Introdu��o Show Segundo Kunz:
Assim, a partir de observa��es e viv�ncias como docentes, e o estudo de textos que comprovam a dimens�o exacerbada que o esporte tomou na sociedade atual, ficamos interessados em pesquisar na literatura espec�fica, a origem do esporte moderno a fim de entendermos como esse importante elemento da cultura corporal de movimento, portanto, conte�do da educa��o f�sica escolar, conforme Coletivo de Autores (1992); veio a se tornar esse fen�meno que Kunz (2006) exp�e no trecho citado acima. Buscaremos em nossa pesquisa, as origens primitivas do esporte, o surgimento do esporte moderno, o inicio dos jogos ol�mpicos da era moderna, alguns exemplos da influencia do esporte na pol�tica e na sociedade mundial e brasileira no decorrer do s�culo XX, como tamb�m a perspectiva hist�rica do movimento �esporte para todos� (EPT) desde sua cria��o na Noruega. Os prim�rdios do esporte e dos Jogos Ol�mpicos As ra�zes do desporto t�m origem no in�cio da vida primitiva com os exerc�cios para o corpo, necess�rios para a sobreviv�ncia do ser humano, como as caminhadas, a ca�a, a nata��o, a defesa, e nos momentos de lazer, com a dan�a (LYRA FILHO, 1973). Assim, o esporte nasceu a partir da necessidade do homem de se movimentar e seu fasc�nio pelo jogo, que segundo relatos pode anteceder at� mesmo a cultura (PEREIRA, 1980). Para entender a ess�ncia do esporte, e necess�rio vincul�-lo ao jogo, onde o jogo � o elo entre a cultura e o esporte (TUBINO, 1993). Existem duas correntes diferentes no que se diz sobre a origem do esporte: uma relaciona o surgimento do esporte com finalidades educacionais desde os prim�rdios; a segunda v� o esporte como fen�meno biol�gico, e n�o hist�rico (TUBINO, 1993). Tubino (1993) ressalta que o ponto em comum entre essas linhas de pensamento que se tornou a principal bandeira do desporto: a competi��o, onde se houver esporte deve haver disputa. A competi��o se origina de uma vers�o mais agressiva do jogo (PEREIRA, 1980). Quando deixou de ser n�made o homem passou a sofrer ataques em suas terras, assim a solu��o foi o agrupamento, que resultaram nas primeiras na��es, e id�ias de atividade f�sica, onde estavam inclu�das as pr�ticas com objetivos higienistas no oriente e a gin�stica grega com car�ter educativo e preparat�rio para guerra (TUBINO, 1993). Ap�s ultrapassarem as condi��es prim�rias de sobreviv�ncia, as civiliza��es vivenciaram as primeiras experi�ncias do que futuramente se tornariam as atividades esportivas, como por exemplo, os eg�pcios que j� praticavam esgrima, arremessos e remo; e vale ressaltar que essas pr�ticas ocorriam desde 4.000 A. C. (PEREIRA, 1980). Os jogos com bola tamb�m se mostraram presentes em diversas civiliza��es primitivas, inclusive nos �ndios das Am�ricas (LYRA FILHO, 1973). A Gr�cia foi � sociedade mais voltada � cultura esportiva na hist�ria antiga, onde os espartanos eram belicistas e adoradores dos exerc�cios corporais, e os atenienses como intelectuais, interpretavam os jogos esportivos como parte da cultura, da religi�o, e como meio de educa��o (PEREIRA, 1980). Os gregos tinham no esporte e na atividade corporal, meio de forma��o para os jovens, iniciando aos seis anos de idade com a gin�stica (MARINHO, 1980). O esporte da antiguidade, observado desde a pr�-hist�ria teve como principal manifesta��o os Jogos Gregos que compreendiam as Olimp�adas, os Jogos F�nebres e os Jogos P�ticos (TUBINO, 1987). Esses jogos foram os primeiros registros de uma competi��o organizada e marcaram a hist�ria esportiva por representarem a id�ia inicial de esporte (TUBINO, 1993). Os Jogos Ol�mpicos foram realizados 293 vezes em 12 s�culos, de quatro em quatro anos, em Ol�mpia, na �lida, em homenagem a J�piter, e deveriam elevar a Zeus, o Deus supremo (TUBINO, 1993). Segundo o autor, havia um regulamento r�gido, os escravos poderiam somente assistir, enquanto as mulheres nem mesmo observar. Cada cidade do imp�rio era representada por atletas, poetas, fil�sofos e dignit�rios (PEREIRA, 1980). N�o podiam participavam escravos, b�rbaros, e condenados pela justi�a, onde todos os competidores deveriam se inscrever no prazo determinado, fazer um est�gio no gin�sio de �lida e realizar o juramento Ol�mpico (MARINHO, 1980). Segundo Marinho (1980), os esportes em disputa eram, o atletismo, com as corridas, o pentatlo, os lan�amentos; as lutas de pugilato e pancr�cio; o hipismo juntamente com a corrida de carros, dentre outras modalidades. N�o raramente as lutas terminavam em espet�culos de crueldade, a ponto de Arist�teles, respeitado fil�sofo grego, criticar a exagerada viol�ncia dos atletas e dizer que determinadas atitudes dos esportistas s�o t�o mal�ficas quanto o sedentarismo (LYRA FILHO, 1973). Quanto � premia��o, o vencedor ganhava uma coroa de ramos no templo de Zeus, e tamb�m pr�mios como escravos, isen��o de impostos, pens�o vital�cia, etc. (TUBINO, 1993). Ap�s a cerim�nia era oferecido um banquete a todos os presentes (MARINHO, 1980). Nesse momento, o desporto se mostra pela primeira vez como fen�meno social, onde durante os Jogos Ol�mpicos ocorria uma esp�cie de tr�gua sagrada no mundo grego, proibindo qualquer tipo de guerra (PEREIRA, 1980). Pereira (1980) afirma que fil�sofos influentes como Plat�o, S�crates e Arist�teles referiam-se ao valor do esporte em aspectos educacionais, formadores, morais, est�ticos, religiosos, e que somente a for�a dos jogos era capaz de unificar a Gr�cia, mesmo que de tempos em tempos, fato a poderosa igreja n�o permitia. Os �ltimos Jogos Ol�mpicos da era antiga foram realizados em 393 D. C. j� deteriorados em fun��o da domina��o de Roma sobre a Gr�cia, onde o imperador Teod�sio ordenou sua extin��o na tentativa de abolir as festas pag�s (PEREIRA, 1980). Contudo, ficou alguma influ�ncia cultural grega, com o pentatlo e jogos nos moldes das Olimp�adas como os Jogos Augustos e os Jogos Capit�lios (PEREIRA, 1980). Os romanos, por priorizarem a conquista de territ�rio, davam aos eventos esportivos um car�ter de espet�culo popular, com a finalidade de entorpecer a plebe com vinho e diverti-los com lutas sangrentas de gladiadores, evitando dessa forma revoltas populares, pol�tica essa conhecida como �p�o e circo� (PEREIRA, 1980; TUBINO, 1993). Segundo Pereira (1980), os exerc�cios f�sicos, eram tidos somente como pr�ticas complementares e n�o base na forma��o f�sica e moral dos jovens como na tradi��o grega. A atividade corporal ficou reduzida aos jogos, as tarefas agr�colas e militares (MARINHO, 1980). Conforme Marinho (1980), os romanos consideravam os esportes e a gin�stica imoral pelo nudismo dos praticantes. Durante a idade M�dia, as atividades f�sico-desportivas foram se distanciando cada vez mais da igreja e assim tornaram-se irrelevantes, com os jovens nobres da �poca encaminhados a educa��o religiosa ou a cavalaria, restavam-lhes apenas exerc�cios ligados ao adestramento h�pico e ao combate, como as Justas, a esgrima e as corridas (PEREIRA, 1980; MARINHO, 1980). Os esportes, como qualquer atividade corporal fora do recomendado pela igreja, eram condenados e considerados pecado grave (BRASIL, 2004). Esse per�odo p�s-romano caracteriza-se pela transforma��o das atividades esportivas em jogos populares, e apresenta a primeira distin��o entre os esportes da elite e os de massa, tendo origem tamb�m duas peculiaridades fundamentais ao esporte: a lealdade e o esp�rito de equipe (PEREIRA, 1980). Eram muito comuns os torneiros da cavalaria, onde ocorriam disputas de justas, que aos poucos foram ganhando regras para diminuir o desgaste f�sico dos cavaleiros, mas nunca chegaram a perder o status de batalha (MARINHO, 1980). Durante o Renascimento, os esportes foram reavivados, principalmente entre os educadores da �poca, como o italiano Vittorino da Feltre (1378-1446), que reaproximou pr�ticas como a gin�stica, a nata��o, a corrida, a luta, dentre outras, da educa��o, baseado nos princ�pios gregos de harmonia entre corpo e mente (MARINHO, 1980). Segundo Marinho (1980), outro pedagogo a defender o esporte como meio formador, foi Maffeo Veggio (1407-1458), que publicou em sua obra �Educa��o da crian�a� que os jovens deveriam se movimentar atrav�s de atividades sem viol�ncia, acabando assim com a pregui�a do corpo; sendo indicados os jogos que n�o fossem nem al�m nem aqu�m, das capacidades f�sicas dos indiv�duos, e jamais degradantes. Neste momento foram determinadas algumas bases que permanecem at� hoje, como a pedagogia do esporte, originaria da vis�o do desporto numa face ideal�stica e como pilar para os conhecimentos, inspirado na perspectiva grega (PEREIRA, 1980). O surgimento do esporte moderno Com o decl�nio dos jogos populares na Europa do s�culo XVII e XVIII em decorr�ncia da industrializa��o e da urbaniza��o, fato que levou os indiv�duos a novos padr�es de vida, tornando-se incompat�veis essas pr�ticas, os jogos tradicionais foram perdendo suas principais fun��es, que estavam relacionadas �s festas comemorativas ou religiosas (DUNNING, 1979 apud BRACHT, 2011). Segundo Da Costa (1988), muitas atividades rurais com cunho de esporte espont�neo e ritualista foram extintas ap�s o �xodo da popula��o para as cidades. Ap�s serem reprimidos pelo poder p�blico, Bracht (2011) afirma que o �nico lugar onde os jogos populares sobreviveram foi no interior das escolas, onde n�o eram vistos como amea�a a propriedade e a ordem p�blica. Dentro desse ambiente escolar os jogos tradicionais foram sendo regulamentados e se tornando pr�ximos ao que chamamos atualmente de esporte moderno (BRACHT, 2011). Os estudantes formularam seus pr�prios jogos, como o futebol e a ca�a, mesmo reprimidos pelas autoridades escolares por consider�-los violentos e perigosos (BETTI, 1991). O termo �esporte moderno� tem origem segundo Martins e Altmann (2007), em 1986 com Norbert Elias e Eric Dunning com o intuito de diferenci�-lo do esporte antigo. A divis�o entre esporte moderno e jogos tradicionais ocorre a partir da autonomiza��o do campo esportivo em compara��o aos outros campos sociais como o religioso, e essa ruptura se mostra na formula��o de tempo e locais espec�ficos determinados � pr�tica do esporte, em oposi��o aos jogos tradicionais, que aconteciam em espa�os ordin�rios durante as atividades do dia a dia nos momentos de lazer (MARTINS; ALTMANN, 2007). Conforme Martins e Altmann (2007), as principais caracter�sticas do esporte moderno s�o:
A primeira atividade com as caracter�sticas do esporte moderno foi � ca�a a raposa, na Inglaterra do s�culo XVIII e in�cio do s�culo XIX, onde essa pr�tica tornou-se altamente especializada, com organiza��es e conven��es pr�prias (MARTINS; ALTMANN, 2007). Segundo Bracht (2011), o esporte moderno tem como referencia uma atividade corporal de movimento competitiva, que surgiu na Europa no s�culo XVIII e expandiu-se para o resto do mundo. Foi fundamentada em meados do S�culo XIX nas escolas da Inglaterra e pedagogicamente n�o restringia a competi��o (TUBINO, 1987). Pode-se dizer que o desporto moderno, foi resultado de uma mudan�a dos elementos da cultura corporal do movimento das classes populares e burguesas da Inglaterra, como os jogos populares, que contava com diversos jogos com bola (BRACHT, 2011). Conforme Sigoli e De Rose Jr. (2004):
Thomas Arnold, pedagogo ingl�s e diretor do col�gio R�gbi, implementou as atividades f�sicas da burguesia na educa��o, deixando que os alunos formulassem as regras e os c�digos pr�prios, baseado numa concep��o de jogo honesto que tinha como meta a forma��o moral e o prazer dos jogadores (TUBINO, 1987; 1993). Sua proposta era diminuir o tradicionalismo pedag�gico brit�nico e incentivar a pr�tica dos jogos populares nas escolas p�blicas, dando inicio a chamada �revolu��o esportiva� (PEREIRA, 1980). As caracter�sticas determinantes eram; ser um jogo; ser uma competi��o; ser uma atividade formadora (TUBINO, 1987). Tubino (1993) afirma que mais tarde com a populariza��o dessas atividades, houve a necessidade de algum �rg�o que coordenasse as disputas, surgindo assim �s federa��es, clubes e tamb�m o associacionismo. A iniciativa de Thomas Arnold obteve sucesso, e disseminou rapidamente a pr�tica esportiva pela Europa e por todo Mundo, com a devida ajuda da Marinha Inglesa e sua expans�o territorial e comercial (PEREIRA, 1980; SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Sigoli e De Rose Jr. (2004) afirmam que:
No decorrer do s�culo XIX, diversas pr�ticas de lazer que exigiam esfor�os f�sicos tomaram para si caracter�sticas do esporte moderno, com suas regras, especialmente aquelas pautadas pelas id�ias de �justi�a� e na igualdade de �xito para todos, passando a serem mais rigorosas, expl�citas e diferenciadas (MARTINS; ALTMANN, 2007). Betti (1991) afirma que as classes m�dia e trabalhadora tiveram acesso � pr�tica esportiva a partir das conquistam trabalhistas, destacando-se a diminui��o da jornada de trabalho, o que acarretou em mais tempo de �cio. A partir de ent�o ocorreu � prolifera��o em massa dos clubes esportivos e organiza��es regionais (MCINTOSH, 1975 APUD BETTI, 1991). Assim, a racionaliza��o extremada, caracter�stica marcante do esporte atual, teve in�cio a partir da entrada da classe trabalhadora no campo esportivo e nas competi��es (DA COSTA, 1988). Segundo Da Costa (1988), a burguesia sedent�ria, instrumentou regras, para competir em igualdade de condi��es com os oper�rios, muito mais aptos e ativos fisicamente. Conforme o autor foi neste momento que despontaram as primeiras no��es da divis�o entre profissionalismo e amadorismo na pr�tica esportiva, com o objetivo de segregar a classe trabalhadora, que tinha o esporte como meio de vida, diferente da burguesia, que tinha no desporto uma oportunidade de conv�vio social e prazer. Betti (1991, p.45) afirma que:
Para a classe empresarial na �poca, o esporte como alternativa nos momentos de lazer da classe oper�ria, se mostrou uma garantia de m�o de obra produtiva e alienada, mantendo o f�sico do empregado apto a suportar as longas jornadas laborais; dando continuidade �s id�ias de produtividade, rendimento, respeito �s regras pr�-determinadas e tempo, conceitos esses presentes nas f�bricas e bases do capitalismo moderno; como tamb�m, fomentando um �campo livre� para o trabalhador extravasar a tens�o do dia a dia, acalmando o sentimento de indigna��o contra as condi��es de vida e trabalho, evitando assim revoltas populares (BRACHT, 2011). Segundo Tubino (1993, p.19):
Ap�s discorrermos sobre a origem do movimento esportivo moderno, direcionaremos nossa pesquisa no cap�tulo seguinte, ao inicio dos Jogos Ol�mpicos da Era Moderna, por considerarmos o evento como fator culminante para o desenvolvimento do esporte quanto �fen�meno social�. Os Jogos Ol�mpicos da Era Moderna Segundo Betti (1991), os fatores determinantes para globaliza��o da entidade esportiva foram o renascimento dos Jogos Ol�mpicos e a constitui��o do Movimento Ol�mpico Internacional a partir do Comit� Ol�mpico Internacional (COI), em 1896. Ao Final do s�culo XIX, o Humanista e Aristocrata franc�s Pierre de Coubertain, percebendo a dificuldade de se preservar a paz no mundo, vislumbrou a possibilidade de promover a paz atrav�s do esporte, tal qual ocorria na tr�gua sagrada dos jogos Ol�mpicos da Gr�cia antiga (BETTI, 1991; TUBINO, 1993). Assim, pautado na filosofia educativa do esporte disseminada pelo pedagogo ingl�s Arnold Thomas, Coubertain idealizou a realiza��o dos primeiros Jogos Ol�mpicos da Era Moderna (BETTI, 1991; TUBINO, 1993). Conforme Tubino (1993, p.18-19):
Segundo Sigoli e De Rose Jr (2004):
Assim, no ano de 1896 em Atenas foram realizados os primeiros Jogos Ol�mpicos Modernos, com uma participa��o de 285 competidores representando 13 pa�ses, e j� constando todo o ritual Ol�mpico (PEREIRA, 1980; TUBINO, 1993). O projeto de Coubertain almejava instituir um ideal Ol�mpico, formado por um grupo de id�ias nobres, que todos os participantes eram obrigados a respeitar (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Segundo Betti (1991, p. 48):
O princ�pio b�sico do ideal ol�mpico � o amadorismo, onde se teorizava uma pr�tica descompromissada das atividades esportivas, sendo proibida a remunera��o aos atletas (CARDOSO, 2000 APUD SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Segundo Tubino (1992) n�o se admitia profissionalismo entre os participantes, e os casos descobertos eram punidos severamente. As principais modalidades eram o atletismo, ciclismo e o remo, e curiosamente, o evento n�o apresentava grande relev�ncia social na �poca, perdendo em prestigio e p�blico para a �Feira Mundial� (TUBINO, 1992). O Comit� Ol�mpico lan�ou a Carta Ol�mpica, que tinha como prioridades: o aprimoramento f�sico e moral, que s�o bases do esporte; educar os jovens numa perspectiva de amizade entre os povos no intuito de construir um mundo pac�fico; espalhar o esp�rito ol�mpico pelo mundo, originando a amizade internacional e unir de quatro em quatro anos atletas de todo o mundo (BINDER, 2001 APUD SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Coubertain idealizava que o Comit� Ol�mpico Internacional e o Movimento Ol�mpico deveriam ser: �[...] institui��es apol�ticas e independentes que visavam promover o esporte pelo mundo [...]� (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004, p. 115). A participa��o feminina s� teve in�cio a partir de 1920, mesmo sob a desaprova��o do idealizador Pierre de Coubertain que considerava a mulher fr�gil e respons�vel por cuidar do lar (TUBINO, 1992). Segundo Tubino (1992) eram disputadas modalidades exclusivas para o g�nero, como o nado sincronizado e a gin�stica r�tmica. Com o aumento da popularidade das Olimp�adas, devido ao espa�o conquistado na m�dia que noticiava os feitos esportivos dos atletas, o evento passou a gerar um sentimento patri�tico tanto nos participantes, como na popula��o dos pa�ses, enaltecendo s�mbolos nacionais como bandeiras e hinos que eram exibidos a todo o momento nas cerim�nias de abertura e premia��o (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Assim, percebendo o potencial pol�tico que o esporte tinha de mobilizar o povo, os governos passaram a investir na especializa��o e treinamento de atletas como jamais visto, levando a cria��o das pol�ticas p�blicas para o desporto e das �Ci�ncias do Esporte� (BETTI, 1991; GONZ�LEZ, 1993 APUD SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Dessa forma o esporte foi crescendo, junto com o n�mero de modalidades e praticantes, paralelamente � interven��o e controle do estado na maioria das na��es (TUBINO, 1993). Conforme Tubino (1993) o desporto passou a ignorar a perspectiva pedag�gica idealizada por Coubertain, e foi aos poucos se apropriando do princ�pio do rendimento, que conforme Bracht (2011) associou-se assim cada vez mais o esporte aos pressupostos do capitalismo moderno na busca por rendimento. Segundo Da Costa (1988), o pr�prio Bar�o de Coubertain n�o estava satisfeito com os rumos do esporte, e tentou amenizar os exageros em 1930, publicando a �Carta da Reforma Esportiva�, onde para o idealizador das Olimp�adas: �[...] o esporte estaria sendo acusado na �poca, de contribuir para a �fadiga f�sica�, regress�o intelectual e difus�o do esp�rito mercantil [...]� (DA COSTA, 1988, p. 102). Na carta, Coubertain culpa os educadores, o poder p�blico, as federa��es e a m�dia pelos rumos do esporte e determina que fossem claras as defini��es de esporte para desenvolver a cultura f�sica e para competi��o; tamb�m incentiva o desporto individual para adultos e a ludicidade no esporte da juventude (DA COSTA, 1988). Com certeza, os Jogos Ol�mpicos foram os principais respons�veis pela universaliza��o da Institui��o Esportiva, visto que propagaram um modelo esportivo com padr�es de funcionamento, regras e normas de conduta, mas tamb�m acarretaram conflitos internos entre pa�ses (BETTI, 1991). Durante a evolu��o esportiva, conforme Sigoli e De Rose Jr. (2004), as nobres id�ias de Coubertain foram usadas para objetivos que n�o aqueles previstos na Carta Ol�mpica, onde os governos passaram a se utilizar do esporte em benef�cio pr�prio na luta por prest�gio mundial para continuarem com os regimes pol�ticos impostos, transformando as Olimp�adas e os Campeonatos Mundiais em uma disputa de interesses pol�ticos e econ�micos entre na��es e corpora��es. � para est� dire��o que nosso estudo se voltar� no capitulo seguinte, discorrendo sobre essa absurda rela��o entre esporte e pol�tica. O esporte em busca da gl�ria da na��o Citaremos neste cap�tulo, alguns exemplos hist�ricos no Mundo e no Brasil, de como o estado influenciou, ou tentou influenciar a sociedade, direta ou indiretamente, utilizando-se de competi��es esportivas, como ferramenta de manipula��o de massa. Come�aremos abordando os Jogos Ol�mpicos de Berlim, na Alemanha, realizados em 1936, onde Tubino (1993) afirma que foi esta a primeira tentativa de um governo utilizar-se das Olimp�adas como elemento de propaganda pol�tica, a fim de validar e fundamentar regimes governamentais e ideais pol�ticos e/ou anti-semitas perante o povo. Hitler, ditador alem�o, aproveitando que os jogos eram na capital de seu pa�s, Berlim, transformou o evento em um espet�culo da propaganda nazista, para demonstrar ao mundo a supremacia da ra�a ariana (TUBINO, 1992). Junto com o ditador italiano, o fascista Mussolini, Hitler utilizava-se do desporto para forma��o das juventudes nazista e fascista, numa primeira demonstra��o de uso do esporte como elemento manipulador de massa (TUBINO, 1993). O ditador Alem�o s� n�o contava com o talento de um negro americano chamado Jesse Owens, que ganhou as principais provas de corrida de curta dist�ncia e saltos do programa de atletismo do evento, tirando o brilho dos atletas alem�es, e desbancando a teoria da superioridade ariana (TUBINO, 1993; SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Hitler ao perceber que teria de entregar a medalha a um negro, foi embora sem o fazer, e irritado, por ver sua teoria da superioridade ariana cair diante da multid�o (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Outro momento da humanidade em que o esporte foi influenciado pela pol�tica, se deu com o fim da segunda grande guerra mundial, a partir da d�cada de 1950, em que o mundo se dividiu entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o bloco socialista, representado pela Uni�o Sovi�tica, per�odo esse denominado Guerra Fria (TUBINO, 1993). Segundo Sigoli e De Rose Jr (2004), as pot�ncias brigavam pelo dom�nio mundial, onde o esporte tinha papel fundamental como instrumento ideol�gico e de propaganda em competi��es internacionais, transformando assim as arenas esportivas em campos de batalha. As vit�rias serviam como prova de prest�gio e respeito aos regimes, tornando grande a rivalidade entre os atletas e os pa�ses de blocos diferentes (SIGOLI; DE ROSE JR; 2004). Conforme Tubino (1992, p. 47); �[...] o numero de medalhas passou a ser entendido como um indicador de supremacia do regime [...]�. Tubino (1993), afirma que neste momento surge o �chauvinismo da vit�ria�, que significa vencer a qualquer pre�o, desconsiderando o jogo limpo. O autor exp�e que esse chauvinismo, pode servir como explica��o para os v�cios do esporte como o doping e o suborno. A Guerra Fria se estendeu at� o fim da d�cada de 80 e teve como �cone no campo esportivo os boicotes aos Jogos Ol�mpicos de 1980 em Moscou, que contou com a participa��o de 61 pa�ses do bloco capitalista e foi arquitetado pelos Estados Unidos, esvaziando assim consideravelmente a competi��o, e aos jogos de Los Angeles em 1984, que s� tiveram a ades�o das republicas sovi�ticas (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). Discorreremos agora finalizando o cap�tulo sobre um exemplo dom�stico do uso do esporte para manuten��o do poder e manipula��o das massas, a rela��o entre a Ditadura Militar Brasileira, o futebol e a Sele��o nacional, mais precisamente no per�odo pr� e p�s-copa do mundo de 1970 realizada no M�xico, que segundo Kolyniak Filho (1996) foi um evento de grande import�ncia para o regime ditatorial da �poca. A ideologia do governo estava voltada a passar a imagem de um pa�s que almejava ser uma grande pot�ncia, tornando importante iniciar um ambiente de desenvolvimento social e esportivo aos olhos externos, e paralelamente acobertar os problemas internos (DARIDO, 2003). O grande slogan desta �poca era o projeto �Brasil Grande� (BRACHT, 1989). Neste momento o regime enrijece seus m�todos de domina��o e carece de propaganda positiva no ambiente interno na tentativa de acalmar o povo (DE CASTRO, 2012; FERREIRA, 2011). J� na prepara��o para Copa do Mundo de Futebol em 1966 na Inglaterra, o regime ditatorial rec�m-empossado, j� tentava utilizar-se do esporte para conquistar o apoio da popula��o, tornando a sele��o nacional um verdadeiro �circo�, que internamente o governo utilizava como meio de propaganda (DE CASTRO, 2012). Foram convocadas quatro equipes diferenciadas pelas cores nacionais e realizados jogos em diversas cidades do pa�s consideradas estrat�gicas aos interesses da ditadura e com o aval da Confedera��o Brasileira de Desportos (CBD). Como n�o poderia ser diferente, diante deste �caos� na prepara��o, a sele��o fracassou na competi��o sendo eliminada ainda na primeira fase (DE CASTRO, 2012). A partir deste momento, o futebol se mostrou muito �til como instrumento de manipula��o das massas (PEREIRA, 1980). Em 1969, o governo inclui na forma de decreto, os jogos de todo pa�s na loteria esportiva, obrigando o espectador a acompanhar os resultados de todos os estados (GUTERMAN, 2006). Ferreira (2011) acredita que o futebol, a sociedade e a pol�tica tiveram o auge de sua rela��o na d�cada de 70 durante a copa do mundo de futebol. Segundo Kolyniak Filho:
A copa de 1970 demonstrou como o futebol entorpecia a popula��o brasileira, onde os jogos eram o principal assunto de discuss�o no pa�s, ficando em segundo plano a tortura e outras atrocidades do regime, refor�ando assim os objetivos patri�ticos da ditadura (KOLYNIAK FILHO, 1996; GUTERMAN, 2006). O presidente, General M�dici, representava a figura do torcedor fan�tico e patriota, digno do slogan do governo, �a sele��o � a p�tria de chuteiras� (FERREIRA, 2011; MARQUES; 2011). Segundo Ferreira (2011, p. 3):
A maior demonstra��o da influ�ncia e do poder dos militares sobre a Confedera��o Brasileira de Desportos (CBD), �rg�o esportivo de maior relev�ncia naquele momento, foi � ordem para demitir o treinador da sele��o de futebol e comunista declarado Jo�o Saldanha, praticamente as v�speras da copa, treinador esse que contava com grande apoio popular, e foi substitu�do por Mario Jorge Lobo Zagalo, que levou a equipe ao triunfo na competi��o com um time que ficaria para a hist�ria pela qualidade do futebol que apresentou (DE CASTRO, 2012; FERREIRA, 2011; GUTERMAN, 2006). Ap�s muitos anos, o pr�prio filho de Jo�o Saldanha admitiu em entrevista que o pai aproveitava as viagens internacionais da sele��o de futebol para levar em sigilo para autoridades de fora do pa�s, documentos que comprovavam as atrocidades que aconteciam durante a ditadura militar, e tamb�m dinheiro para ajudar exilados pol�ticos do regime (DE CASTRO, 2012). Com a demiss�o de Jo�o Saldanha, a ditadura imp�s a CBD a presen�a de um agente infiltrado na forma de dirigente na sele��o de futebol durante a copa de 70, a fim de informar poss�veis fontes de comunismo e descontentamento com o regime entre os jogadores e a comiss�o t�cnica, evitando situa��es como a de Jo�o Saldanha, individuo este que tinha o nome de Major Roberto Guaranys, temido torturador e homem de confian�a do governo (DE CASTRO, 2012). Com a conquista do mundial de 70 e percebendo a festa nas ruas, o governo militar vislumbrou a possibilidade de popularizar o regime no pa�s atrav�s do futebol, e com o apoio da CBD, pautados no plano de unidade nacional e nos interesses estrat�gicos da ditadura, criaram o campeonato brasileiro de clubes (GUTERMAN, 2006). Segundo Guterman (2006) os times eram classificados para a competi��o obedecendo ao interesse dos militares, criando at� um bord�o na �poca que dizia �onde a ARENA (partido do governo) vai mal, mais um time no nacional�, assim participavam do certame, equipes sem a menor express�o no cen�rio nacional, por mero interesse pol�tico, de estados como Amazonas e Roraima. Felizmente, essa estreita rela��o ditadura-futebol no Brasil, encerra-se junto com o regime militar na d�cada de 80, inclusive com v�rios jogadores de futebol e atletas famosos como o saudoso S�crates, �dolo da sele��o brasileira na �poca, indo aos palanques clamar pela Democracia no pa�s. (FERREIRA, 2011). O Esporte Para Todos (EPT) Finalizaremos nosso estudo, citando brevemente a iniciativa esportiva tida como antagonista ao esporte competitivo, o Esporte Para Todos (EPT), movimento de inclus�o que objetivava democratizar a pr�tica esportiva e denunciar a elitiza��o e os exageros do esporte mundial (TUBINO, 2003). Segundo Tubino (2003), a iniciativa surgiu na Noruega, durante a d�cada de 1960, e vislumbrava uma pr�tica democr�tica e antropol�gica do esporte, colocando o ser humano no centro do processo. O EPT tinha como palavra de ordem adaptar, modificar e cria novas formas para o esporte e rapidamente espalhou-se pelo mundo (BRACHT, 1989; TUBINO, 2003). Segundo Coletivo de Autores, a filosofia do EPT era:
O movimento EPT consumou seus objetivos com a publica��o da Carta Internacional de Educa��o F�sica e Esportes da UNESCO em 1979, que tornava o esporte direito de todos, incorporando-se tamb�m a manifesta��o Esporte-lazer, pelas caracter�sticas semelhantes de espontaneidade (TUBINO, 2003). Segundo o autor: �[...] depois de concebido na perspectiva da democratiza��o das pr�ticas esportivas, o Movimento Esporte para Todos tornou-se o meio mais efetivo de Esporte-Lazer [...]� (TUBINO, 2003, p. 28). A partir dos anos 80, paralelo a Pedagogia Humanista, surge no Brasil uma nova linha de pensamento ligada ao movimento esportivo Esporte Para Todos (EPT), que coloca a autonomia e a qualidade de vida como objetivo, da pr�tica esportiva (BRACHT, 1989; COLETIVO DE AUTORES, 1992). Mesmo obtendo sucesso com ricas experi�ncias desenvolvidas, o movimento n�o se fez presente em todas as esferas no �mbito nacional, principalmente no setor p�blico respons�vel naquele momento, desconhecedor de outra forma de esporte que n�o o competitivo (BRACHT, 1989; COLETIVO DE AUTORES, 1992). No decorrer do processo de implanta��o do EPT no mundo, o movimento sofreu diversas cr�ticas, sendo que a maioria delas estavam relacionadas com a promo��o de pol�ticos atrav�s de iniciativas populares, e a falsa id�ia de igualdade social que o programa gerava (KOLYNIAK FILHO, 1996). Segundo o autor: �[...] todos podem jogar juntos � os pol�ticos, os eleitores, os patr�es, os empregados � mas a confraterniza��o s� ocorre no jogo; na vida real, continuam as rela��es de explora��o [...]� (KOLYNIAK FILHO, 1996, p. 47). Na d�cada de 90, j� incorporado a vertente do lazer, o movimento EPT recebeu uma recria��o de conceitos, passando a englobar a id�ia de promo��o da sa�de, que teve in�cio com o Programa Vida Ativa da Organiza��o Mundial da Sa�de, sendo que do Brasil saiu uma das iniciativas mais bem sucedidas nesta nova perspectiva, o Programa Agita S�o Paulo, que a partir de dados sobre fisiologia, recomendaram a popula��o trinta minutos di�rio de atividade f�sica para manuten��o da sa�de (TUBINO, 2003). Considera��es finais Observamos que o esporte assumiu varias posturas durante a hist�ria da humanidade, seja como meio de sobreviv�ncia, lazer, forma��o humana, aliena��o de massa, ferramenta de propaganda governamental, promo��o da sa�de e atividade profissional. Acreditamos que todas essas manifesta��es esportivas ainda estejam presentes de alguma forma em nossa sociedade. Pensamos que ao longo do tempo, o esporte tornou-se o fen�meno atual ao qual se refere Kunz (2006), devido a fatores variados, como a superexposi��o na m�dia, ao apoio do estado, aos investimentos das grandes marcas de material esportivo e empresas privadas ou simplesmente por possibilitar aos praticantes das classes menos favorecidas uma chance de ascens�o social e financeira. N�o temos a pretens�o de achar que a partir deste estudo, o tema est� esgotado e todas as fontes existentes foram revisadas. Por�m, esperamos ter contribu�do com este artigo, no intuito de sanar algumas d�vidas sobre a linha cronol�gica da hist�ria do esporte, desde seus prim�rdios, como tamb�m, ter esclarecido alguns pontos pol�micos que circundam o tema, e que consideramos ser de suma import�ncia seu conhecimento, por parte daqueles professores de Educa��o F�sica que est�o em contato de alguma forma com o conte�do esporte em seu dia a dia docente. Refer�ncias
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