�m entre os habitantes de Teocalhueyacan: “Eis que Montezuma e os mexicanos nos fazem muito infelizes, muito nos atormentam”, afirmavam. � assim que a chegada dos espanh�is e a possibilidade de insurg�ncia contra o Imp�rio Asteca desperta velhos rancores, o que beneficia a conquista por Hern�n Cort�s, que ali aporta em 21 de abril de 1519.

Com um eficiente sistema de informa��es, Cort�s mapeia as dissens�es entre os povos nativos e as “cultiva com zelo”, atraindo para si uma popula��o ap�s a outra, revelam os autores. “Mas o bom Marqu�s tamb�m n�o desistiu de ganhar essas na��es e enviou embaixadas e miss�es para lhes dizer que ele estava l� para livr�-las da tirania e do jugo mexicano”, assinala o dominicano Diego Dur�n, em Hist�ria das �ndias da Nova Espanha. O resultado de tal estrat�gia � que, na �ltima fase da guerra, os astecas enfrentam um enorme ex�rcito de �ndios que se colocou sob o comando do conquistador Cort�s.

O C�dice Ram�rez, que constitui um conjunto de escritos sobre a hist�ria e costumes dos astecas, reunidos pelo jesu�ta Juan de Tovar, descreve cena que ilustra a derrocada asteca: Hernando Ixtlilx�chitl, principal aliado de Cort�s, convertido ao cristianismo e batizado, derruba os �dolos que antes venerara. “Cort�s se apoderou da m�scara, dom Hernando agarrou pelo cabelo o �dolo que ele outrora adorava, cortou-lhe a cabe�a. Erguendo-a bem alto, mostrou-a aos mexicanos e disse-lhes com voz vibrante: ‘Aqui vedes o vosso falso deus e o pouco que vale; reconhecei a vossa derrota e recebei a lei de Deus, que � a verdadeira’”. Para os autores, trata-se pois, da imposi��o da f� crist�, que d� sentido � cruel hist�ria da conquista.

FORMA��O DO IMP�RIO ASTECA

Ao desabrochar do s�culo 16, o Imp�rio Asteca tinha 38 prov�ncias, que somavam cerca de um milh�o habitantes, dos quais cerca de duas centenas de milhares viviam na maior cidade, Tenochtitl�n. Esse povo chegara ali 200 anos antes, ap�s longa peregrina��o, iniciada a partir de 1168, quando deixara Aztl�n, regi�o de localiza��o imprecisa, ao Norte. Em refer�ncia a Aztl�n foram chamados “astecas”. Tamb�m foram denominados mexicas, porque, durante esta longa marcha, assim os deuses os teriam batizado em homenagem a um sacerdote.

 Pouco se sabe sobre essa marcha, em que astecas andaram �s cegas, conduzindo sobre os ombros um envolt�rio com objetos relacionados ao deus Uitzilopochtli, divindade solar representada por um colibri. Sabe-se que buscavam o sinal que indicasse onde deveriam se estabelecer.

Em 1325, encontraram-no: a �guia levando � boca uma serpente, pousada sobre um cacto, elevado sobre uma pedra, cuja representa��o est� no bras�o da atual bandeira do M�xico. O sinal se fez, em uma localidade pantanosa, numa das ilhas do lago Texcoco, onde nenhum outro povo at� ent�o arriscara viver. Em meio a uma ilhota de uma regi�o pantanosa, localidade em que hoje se encontra a Cidade do M�xico, foi fundada Tenochtitl�n, a capital do Imp�rio Asteca, que exibiria a sua arquitetura sustent�vel e, com o passar dos s�culos, se estenderia por milhares de hectares de ilhas e p�ntanos. Tornou-se uma metr�pole de 15 quil�metros quadrados, incrustada num lago, entrecortada por uma rede de canais e aquedutos. Ligava-se �s margens por cal�adas artificiais. N�o fossem os seus habitantes t�o estranhos aos olhos europeus, poderia ser comparada a Veneza, s� que muito mais bela e limpa.

Com intensa vida ritual�stica, os astecas cultivavam h�bitos de leitura, escreviam, tinham uma compreens�o evolu�da de astronomia e exerciam v�rios of�cios. O sistema educacional oferecia dois tipos de escola – uma para as camadas sociais baixas, com conte�do quase que exclusivamente militar; a outra elitizada, para o ensino da escrita dos c�dices e os calend�rios. Adotaram um calend�rio solar e outro para a agricultura. Esta era desenvolvida nas chamadas chinampas – que eram plataformas artificiais de terra, constru�das com estacas e lodo do lago, de tal forma que a �rea de plantio n�o dependia das chuvas.

MASSACRE COM A PRIS�O DE MONTEZUMA

Cavalos, “bichos estranh�ssimos”, desconhecidos nas Am�ricas at� ent�o –, espadas de metal, arcabuzes e canh�es foram empregados por espanh�is para enfrentar o grande Imp�rio Asteca. Com 500 homens, Hern�n Cort�s chegara de Cuba � costa mexicana em 1519. N�o encontrou muita resist�ncia nos primeiros contatos. Mas � medida que a expedi��o avan�ou ao centro do territ�rio, onde estavam os povos mais desenvolvidos, a viol�ncia do choque entre espanh�is e astecas foi crescente.

Se por um lado o alvo de Cort�s era derrubar o imp�rio do tlatoani (governante) mexica Montezuma, colonizando-o para a Coroa espanhola; por outro, incorporou alian�as com os advers�rios dos astecas, como os tlaxcaltecas, e ordenou ataques surpresas, como em Cholula, promovendo massacres. O C�dice Florentino narra um dos confrontos, com vit�ria dos conquistadores: “Mas esses otomis, essa gente de Tecoac, os espanh�is os destru�ram por completo, aniquilaram, esmagaram, fizeram mingau deles”.

Montezuma, que recebeu amistosamente Cort�s quando este chegara � capital, foi feito prisioneiro num lance ousado do conquistador. Era mantido “sob grilh�es”, como ref�m, enquanto as for�as de Cort�s tomavam p� do imp�rio e de seu sistema pol�tico, cultural e econ�mico. Trai�oeiramente, deu-se ent�o uma das carnificinas mais c�lebres promovida contra os astecas, que significou um divisor de �guas nas rela��es entre colonizadores e nativos. Os relatos ind�genas guardam a viva mem�ria do chamado massacre do Templo Maior, que se deu durante a festa de Uitzilopochtli. Cort�s havia se ausentado da capital para combater as tropas do concorrente P�nfilo de Narv�ez, chegadas de Cuba. Pedro Alvarado, encarregado do comando da guarni��o de M�xico-Tenochtitlan, “autoriza” a celebra��o religiosa. A elite asteca chega desarmada ao templo. Mas ali � presa e dizimada.

Nas palavras do C�dice Florentino: “Algumas foram feridas pelas costas, e suas entranhas se esparramaram no ch�o. De outras eles rebentaram a cabe�a, esmigalharam, reduziram a cabe�a delas a p�. E de outras, eles atingiram os ombros, vieram furar, vieram despeda�ar o corpo delas (...) E foi em v�o que as pessoas correram. Ningu�m fazia sen�o engatinhar, arrastando as suas tripas; era como se elas se enredassem nos p�s de quem queria fugir”. Na sequ�ncia ao massacre, Montezuma � apunhalado pelos espanh�is – que jamais assumiram a responsabilidade de sua morte. Depois, entregaram o corpo do soberano morto aos �ndios. Os relatos astecas, nesse momento, demonstram a rela��o amb�gua que se estabeleceu entre os mexicanos e Montezuma, a quem alguns acreditaram, os havia tra�do. Houve rev�s pela crueldade de Pedro de Alvarado. Naquela que ficou conhecida como a Noch Triste, os astecas se vingam em combate, cercado o pal�cio e matando espanh�is que sa�ram em fuga.

 ‘FOMOS TOMADOS DE ADMIRA��O’

Diferentemente do que sugere muito da hist�ria contada pelos vencedores, a civiliza��o asteca era muito evolu�da. Tanto que Bernal Dias del Castillo, escriv�o de Hern�n Cort�z, ao avistar Tenochtitl�n, registrou o seu espanto:“Vendo tantas cidades e vilas situadas na �gua e outras tantas aldeias em terra firme, fomos tomados de admira��o. Por causa das grandes torres e pir�mides que se elevavam da �gua, alguns soldados chegavam mesmo a se perguntar se aquilo n�o era um sonho.”

Tenochtitl�n, em seu tempo glorioso, exerceu hegemonia em toda a regi�o, dominando povos at� a atual Guatemala. Em agosto de 1521, a expedi��o espanhola de Hern�n Cort�s, fortalecida pela presen�a dos advers�rios locais dos astecas, derrubou o centro mexica. Diferentemente do que frequentemente se acredita, n�o foi uma conquista r�pida. Os astecas resistiram, sobretudo ap�s o massacre do Templo. Esse � um sofrimento registrado em c�dices que, quase meio mil�nio depois, s�o resgatados nesta obra, em revela��o ao outro lado da hist�ria, o lado dos vencidos.

RELATOS ASTECAS DA CONQUISTA
Orgs.: Georges Baudot e Tzvetan Todorov
Editora Unesp
580 p�ginas
R$ 94 R$ 75,20 (e-book)

Quem era o imperador dos astecas na época da chegada dos espanhóis?

Quando os espanhóis desembarcaram nos territórios astecas (atual México), Cortez e sua tropa foram recepcionados por emissários enviados pelo imperador asteca Montezuma.

Qual era o imperador dos astecas?

Os astecas foram uma civilização mesoamericana que habitava a região do atual México e mantinham sob domínio de seu imperador, Montezuma, uma vasta população e vários territórios.

Qual foi o Europeu que liderou a conquista dos astecas no século XVI?

A expedição espanhola liderada por Hernan Cortés realizou a conquista do Império Asteca entre os anos de 1519 e 1521 e iniciou a colonização do México. A conquista do Império Asteca foi um dos episódios de dominação da América Espanhola realizada no início do século XVI.

Como os astecas eram chamados antes da chegada dos espanhóis?

Originários dos povos mexicas, estabeleceram-se no Vale do México após avistarem um presságio dos deuses. Inicialmente, estavam sob a tutela dos tepanecas, mas uma revolta no século XV garantiu a independência dos astecas.