Onde encontrar ambar no brasil

Um pescador de Ilha Comprida, no litoral de São Paulo, encontrou um suposto vômito de baleia em uma praia da cidade. Ao G1, o rapaz de 28 anos informou, neste domingo (8), que acredita que a substância seja o âmbar cinza, utilizado na indústria de perfumes.

De acordo com Clayton Pereira Dias, o material foi encontrado na praia de Juruvaúva, enquanto voltava da casa de sua namorada, na manhã da última quarta-feira (5). Ele conta que o único acesso para a sua residência, no mesmo bairro onde o suposto âmbar foi localizado, é pela faixa de areia. O jovem encontrou o material enquanto andava de carro pela orla.

Segundo Clayton, o objeto lhe pareceu familiar, já que uma vez um amigo havia lhe enviado a foto de um âmbar. “Quando a maré sobe, traz um monte de coisa para a praia. Estava passando de carro, quando vi algo na areia. Resolvi parar o carro”.

“Na época, ele brincou que um desse eu não acharia na beira da praia. Eu fiquei com isso na cabeça e pensei: ‘quem sabe um dia eu não acho, né?’. Jamais pensei que aconteceria, porque vi que é muito raro”, comenta.

Diante do suposto vômito de baleia, Cleyton não pensou duas vezes e resolveu levá-lo embora. Já em casa, pesquisou pelo material na internet para ter certeza, mas mesmo assim, ainda não sabe o item é realmente o âmbar. Na tentativa de descobrir, ele queimou um pedaço do objeto e notou que, em contato com o fogo, a substância derrete e vira óleo, característica do âmbar.

“Está guardado em casa. Não tenho certeza se é, mas pelo que pesquisei, acredito que é sim. Quero que algum especialista comprove”, explica o pescador. Questionado sobre o que faria caso o objeto seja mesmo o âmbar, em meio a risos, ele afirmou que compraria um barco novo para tentar achar mais.

O vômito de baleia

De acordo com o biólogo marinho Eric Comin, o objeto encontrado apresenta as características do âmbar cinza, no entanto, a confirmação só é possível após análise laboratorial. "Ele tem realmente uma coloração mais cinza, fosca, igual ao da foto, podendo até variar um pouco no aspecto mais voltado para o mármore, um castanho mais escuro".

"Fresco, ele não tem um cheiro muito bom, mas quando fica exposto ao ar e a luz, vai ganhar um cheiro mais peculiar, mais doce. Podendo ser semelhante ao álcool isopropílico", afirma.

Segundo o biólogo, no Brasil, não há relatos de encontro desse âmbar. Ele explica que a substância é gordurosa e é formada por uma secreção biliar, dentro do intestino de algumas espécies de baleia, como a cachalote e nariz de garrafa, que não é comum na região. Esse material protege o trato intestinal e digestório do animal, quando come algo mais duro e cortante.

"Ele tem um valor no mercado como fixador de perfumes e é aí que ele acaba tendo um valor mais elevado. Hoje em dia, não é tão usado, porque o pessoal faz isso em laboratório, sintético. Não sabemos estimar o valor de um âmbar cinza no mercado. Claro, devido a ser um objeto raro, é uma questão de sorte de quem encontrar", finaliza.

Suposto âmbar cinza foi levado para a casa do pescador, em Ilha Comprida (SP) — Foto: Divulgação/Clayton Pereira Dias

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Onde encontrar ambar no brasil

O âmbar é uma resina vegetal fossilizada muito usada em jóias no norte da Europa (Foto: Uns)

No filme Jurassic Park, uma resina vegetal preservou perfeitamente um mosquito que carregava o DNA de um dinossauro. Na vida real, esse mesmo material já ajudou a ciência a estudar criaturas que viveram há milênios no planeta, como um parente do louva-a-deus de 30 milhões de anos, um ancestral de 110 mil anos dos lagartos ou um caranguejo de 100 milhões de anos. Estamos falando do âmbar.

Em países banhados pelo Mar Báltico, no norte da Europa, esse tipo de resina é facilmente encontrada e muito usada como souvenir e matéria-prima para joias, tendo uma grande importância comercial e turística. “Se você andar numa praia do Báltico, na espuma das ondas que deixam conchinhas na areia, é possível encontrar âmbar, é um material extremamente comum lá”, relata o químico Ricardo Pereira, professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

As responsáveis pela grande quantidade de âmbar nessa região foram as grandes florestas de pinheiros, árvores que expelem a resina como mecanismo de defesa ao sofrerem algum tipo de dano — como um galho que se quebra ou um animal que perfura seu tronco. Ao entrar em contato com o ar, ela endurece.

Quando esse material cai em uma bacia sedimentar, entra em um processo de polimerização que dura milhares de anos, em que suas moléculas ficam cada vez mais unidos, e a água e alguns gases evaporam. Como resultado, a resina fica cada vez mais dura e resistente até se tornar o âmbar como conhecemos.

Florestas imensas de pinheiros próximas ao mar não eram condições botânicas muito comuns no Brasil e tampouco produziam grande quantidade de resina. Esse material vegetal tem muita facilidade em se decompor, principalmente se exposto a luz e oxigênio. Por isso, as amostras de âmbar encontradas por aqui são pequenas, não passando de 1 ou 2 centímetros — e bem raras.  

Onde encontrar ambar no brasil

Amostras de âmbar provenientes da Bacia do Parnaíba, Formação Codó (Foto: Arquivo Professor Ricardo Pereira)

Para o paleontólogo Ismar Carvalho, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o âmbar vai muito além do seu apelo comercial, pois tem grande valor científico. “Quando é feita a análise química desses materiais, eles nos dão informações acerca das origens botânicas dessas plantas [que o geraram], assim conseguimos ter um entendimento da diversidade das plantas que existiram durante a era mesozóica no Brasil", destaca. "Algumas delas nós não encontramos nem como fósseis, mas temos essa resina.”

Onde encontrar ambar no brasil

Reconstituição de uma conífera com a resina escorrendo pelo tronco, para exemplificar a formação dos âmbares (Foto: Arquivo Professor Ismar de Souza Carvalho)

Foi assim que pesquisadores descobriram que eram coníferas que produziam o âmbar encontrado por aqui. Segundo um estudo de Pereira publicado na Revista Digital de Química, há 100 milhões de anos, árvores das famílias botânicas Araucariaceae, Podocarpaceae e Cheirolepidiaceae (que foi extinta no final do Cretáceo) podiam ser encontradas desde regiões do atual Sul do Brasil até o Norte e Nordeste. E, justamente por estarem bem espalhadas, foi possível encontrar essa resina em todas as bacias sedimentares do país.

O lugar onde mais foi achado âmbar no Brasil é a Bacia do Araripe, na divisa entre Ceará, Pernambuco e Piauí, um dos sítios fossilíferos mais importantes do mundo. “Lá encontramos peixes, dinossauros, pterossauros, as primeiras angiospermas e, não por acaso, essa foi a região do Brasil onde mais encontramos amostras de âmbar”, observa Pereira. Também foram vistos grãos de pólen, folhas e ramos fossilizados que confirmaram a composição botânica da região.

Onde encontrar ambar no brasil

Amostras de âmbar da Bacia do Araripe, coletadas por Castro et al. (1970) (Foto: Arquivo Professor Ricardo Pereira)

Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o material pode ser encontrado em bacias sedimentares nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará e Piauí, onde a maioria das ocorrências têm origem de coníferas do período Cretáceo. 

Na Bacia do Amazonas, assim como na do Araripe, já se viu âmbar junto de fósseis vegetais, e na Bacia do Recôncavo, na Formação Maracangalha, a análise química de um âmbar indicou a existência de coníferas das mesmas famílias encontradas em outras formações geológicas do país.

Onde encontrar ambar no brasil

Amostras de âmbar da Bacia do Recôncavo (Foto: Arquivo Professor Ricardo Pereira)

“Podemos não produzir toneladas de âmbar, mas os poucos gramas que a gente encontra espalhados nas bacias sedimentares brasileiras trazem muita informação geoquímica, botânica e paleontológica”, ressalta Pereira.

Num estudo publicado em março de 2022 na revista Cretaceous Research, a professora Enelise Katia Piovesan, do departamento de Paleontologia da UFPE, registrou o primeiro ostracodes (crustáceos diminutos que vivem em ambientes aquáticos) preservado em âmbar no Brasil, e o mais antigo do tipo já encontrado no mundo.

“Embora os ostracodes sejam encontrados desde os primórdios do Paleozóico, os registros desses animais em âmbar são muitos raros” diz Piovesan a GALILEU. “São seres aquáticos e isso faz com que sua preservação em âmbar seja muito difícil, somente em condições excepcionais, principalmente porque as plantas produtoras de resina vivem no continente."

E assim, aos poucos, a ciência brasileira vai descobrindo as riquezas do passado por aqui. “Nós temos muitos animais e muitas plantas que podem contar uma história da vida a partir de uma perspectiva daquilo que nós temos no nosso território”, concluiu o professor da UFRJ.

*Com supervisão de Luiza Monteiro

Onde encontrar âmbar no Brasil?

Cerca de 90% do âmbar encontrado hoje em todo o mundo provém da região do mar Báltico. O maior depósito do mundo está na península de Sambia e na lagoa Courland, onde há três mil hectares de solo contendo a gema. No Brasil nunca foi encontrado.

Onde encontrar a pedra âmbar?

As regiões banhadas pelo Mar Báltico, como Lituânia, Letônia e Estônia, são as principais fontes de âmbar. Cerca de 90% do âmbar encontrado hoje em todo o mundo provém desta região. Sendo assim, o âmbar báltico é considerado muito mais raro e valioso do que os demais tipos de âmbar.

O que é âmbar e onde pode ser encontrado?

A princípio, o âmbar é uma substância orgânica, uma resina fóssil produzida por pinheiros que cresceram no norte da Europa – das regiões meridionais da Escandinávia atual e regiões próximas do leito do Mar Báltico. O clima tornou-se mais quente e as árvores começaram a exalar grandes quantidades de resina.

Como saber se âmbar é original?

Coloque uma ou duas gotinhas de acetona ou álcool em uma das contas, se a superfície ficar viscosa, pegajosa ou a cor for alterada, não é âmbar. O âmbar boia na água salgada. Misture uma parte de sal com duas de água e dissolva. Se boiar, é âmbar.