Não se come a carne onde se ganha o pão

Chega a ser um pouco engraçado, mas quando escolhi o tema de hoje, havia tantas opções para relatar que fiquei realmente em dúvida. Escolhi a história de Mayara porque considero seu final o melhor de todos os outros. A verdade é que o assunto que abordarei, o "Envolvimento Emocional com Colegas de Trabalho", é muito, mas muito comum nas empresas que visito por aí. Falo de relacionamentos de amizade profunda e, principalmente e mais preocupante, os relacionamentos íntimos entre colegas de trabalho.

Mayara trabalhava como corretora de imóveis e dividia uma escala de rodízio com mais oito colegas. A construtora que trabalhava possuía showrooms espalhados pela cidade – os maiores eram cuidados por dois ou três corretores por vez e os menores, por um apenas. Em alguns deles nem mesmo recepcionista havia, pois os próprios corretores se desdobravam em tarefas múltiplas para atender aos clientes.

Como os corretores nem sempre se encontravam durante a semana, por conta do rodízio, criaram o hábito de, nos finais de semana, reunirem-se para colocar o papo em dia num ambiente mais informal. Estes encontros, normalmente, eram regados a muita bebida alcoólica e um churrasco para acompanhar. E foi num destes encontros que Mayara, aproveitando a carona de um de seus colegas, Jeferson, acabou caindo na tentação de se envolver com ele.

A princípio, Mayara não pensou nas consequências do que fazia, afinal não pensava em dar continuidade àquilo, apenas queria aproveitar o momento. Porém, na semana seguinte, quando os dois caíram na mesma escala de trabalho (mesmo horário e local) e ficaram sozinhos novamente, Jeferson não agiu como Mayara imaginava.

Seu colega investiu pesado e forçou alguns beijos por diversas vezes. Mayara ainda não considerava sua atitude do final de semana errada, porém, no ambiente de trabalho ela sabia que aquilo não podia acontecer. Considerava, inclusive, um ato de assédio sexual. Aliás, ela nem queria que acontecesse, mas seu colega não lhe deu sossego enquanto não conseguiu roubar uns beijos da moça. Primeiramente ela tentou explicar a Jeferson que ele estava enganado quanto às intenções dela, porém não adiantou. Então, quando ela não tinha mais argumentos, empurrou com força o moço, bem no momento em que a diretora da construtora entrava no estande de vendas, presenciando a cena.

Foi uma confusão enorme! Até ela conseguir explicar o que realmente estava acontecendo, houve muito bate-boca. Mas, para a surpresa de Mayara, a diretora estava disposta a relevar o ocorrido e abafar o caso, pois sabia que aqueles eram seus melhores corretores. Mayara, entretanto, tomada por seus princípios e valores, interpelou e pediu demissão. Explicou à diretora e ao colega de trabalho que, quando se envolveu com ele no fim de semana, pensava que aquilo acabaria ali mesmo, mas, quando viu que Jeferson discordava, percebeu que seria impossível trabalhar em sua companhia.

Realmente não houve nenhuma negociação e, menos de uma semana depois, Mayara já trabalhava em outra construtora. Ela conta que depois disso passou a enxergar seus colegas de trabalho, mesmo os mais atraentes, com olhos isentos. Não se permite considerar qualquer contato profissional bonito e, tão pouco, aceita aproximações que podem confundir a vida profissional e pessoal. Mayara é um exemplo de arrependimento e consciência do que é mais adequado. Entretanto, pela quantidade de histórias que conheço, sei que ela é uma exceção. A maioria das pessoas (principalmente os mais jovens) não consegue burlar seus próprios instintos e acaba se deixando levar pelos impulsos. O número de envolvimentos pessoais que existe é assustador e já vi muitos casamentos surgirem do ambiente de trabalho. O que alerto, porém, é que este envolvimento pode atrapalhar, e muito, o desempenho de um profissional. Por isso, o mais prudente é seguir as atuais atitudes de Mayara e "blindar" a visão e o coração contra as tentações que surgem por aí.

Você se identificou com esta história ou conhece alguém que possa se identificar? Envie para ela e veja na próxima terça-feira, 02 de junho, o que pode acontecer caso você se envolva com algum colega de trabalho, na coluna Talento em Pauta, na Gazeta do Povo.

Não se come a carne onde se ganha o pão

“Onde se ganha o pão, não se come a carne”.

Será? 

Chegando o dia dos namorados, este assunto fica evidente.

Por isso, resolvi escrever um artigo e comentar um pouco sobre o tema.

Convenhamos, é impossível, em um ambiente em que passamos a maior parte do nosso dia, não haver algum tipo de envolvimento de cunho amoroso.

Apesar da necessidade de manter a seriedade e a discrição, um local de trabalho estimula a proximidade, a troca, elogios, apoio e parceria.

É natural que as pessoas se conheçam, ajudem, estimulem e se aproximem.

Afinal, colaboradores não assinam contrato para virarem robôs ou ainda tirarem suas almas do jogo enquanto produzem!

Nada mais natural do que encontrar em alguém algo que vá além do simples coleguismo.

Quando comecei meu trabalho, ainda muito jovem, este assunto era tabu e, invariavelmente, as empresas proibiam tacitamente.

Vi casais serem demitidos, independente de suas competências e resultados; vi apenas um deles decidir se desligar e ainda os dois decidirem sair ao mesmo tempo. Vi de tudo!

Também vi empresas que decidiram “demitir por justa causa” (e algumas foram condenadas a indenizar e até a reintegrar colaboradores) e perderam dois brilhantes funcionários, além de terem desestabilizado equipes e gerado “climão”.

Ainda hoje, cada empresa tem sua cultura e forma de pensar, mas a maioria já entende o assunto de forma mais tranquila, com ações muito mais focadas no clima organizacional como um todo do que em simplesmente proibir qualquer que seja a coisa. Vale lembrar aqui que se ganha pontos com os funcionários se a situação for tratada sem dramas!

Muitas, em seu código de ética/conduta tratam deste tema, de forma clara, com regras em relação à subordinação e diretorias de cada membro do casal, entre outras coisas.

Fato é que, em mais de 20 anos de carreira, o que mais vi foram pessoas que chegaram a se casar após terem se conhecido no ambiente de trabalho.

Na verdade, até mesmo consultando advogados, o conselho dado é que a empresa pode regular a conduta dos colaboradores quando os temas dizem respeito às questões profissionais, mas é muito difícil e não recomendado fazê-lo quando se trata de outros temas, como a vida pessoal e escolhas amorosas, restringindo a liberdade das pessoas.

Trabalho, carreira, amor e pessoas são assuntos que normalmente se misturam, mas a situação profissional é uma relação de troca, a empresa paga, o funcionário produz, e não uma ditadura de regras de conduta! Por outro lado, também não é uma situação em que o empregado possa pensar: “eu faço o meu trabalho, então o resto que se dane”.

Ao longo da carreira, em várias empresas, acompanhei histórias das mais diversas, desde casais que trabalharam anos na mesma organização, casaram, tiveram filhos, foram felizes e nunca misturaram as estações, até aqueles que trocaram os pés pelas mãos e confundiram tudo.

Também já presenciei e mediei situações desagradáveis entre profissionais que não souberam ter bom senso e agir de forma menos contundente, digamos assim.

Alguns misturam as coisas, outros pedem transferência de diretoria, alguns convidam o líder direto para padrinho do filho... São inúmeras as formas de lidar e compreender esta situação.

Sim, exige muita maturidade trabalhar com seu companheiro ou companheira! Tantas serão as situações, quanto os tipos de personalidade. Cada pessoa age de um jeito e quando envolve o coração, não seria diferente.

Fato é que a empresa proibir está realmente ultrapassado.

Não se come a carne onde se ganha o pão

O melhor é seguir algumas dicas para que, tanto do lado do empregador, quanto do empregado, as coisas possam seguir tranquilas, sem interferências na produtividade, entrega, parcerias e resultados.

O bom senso deve sempre imperar! (Não deveria se assim em tudo na vida?).

Para isso, elaborei algumas dicas com base em anos de experiência com pessoas e organizações:·.

·        Esconder nunca é a melhor opção. Aliás, é muito melhor que cada um do casal informe sobre o affair aos seus líderes diretos, deixando clara a situação, sem abrir espaço para fofocas.

·        Nos dias atuais, em que as selfies e as marcações de local (check-in) estão cada vez mais em alta, vale a pena ter precaução dobrada para não aparecer para os outros de forma equivocada, gerando ainda mais espaço para a já citada fofoca.

Não tem porque fazer uma selfie no ambiente de trabalho ou naquela confraternização de final de ano, tudo tem seu lugar e hora. Nunca nos esqueçamos, a paixão deixa algumas pessoas (a maioria) um tanto quanto cegas para o que está do lado de fora, vendo tudo como “resposta do amor”, sem maldade ou possíveis transtornos.

·        Mais uma vez, em um tempo em que tudo é publicado nas redes sociais, se possíveis comentários sobre demissões injustas começarem a surgir, não será o melhor para a empresa e sua imagem no mercado; por mais que esta venha a se retratar, “vazou, tá vazado”, difícil corrigir ou se explicar.

·        Vale a pena agir com discrição e respeito, nada de brigas, apelidos carinhosos, beijos no corredor e outras ações do tipo. Afinal, mesmo que a empresa não se oponha e até leve numa boa, o ambiente continuará sendo de trabalho e manter uma postura adequada se faz necessário.

·        Evitar que o namoro (ou eventual casamento) seja o tema de qualquer reunião ou encontro no refeitório, bebedouro, sala de café, deve ser levado em conta. Por mais que as pessoas apoiem e até gostem dos envolvidos, competição ainda existe e o casal pode ser prejudicado por aqueles colegas mais maldosos ou menos discretos. Se já é difícil lidar com a fofoca em situações “mais normais”, imagina quando envolve romance.

·        Qualquer demissão deve ser justificada, ser demitido sem um mínimo de feedback também está ultrapassado. Se, por coincidência, já estava no radar das lideranças, demitir um dos membros do casal, por outros motivos que não o envolvimento amoroso, melhor deixar bem claro, pontuar e explicar. Sim, respeito é bom e todos gostam! A empresa tem o direito de rescindir o contrato, mas é uma questão de delicadeza ser sincero nestas horas.

Também é possível realizar uma negociação, porque não realizar um remanejamento de setor, filial, diretoria, função? Vale mesmo perder aquele colaborador, desmotivá-lo ou ainda desanimar um time todo?

·        Veja bem, ali todos estão com um objetivo, que é levar a boa imagem da empresa adiante, com resultados positivos e satisfatórios (pelo menos é o que se espera de um colaborador maduro e bem intencionado!). Sendo assim, cada coisa no seu lugar! Se o relacionamento começar a interferir na produtividade, não será o amor que vai sustentá-los ali. Empresa não é casa de caridade.

·        Nas confraternizações, happy hour e etc., cada vez mais comuns e até estimulados, o casal deve interagir e trocar com as demais pessoas, não usando aquele tempo e espaço como um encontro romântico, isolando-se.

·        Evitar manifestações como beijos e amassos na hora do almoço, aquele “voltar de cabelo molhado e camisa amassada” do intervalo, é bem bacana. Por mais que as pessoas digam: “mas meu horário de almoço é meu, não da empresa”, não custa bater na tecla do bom senso e perpetuar a boa imagem que o casal já tem perante seus líderes e à empresa.

·        Evitar conversas e trocas pelo e-mail da empresa,"Skype profissional" e outras redes, é importante. Afinal, aquelas ferramentas são da empresa e para trabalho. Por outro lado, perder horas trocando mensagens de amor por WhatsApp seguidas de risinhos durante o horário do expediente só porque “afinal o celular é pessoal” também não é o ideal.

·        Se acreditar que é preciso, tanto o líder quanto o casal podem realizar uma reunião, expondo pontos importantes da conduta, para que nada fique escondido ou incompreendido. Regra é bom em qualquer situação, por mais que alguns ainda “torçam o nariz”. Eu sempre indico estas reuniões!

·        É muito mais complicado quando um dos membros do casal já é casado, tem filhos e uma vida “fora dali”. Ponderar e decidir o que mais vale a pena nesta situação, não constrange as pessoas ou as envolve de forma direta ou indireta em conflitos e dificuldades de relacionamento. (Já vi esposa traída pegar a amante pelos cabelos na porta da “repartição”, exigindo seus direitos e, namorado ciumento aparecer com as luvas de boxe em punho para “acertar contas” com o amante).

·        Mais delicado ainda é quando o namoro é com subordinado ou líder direto. Mais uma vez, vale a pena ponderar, ter bom senso e respeito, além de franqueza com os demais líderes e colegas. Promoções, feedbacks, acertos de conduta e postura, tudo deve ser tratado com maior cautela, fazendo o máximo para que um assunto não interfira no outro. Evitar abusar do horário, atrasar, tratar os outros mal só por que acredita que “agora tem costas quentes” é essencial. A postura profissional deverá ser redobrada.

·        Por mais modernidade que tenhamos o respeito ainda está acima de tudo e saber se comportar em cada ambiente não é apenas sinal de maturidade, mas de bom senso. Seres humanos têm lá suas idiossincrasias e o casal será duplamente julgado, exigido e condenado se “pisar fora da risca”. Não esquecer que muitas vezes há uma equipe maior envolvida em tudo isso e não apenas os dois membros do casal, é sinal de cordialidade.

·        Cada coisa deve ser resolvida no momento adequado e, aquelas 8h de trabalho, devem ser dedicadas a este fim. Simples assim. Portanto, é essencial não discutir a relação em público ou na reunião para decisão do novo tema da campanha de Marketing, a projeção de vendas ou o remanejamento do time para outra sala.

·        Se a contratação foi realizada por indicação do parceiro, antes de qualquer coisa, deve-se deixar clara a situação na entrevista. Há empresas que são mais ou menos tolerantes em relação à contratação de namorados, maridos ou parentes.  Avaliar, perguntar e, acima de tudo, ser honesto! Nada de esconder, mentir ou fingir. Os tempos de criança ficaram para trás, afinal...

·        Terminou? Separou? Brigou? Mais uma vez a maturidade entra em cena! Faltar ao trabalho ou chegar de olho inchado e esquecer-se de entregar o relatório não vai ser a alternativa mais tranquila para lidar com a situação. Serão 2 problemas!

Afinal, uma empresa pode não demitir por intolerância em relação ao romance, mas pode sim fazê-lo por queda na produtividade ou por questões comportamentais e condutas inadequadas.

São muitas mais dicas, opiniões e pensamentos. Mas prefiro sintetizar e encerrar por aqui.

No mais, amar, dividir, curtir, sorrir, ainda é o melhor da vida!

Felicidades aos casais que se conheceram no ambiente de trabalho; continuo aceitando convites para casamentos!

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O que significa Onde se ganha o pão não se come a carne?

- "Onde se ganha o pão, não se come a carne", que se refere a não ter relacionamentos amorosos no ambiente de trabalho. O pão é algo bonito e de valor, algo bom, por isso era comum elogiar um homem bonito comparando-o a um pão.

Onde se ganha o pão ditado?

Onde se ganha o pão, não se come a carne.