O que é dominância incompleta codominância e alelos letais?

Ao estudar Genética, é comum resolvermos questões que envolvam dominância e recessividade. A dominância diz respeito àqueles alelos que se expressam mesmo em dose simples, e os alelos recessivos são aqueles que só se expressam aos pares. Entretanto, nem todos os alelos comportam-se dessa forma, existindo casos, por exemplo, de codominância.

→ O que é codominância?

A codominância pode ser definida como uma situação em que organismos heterozigotos expressam ambos os alelos de um gene ao mesmo tempo. Não se percebe, nessas situações, relações de dominância e recessividade, pois ambos os alelos expressam-se integralmente.

Outra característica da codominância diz respeito ao fenótipo. Em situações de dominância e recessividade, observamos dois fenótipos, pois o heterozigoto apresenta o fenótipo do alelo dominante. Entretanto, no caso da codominância, o fenótipo do heterozigoto é distinto do observado nos homozigotos.

→ Sistema ABO, um exemplo de codominância

Um importante exemplo de codominância na espécie humana é o sistema ABO. Esse sistema determina quatro tipos de sangue: A, B, AB e O. Esses tipos sanguíneos são determinados por três alelos diferentes: IA, IB e i. Por possuir três alelos determinando essa característica, além de codominância, o sistema ABO trata-se de um caso de alelos múltiplos.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Entre os alelos IA e IB, ocorre codominância, e cada um deles é dominante em relação ao alelo i.Assim sendo, quando um indivíduo é IAIB, o fenótipo é sangue AB, pois os dois alelos expressam-se. Entretanto, quando ocorre a combinação IAi, temos sangue A, e quando ocorre a combinação IBi, temos um sangue B. Sendo assim, temos:

Fenótipo

Genótipo

A

IAIA ou IAi

B

IBIB ou IBi

AB

IAIB

O

ii

Curiosidade:Outro caso bastante conhecido de codominância é observado nos bovinos da raça Shorthorn. Os indivíduos que possuem pelagem vermelha são homozigotos AA, e aqueles que têm pelagem branca são homozigotos BB. Já os heterozigotos AB possuem pelos brancos e vermelhos que são distribuídos de maneira alternada.

Por Ma. Vanessa Sardinha dos Santos

Biologia

Em genética, a dominância incompleta (também conhecida como herança sem dominância ou intermediária) é um tipo de ausência de dominância entre os genes alelos. Nesse caso, um alelo não determina a produção de uma proteína suficiente para a expressão do fenótipo apenas por estar presente. Isso quer dizer que, ao contrário de muitas das características herdadas por combinações dominantes ou recessivas, os pares de genes na dominância incompleta produzem um fenótipo intermediário entre os dois homozigotos.

Características

A dominância incompleta ocorre quando o genótipo heterozigoto apresenta um fenótipo intermediário em relação aos fenótipos de dois homozigotos parentais. Ou seja, a característica manifestada no heterozigoto resultante não é nem a do pai e nem a da mãe, mas algo entre ambos.

Como todo gene é transcrito em RNA, ou o ácido ribonucleico, no caso da dominância incompleta, durante a tradução do código genético, um alelo geralmente produz uma proteína funcional, enquanto o outro produz uma proteína não-funcional. Como consequência, o fenótipo intermediário é gerado como uma mistura de um e de outro, ao invés da reprodução de um genótipo dominante ou recessivo.

Na dominância completa, são utilizadas letras maiúsculas para alelos dominantes e minúsculas para alelos recessivos, como um modo de facilitar a compreensão. No entanto, para dominância incompleta, a maioria dos autores opta por usar apenas letras maiúsculas. Isso porque nessa modalidade, a presença de um alelo que se sobrepõe a outro não se aplica. Outra forma de representação de genótipos de dominância incompleta é a combinação de letras maiúsculas e minúsculas.

Exemplos de dominância incompleta

Bovinos com membros curtos

No caso da condrodisplasia bovina, ou a presença de membros mais curtos em bovinos, o alelo C promove desenvolvimento completo da cartilagem de crescimento, o que resulta em membros normais. O alelo c, por outro lado, não auxilia no desenvolvimento completo da cartilagem, de modo que, em indivíduos heterozigotos, apenas um alelo é funcional. Na combinação, isso leva a um desenvolvimento parcial dos membros do animal, ou seja, eles não são tão curtos como se fosse uma característica completamente recessiva e nem longos no caso da dominância completa. A combinação dos genes ainda possui consequências graves:

  • Quando um gado tem o genótipo CC, apresenta fenótipo letal, e o feto é abortado em razão de graves alterações embrionárias.
  • Se o animal tiver genótipo Cc, apresenta condrodisplasia do tipo bulldog (com membros curtos, lembrando a raça canina).
  • Quando apresenta o genótipo cc, o indivíduo é normal.

No cruzamento entre indivíduos de membros curtos (Cc), 25% da prole está em condição grave (genótipo CC), 50% apresentam membros curtos (Cc) e 25% são normais (cc).

O que é dominância incompleta codominância e alelos letais?

Cor das pétalas na flor maravilha

Outro caso clássico de dominância incompleta é o do par de alelos que determina a cor das pétalas da chamada flor maravilha (Mirabilis sp.). Nessa espécie vegetal, as flores que apresentam pétalas brancas (com genótipo BB) não produzem a proteína responsável pela pigmentação, e sim uma variedade não-funcional. Por sua vez, ­flores de pétalas vermelhas (genótipo VV) apresentam o alelo V e produzindo a proteína responsável pela pigmentação.

No cruzamento de plantas puramente vermelhas e puramente brancas, a primeira geração acaba formada 100% por pétalas rosa (genótipo VB), um fenótipo intermediário. Em outras palavras, metade das proteínas resultantes produzidas são funcionais e metade delas não-funcionais – o que leva a uma flor com coloração entre o rosa e o lilás.

Na fecundação dessa geração, a segunda geração acaba apresentando 25% das flores com pétalas vermelhas (genótipo VV), 50% com pétalas rosa (genótipo VB) e 25% com pétalas brancas (genótipo BB), como no gráfico.

O que é dominância incompleta codominância e alelos letais?
Cruzamentos envolvendo plantas de Mirabilis sp.. Nota-se que, nesse caso, os heterozigotos
expressam um fenótipo diferente de ambos os ancestrais da geração parental.

Hipercolesterolemia familiar

Exemplos da dominância incompleta também podem ser encontrados no código genético humano. A hipercolesterolemia familiar é uma doença que mostra em seus genes dominância incompleta.

O ser humano possui mais de 1000 alelos caracterizados para o gene do receptor responsável pela LDL, o dito “colesterol ruim”, em contraposição ao HDL, que é o colesterol bom para o organismo. Grande parte desses alelos resulta em funções celulares não normais, que levam à doenças cardiovasculares.

Quando indivíduos homozigotos recessivos têm níveis muito baixos do receptor de LDL ou nenhum deles, na primeira infância apresentam aterosclerose acelerada e raramente chegam na idade adulta. Já os indivíduos homozigotos dominantes apresentam níveis normais de receptor de LDL e acabam por não sofrer de doenças cardiovasculares causadas por hipercolesterolemia.

Quando indivíduos heterozigotos apresentam metade do número de LDL funcional, acabam com uma expectativa de vida que chega à meia-idade.

Codominância

Na codominância, ao contrário da dominância incompleta, os dois fenótipos são manifestados em conjunto no indivíduo heterozigoto. Ou seja, os dois grupos genéticos dominantes produzem proteínas funcionais, e manifestam ao mesmo tempo seus fenótipos.

Em termos de combinação genética, a codominância funciona de modo similar à dominância incompleta. O que ocorre que os pares de alelos dos pais são ambos ativos, mesmo quando diferentes, criando uma “terceira característica” na geração seguinte que é uma espécie de combinação das duas anteriores, e não uma versão incompleta de uma delas.

Os tipos sanguíneos humanos são um exemplo disso – os indivíduos com sangue do tipo AB manifestam, ao mesmo tempo, características de um alelo dominante A e um alelo dominante B. No sistema ABO,  indivíduos do grupo AB apresentam tanto características encontradas em indivíduos do tipo sanguíneo A quanto características encontradas em indivíduos do tipo sanguíneo B. Apenas quando nenhum dos dois alelos dominantes está presente existe a característica recessiva completa, o tipo sanguíneo O.

A dominância incompleta e a codominância muitas vezes são confundidas por conta dos fenótipos resultantes. Em termos moleculares, são ocasiões distintas, mas características manifestadas no indivíduo resultante de uma ou de outra podem ser muito parecidas.

O boi ruão (raça shorton), por exemplo, aparentemente possui pelos ruivos claros, o que seria interpretado como uma dominância incompleta em relação aos pelos vermelhos ou brancos. Contudo, na prática o boi possui pelos totalmente vermelhos ou totalmente brancos, produzindo ambos e revelando o papel ativo de alelos distintos.

Exercício resolvido

Existem variações de padrões de pelagem em cavalos que apresentam dominância incompleta, como é o caso dos cavalos com pelagem “tipo leopardo”, os quais são brancos com algumas manchas. Eles são originados do cruzamento entre cavalos que apresentam muitas manchas na pelagem branca e cavalos completamente brancos, apresentando um fenótipo intermediário. Com base nessas informações e em seus conhecimentos, calcule a probabilidade de nascerem cavalos com pelagem “tipo leopardo” de pais que apresentam o mesmo fenótipo.

Resposta:

Supondo que indivíduos completamente brancos têm genótipo BB e indivíduos brancos com muitas manchas, genótipo MM, automaticamente, indivíduos com o fenótipo intermediário terão genótipo BM. Ao cruzarmos indivíduos com fenótipo intermediário (BM × BM), a prole apresentará a seguinte proporção: ¼ BB (indivíduos completamente brancos); ½ BM (indivíduos brancos com poucas manchas); ¼ MM (indivíduos brancos com muitas manchas). Portanto, a probabilidade de nascerem indivíduos brancos com poucas manchas a partir de parentais que apresentam o mesmo fenótipo é de 50%.

Referências:

  • GRIFFITHS, A. J. F., GELBART, W.M., MILLER, J.H., et al. Modern genetic analysis. New York: W. H. Freeman, 1999.

Por: Carlos Artur Matos

Veja também:

  • Alelos Múltiplos
  • Sistema Sanguíneo ABO

Assuntos relacionados:

O que é dominância incompleta e codominância?

A dominância incompleta oferece três opções de fenótipos: a dominante (dois alelos dominantes), a recessiva (dois alelos recessivos) e a intermediária (alelo dominante e alelo recessivo). Por fim, na codominância não há um fenótipo intermediário, uma vez que os dois alelos se manifestam.

O que são os alelos letais?

Geralmente cobrado em questões de Biologia, os alelos letais são genes capazes de causar a morte do seu portador.

O que é codominância entre alelos?

A codominância pode ser definida como uma situação em que organismos heterozigotos expressam ambos os alelos de um gene ao mesmo tempo. Não se percebe, nessas situações, relações de dominância e recessividade, pois ambos os alelos expressam-se integralmente.

O que é dominância completa e incompleta?

A chamada dominância incompleta é aquela em que os alelos se expressam em heterozigose, no entanto, produzem fenótipo intermediário, haja vista que nenhum é totalmente dominante. No caso da dominância completa, o fenótipo é igual entre homozigotos e heterozigotos.