Por quê ocorreu as queimadas na amazonia

Dados do Monitor do Fogo do MapBiomas mostram que queimadas cresceram 7% na Amazônia e 3,372% no Pampa nos sete primeiros meses do ano

O Brasil queima no Norte e no Sul de seu território. Dados do MapBiomas mostram que 2.932.972 hectares foram consumidos por queimadas nos primeiros sete meses do ano. Embora maior que o estado de Alagoas, essa área é 2% menor do que a que foi consumida pelo fogo no ano passado. Porém na Amazônia e no Pampa a situação é diferente: esses são os únicos biomas com aumento na área afetada pelo fogo. Na Amazônia, o fogo atingiu uma área de 1.479.739 hectares, enquanto que no Pampa foram 28.610 hectares queimados entre janeiro e julho de 2022. Nesse período, foi registrado um aumento de 7% (ou mais de 107 mil hectares) na Amazônia e de 3,372% no Pampa (27.780 ha).

Esses dados fazem parte da nova versão do Monitor do Fogo, que o MapBiomas lançou nesta quinta-feira (18) em sua plataforma. Ela passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2, que tem duas importantes características para esse tipo de mapeamento: ele passa a cada cinco dias sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais; além disso, tem resolução espacial de 10 metros. Isso acrescenta cerca de 20% a mais na área queimada em relação aos dados do MapBiomas Fogo coleção 1, que traz o histórico de fogo anualmente desde 1985. Também permite que a partir de agora os dados sejam divulgados mensalmente.

>> Acesse o Monitor do Fogo

O Monitor do Fogo do MapBiomas difere e complementa o monitoramento do INPE porque avalia as cicatrizes do fogo, e não os focos de calor. O motivo é simples: dados de focos de calor representam a ocorrência de fogo (e potencialmente contribuem para seu combate) mas não permitem avaliar a área queimada. O Monitor de Fogo, por sua vez, revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE.

“Este produto é o único nessa frequência e resolução a fornecer esses dados mensalmente, o que facilitará muito a prevenção e combate aos incêndios, indicando áreas onde o fogo tem se adensado”, explica Ane Alencar, coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas. “Além do poder público, é uma ferramenta de grande utilidade para a iniciativa privada, como o setor de seguros, por exemplo”, completa.

>> Acesse os principais destaques do Monitor do Fogo

Os dados dos sete primeiros meses de 2022 mostram que três em cada quatro hectares queimados foram de vegetação nativa, sendo a maioria em campos naturais. Porém um quinto de tudo que foi queimado no período foi em florestas. Metade das cicatrizes deixadas pelo fogo localizam-se no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais, ou seja, áreas de floresta que não deveriam queimar.

O Mato Grosso foi o estado que mais queimou nos sete primeiros meses de 2022 (771.827 hectares), seguido por Tocantins (593.888 hectares) e Roraima (529.404 hectares). Esses três estados representaram 64% da área queimada afetada no período.

No Cerrado, a área queimada entre janeiro e julho de 2022 (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020. O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), porém um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8% na comparação com 2020. O Pantanal, por sua vez, apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos (75.999 hectares), com 19% de redução de 2022 para 2021 em relação a área queimada de janeiro a julho.

Dentro os tipos de uso agropecuário das áreas afetadas pelo fogo, as pastagens se destacaram com 14% da área queimada nos sete primeiros meses de 2022.

O primeiro e o segundo lugar da lista de municípios que mais queimaram entre janeiro e julho de 2022 são ocupados por Normandia e Pacaraima, ambas em Roraima. Em julho de 2022, os municípios de Formosa do Araguaia e Lagoa da Confusão, no Tocantins, foram os que tiveram maior área queimada. Neste último, fica parte do Parque Nacional do Araguaia.

Assista ao evento de lançamento do Monitor do Fogo

Houve mais queimadas na Amazônia brasileira na primeira semana de setembro deste ano do que em todo o mês de setembro de 2021. No mês passado, o número de queimadas foi o pior em uma década. A temporada do fogo tem sido devastadora para a maior floresta tropical do mundo.

O fogo não é natural no ecossistema úmido da Amazônia, e sim  frequentemente parte do processo de desmatamento que é majoritariamente ilegal. O fogo é iniciado muitas vezes de forma intencional nas áreas desmatadas ilegalmente para converter a floresta em pastagem. Esses incêndios às vezes podem se espalhar além da área desmatada e atingir florestas saudáveis, causando danos ainda maiores.

No assentamento rural Terra Nossa, criado em 2006 para camponeses sem terra, queimadas provavelmente criminosas destruíram uma área considerável das plantações da comunidade em agosto. O fogo também atingiu parte da reserva florestal do assentamento. Além de perder seu sustento, alguns moradores da Terra Nossa tiveram a saúde afetada com a densa fumaça que cobria suas casas. Assentados acreditam que as queimadas foram provocadas para expulsar famílias e tomar posse de suas terras.

Nos últimos quatro anos, as políticas governamentais enfraqueceram as agências ambientais, prejudicando sua capacidade de promover a efetiva responsabilização por crimes ambientais ou detectar a exportação de madeira ilegal. Os moradores de Terra Nossa são vítimas desta inação em relação aos crimes ambientais e à violência contra os defensores da floresta.

Os assentados denunciaram repetidamente a extração ilegal de madeira e as queimadas em Terra Nossa. Ainda que uma inspeção do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) tenha confirmado a presença de ocupantes irregulares, as autoridades não adotaram medidas para sua retirada.

Em 2018, um morador do assentamento Terra Nossa foi morto e outro desapareceu depois de dizerem que planejavam denunciar a extração ilegal de madeira. O irmão de uma das vítimas, que estava investigando o crime por conta própria, também foi assassinado, assim como o líder de um sindicato de pequenos produtores rurais depois de também dizer que denunciaria os madeireiros. Desde então, lideranças na comunidade continuam recebendo reiteradas ameaças de morte.

Poderosas empresas multinacionais que obtêm seus produtos agrícolas de fazendeiros e madeireiros operando ilegalmente na Amazônia se beneficiam desta crise de impunidade. Investigações de organizações não-governamentais e da imprensa expuseram como a carne bovina, o couro e a madeira brasileira provenientes de atividades ilegais na Amazônia são “lavados”, vendidos no mercado legal e exportados ao redor do mundo.

A comunidade internacional deveria dar um fim a sua participação nesta destruição, adotando e implementando rigorosamente legislação para restringir a importação de commodities agrícolas ligadas ao desmatamento e abusos de direitos.

Qual é o principal motivo das queimadas?

As queimadas são atividades realizadas tanto em áreas de florestas como em áreas de pastagens, ocorrendo para diversas finalidades, como limpeza da vegetação ou preparo do solo, para a agricultura e pecuária. Elas podem ser de dois tipos, natural e humano, causadas pelo próprio meio ambiente ou pelos seres humanos.

Por que a Amazônia está em chamas?

Com as mudanças climáticas, a floresta amazônica está mais inflamável devido ao “efeito de borda”, margem da floresta encostada em áreas desmatadas ou muito degradadas.