O Homem que Mudou o Jogo resumo

Baseball é um mistério para a grande (muito grande) maioria dos brasileiros. No país do futebol, achamos curioso o campo com formato de diamante, vemos com interesse os uniformes engraçados e imaginamos como deve ser divertido ter um taco de baseball e aquela luvona que vemos, em filmes, quando pais arremessam a bola aos filhos no quintal de casa. Particularmente, meu conhecimento do esporte não passava de alguns episódios de Seinfeld - aqueles em que George Costanza trabalha para o dono dos New York Yankees.

Por causa dessa distância, filmes dedicados ao tema raramente entram em cartaz no Brasil - mas O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) é muito mais do que um filme de celebração ao esporte. O longa de Bennett Miller (Capote) é sobre adaptação, quebra de paradigmas e persistência - e como tudo isso pode não adiantar de nada graças ao elemento que torna, em última instância, qualquer esporte divertido: a imprevisibilidade do fator humano, a tal "caixinha de surpresas" de que tanto falam os comentaristas esportivos.

A trama acompanha Billy Beane (Brad Pitt), gerente geral do Oakland Athletics, um ex-atleta que tem a ingrata tarefa de encontrar, treinar e tornar famosos jogadores que, invariavelmente, vão terminar em equipes mais ricas. "Somos doadores de órgão para o NY Yankees", diz, referindo-se à folha de pagamento do seu time em comparação com o gigante da costa leste (39 milhões contra 114 milhões de dólares), que consegue contratos melhores para todos os destaques da temporada. Entra em cena, porém, o analista novato Peter Brand (Jonah Hill), que sugere um novo sistema para escolher jogadores desacreditados com base em suas médias estatísticas - e não sair em busca de superastros -, criando assim uma equipe cuja força é o grupo e não os indivíduos.

A frase que abre o filme, "é inacreditável o quanto você não sabe do jogo que tem jogado a vida toda", é certeira ao relacionar a existência dos personagens dentro e fora de campo. Tema comum a vários filmes contemporâneos, o do profissional que deixa sua família e amigos em segundo plano, buscando a excelência no que o define como pessoa, como vencedor, é o dilema de Billy Beane. Ou melhor, o não-dilema, já que ele fez as pazes com quem ele é - só é incapaz de aceitar que seu time jamais será o melhor com as ferramentas de que dispõe. O confronto entre o velho e o novo, a necessidade de mudança não apenas estrutural, mas pessoal, a que ele deve submeter o time e a si mesmo são parte do processo de superação de que trata O Homem Que Mudou o Jogo.

O roteiro de Steven Zaillian e o mago Aaron Sorkin, baseado em livro de não-ficção de Michael Lewis, é ótimo, à exceção de uma subtrama familiar de Beane com a ex-esposa e a filha, que é mal-desenvolvida. Os diálogos, por sua vez, são excelentes e há momentos memoráveis, como a conversa entre Beane e o rebatedor David Justice (Stephen Bishop) no centro de treinamento. Esse texto é entregue com naturalidade pelo inspirado elenco: Pitt (que lembra cada vez mais Robert Redford no auge de sua carreira) e suas negociações estão entre as melhores partes do longa, que traz ainda a melhor atuação da carreira de Jonah Hill - que tem se mostrado um ator extremamente versátil. Phillip Seymor Hoffman, que vive o treinador Art Howe; além de Chris Pratt (conhecido pela série Parks and Recreation) e Robin Wright completam o excelente "time" reunido, ainda que a última - parte da história da filha, seja sub-aproveitada.

Ao final, O Homem que Mudou o Jogo é um relato honesto sobre uma obsessão e um obcecado. Um filme de certa maneira romântico sobre a menos romântica das situações: o momento em que um esporte (ou vários deles) parou de ser 100% jogado nos campos para ser pré-definido em gráficos e tabelas. "Mas como não ser romântico sobre baseball" quando o tal fator humano está em cada um e insiste em ignorar certezas?

O Homem que Mudou o Jogo | Cinemas e horários

O Homem Que Mudou o Jogo é uma obra que detém o olhar sobre uma característica revolucionária. Sem definir muito bem os papéis, o filme se debruça sobre um embate entre diferentes pontos de vista que procuram justificar um ponto – o da vitória. É nesse jogo entre “tradição de espírito” e “modernidade artificial” que constrói todo seu caminho. Mas não que vá muito além disso. Sem um plano claro, é uma obra que apresenta um debate, mas prefere se manter no meio.

No filme, acompanhamos Billy Beane (interpretado por Brad Pitt), um gerente esportivo de beisebol que enfrenta uma grande crise por conta do pouco orçamento que seu time possui. A ponto de perder suas estrelas e precisando se reerguer, Beane é obrigado a se reinventar com a ajuda de um economista que possui métodos pouco ortodoxos até então: basear a análise da eficiência dos jogadores na matemática, efetuando assim um cálculo dos atletas mais rentáveis e com alto potencial. Assim, o elemento não-humano é o responsável por toda a modificação das estruturas até então vigentes – aquelas que confiavam sobretudo em análises humanas como “confiança” e “estabilidade emocional” -, fazendo com que todo o discurso do filme se dê sobre as possibilidades dessas mudanças.

Curiosamente, a encenação de O Homem Que Mudou o Jogo adota uma posição similar. Ao se utilizar dos caminhos tradicionais de uma cinebiografia – na maneira de se apresentar a história, filmar e editar -, o filme acaba por reproduzir em sua forma essa própria frieza caracteristicamente artificial. Ao escolher não se aprofundar em nenhuma das dimensões emocionais da narrativa, seja nas relações familiares de Beane, seja no próprio trauma do ex-jogador e agora gerente, a obra se estabelece de maneira a criar uma ressonância da frieza imposta pelos números: tudo é muito asséptico, desprovido do sentimento que até busca emular em certos momentos e “sintético” no sentido de que a própria câmera propõe a encenação de forma a ressaltar apenas os elementos essenciais e já estabelecidos. Não temos, portanto, uma construção viva da cena a ponto de refletir a pulsão emocional que se germina na história, restando à obra uma montagem sem particularidade própria, entregue aos números.

E não que isso seja algo, a princípio, problemático. Na pretensão de transmitir um debate (muito frutífero, por sinal) acerca da dualidade paradoxal entre tradição e modernidade, o filme poderia muito bem optar pela frieza para ressoar certos ideais críticos. O problema é que O Homem Que Mudou o Jogo nunca propõe algo desse tipo, pois opta justamente por se estabelecer nos paradigmas esperados. Assim, repete a fórmula através de uma inconsequência: sua temática aparece como se buscasse escavar em meio àquela “anti-natureza” um calor humano que apenas os números não seriam capazes de proporcionar, entretanto sua forma se limita ao ser formulada repetindo estes próprios padrões numéricos. Em poucas palavras, torna-se um clássico caso de filme “sem graça”.

Não se trata, porém, de um filme ruim. A condução dessa visão se aproveita de uma ideia muito frutífera para o debate, o fracasso. É sobre ele que se fundamenta toda a trajetória de Beane, e as mudanças não estão em um horizonte muito próximo. A expectativa de outros caminhos – que busca uma frágil sustentação nas intimidades do personagem – são movidas não pelo desejo da vitória, mas sim pelo da mudança. É isso que importa para o gerente, afinal: muito menos vencer, e muito mais modificar a estrutura vigente. E, no fim das contas, O Homem Que Mudou o Jogo legitima esta luta no âmbito do conteúdo discursivo, ao defender que o fracasso não deve ser um impedimento para seu próprio desejo de modificação, visto que ele já está aí.

A questão é que o próprio filme não faz juz a essa ideia. A mudança, aqui, é muito plástica, artificial, e a forma prefere reverberar o próprio vazio numérico – que, de certa forma, é revolucionário – do que o aspecto humano. É um filme conflitante no sentido de que suas proposições estão constantemente em choque, mas suas estruturas materiais não conseguem transmitir devidamente essa ideia. Não há dúvidas de que O Homem Que Mudou o Jogo seja visto pela maioria como uma boa cinebiografia de esportes. Afinal, não é mais do que isso que o filme almeja ser.

O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball) – EUA, 2011
Direção: Bennett Miller
Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin
Elenco: Brad Pitt, Jonah Hill, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Chris Pratt, Stephen Bishop, Reed Diamond, Brent Jennings, Ken Medlock, Tammy Blanchard, Jack McGee
Duração: 133 min.

Gabriel Zupiroli

Estudante de literatura em Campinas, São Paulo, escrevo sobre cinema há dois anos, dividindo meu tempo entre livros e filmes, respectivamente minha relação matrimonial e extraconjugal. Um admirador do gênero ensaístico, procuro transmitir, através dos textos, impressões e interpretações das obras que busquem criar um diálogo com a experiência artística. No tempo livre, publico contos em livros por aí.

Qual é a principal mensagem do filme O Homem que Mudou o Jogo?

A melhor mensagem do filme não é o foco na ideia inovadora ou as dificuldades para alcançar o sucesso, mas a importância de curtir o caminho. O aprendizado e a experiência de vida não vêm no início ou fim de uma trajetória, mas em como vivemos cada momento. A gente se transforma nesse caminho e encaramos nossos medos.

O que acontece no final do filme O Homem que Mudou o Jogo?

O personagem principal muda a forma com que os empresários veem e investem em Baseball, mas ele mesmo não ganha nada com isso. Nem a vitória ele leva pra casa, e o filme termina com a filha dele cantando em um CD demo, dizendo que ele “não sabe pra onde está indo e é um perdedor”.

O que o filme O Homem que Mudou o Jogo nos revela sobre a estatística?

Moneyball – O homem que mudou o jogo As análises demonstraram, por exemplo, que a frequência com que um jogador alcançava uma base era um indicador de sucesso ofensivo melhor que os tradicionalmente utilizados, como número de rebatidas e velocidade do jogador.

Em qual cidade se passa o filme O Homem que Mudou o Jogo?

Estrelado por Brad Pitt, Jonah Hill e Philip Seymour Hoffman, o filme se concentra nas tentativas de Beane de criar um time competitivo para a temporada de 2002 de Oakland, apesar da situação financeira desfavorável da equipe, usando uma sofisticada análise estatística dos jogadores.