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Pré-visualização | Página 32 de 50outros, de morno. Na questão 6 do roteiro de atividade foi solicitado o uso de um termômetro para medir a temperatura da água em cada copo. Chamamos atenção que o professor chegou a questionar os estudantes se sabiam fazer uso do termômetro, mas não houve uma explicação adequada de como tirar medidas com ele; e muitos reclamam de não entender como proceder. Apesar disso, foram frequentes os pedidos do professor por agilidade, mostrando que precisava que extraíssem dados antes do término da aula. O professor ofuscou a problematização que havia durante a aula e simplesmente pediu que anotassem os dados no roteiro de atividade quando o marcador do termômetro estabilizasse. Em outras palavras, omitiu-se o processo de preparação daquilo que se quer mensurar e fazer no experimento (a fenomenotécnica). Fazendo uma vigilância epistemológica, podemos dizer que o professor, ao suprimir a reflexão sobre o que será observado e o como fazê-lo (operar os instrumentos, por exemplo), reforçou o obstáculo da experiência primeira. 0 5 10 15 20 2 3 7 9 N ú m e ro d e r e s p o s ta s Questões a b Figura 4.2 – Respostas a questões do roteiro Atividade Experimental II-P 119 Na Figura 4.2 trazemos a distribuição de respostas dos estudantes para as questões 2, 3, 7 e 9. Selecionamos estas porque: a segunda e a terceira questões juntas permitem apontar se os estudantes vinculavam temperatura e calor e, ao mesmo tempo, se manifestavam o pensamento substancialista; a sétima e a nona questões mostram se houve alguma mudança no pensamento dos estudantes referente à relação entre sensação térmica e temperatura após a realização das AEs destas aulas. Podemos encontrar o pensamento substancialista manifestado nas respostas à questão 3 (Figura 4.2). Nela, 17 estudantes apontaram que a água no copo C possui mais calor que a água do copo A. Podemos inferir, destes resultados contrastados à questão 2, de que temperatura e calor estão fortemente vinculados para os estudantes, visto que 14 deles haviam assinalado na questão 2 que o copo C possui maior temperatura. Na questão 7 (Figura 4.2), conforme os estudantes o tato acusa: 1 (um) disse que (a) a temperatura da água; quatro afirmaram que (b) o calor que está armazenado na água; seis concordaram com (c) a troca de calor entre minha mão e a água; os sete restantes concordaram com (d) a diferença de temperatura entre minha mão e a água. O estudante que afirmou a alternativa a demonstra a forte presença do obstáculo da experiência primeira, assim como os 4 estudantes, que também manifestaram o obstáculo substancialista, ao selecionarem a alternativa b. As duas últimas alternativas (c e d) aproximam-se de uma explicação mais adequada do fenômeno físico da sensação térmica. Porém, deixamos as duas alternativas para identificar se as representações dos estudantes têm vínculo com o pensamento substancialista, o que é notado na resposta dos seis estudantes, que negaram o tato como medidor de temperatura, mas ainda consideram que um objeto com certa temperatura cede calor para outro. Sendo assim, evidenciamos como a atividade experimental dos copos permitiu a mudança na representação de 13 estudantes sobre o tato, aproximando- se de uma concepção menos ingênua sobre o mesmo. Essa atividade permitiu a configuração de um conflito cognitivo ao mesmo tempo em que permitiu a emergência de outra explicação para o fenômeno, para a sensação térmica. Após medirem a temperatura dos três objetos, os estudantes responderam a questão 9, novamente sobre o tato, feita para contrastar com as anteriores; infelizmente só 3 grupos responderam-na. Um grupo mediu pelo termômetro que as temperaturas eram diferentes (metal: 25,0 °C; madeira: 28,5 °C; e pano: 29,0 °C), e como consequência direta respondeu que (a) o tato mede temperaturas diferentes. Outro grupo 120 respondeu que o metal tem temperatura mais baixa que a da madeira, entretanto, havia encontrado valores idênticos de temperatura para os materiais. Esses estudantes, durante a aula, haviam dito que o metal e a madeira têm temperaturas diferentes porque “são objetos diferentes”. O último grupo respondeu que o (c) “pano esquenta a minha mão”, mostrando que a atitude empírica da experiência primeira mantém algumas imagens no pensamento dos estudantes, mas ao menos desvincularam tato e temperatura depois das AEs realizadas. Mesmo após toda a turma ter feito a segunda atividade experimental, em que o tato fora dito como falho para acusar temperatura, a tomada de medida de temperatura com o termômetro acusando os materiais com a mesma temperatura (para alguns grupos) surpreendeu os estudantes. Em outras palavras, apesar terem resolvido que o tato não mede a temperatura na atividade dos copos, eles mantiveram a representação de que o metal deveria ter menor temperatura que o pano. Essa resistência do modo de pensar reafirma a existência do obstáculo da experiência primeira. Se o objetivo da tomada de medida com o termômetro era causar um conflito sociocognitivo para fissurar esse obstáculo, isso não ocorreu nesta aula. A atividade experimental dos copos contendo água a diferentes estados térmicos proporcionou o compartilhamento de significados para boa parte da turma, culminando em: a sensação térmica não mede a temperatura do objeto, pois depende da temperatura da nossa mão. Devemos salientar que ela também fora pensada para gerar um conflito sociocognitivo. Na primeira parte da atividade, os estudantes mantinham forte vínculo entre temperatura e tato, mas, na segunda parte da atividade, quando pelo tato a água no copo B foi dada como quente, morna e fria, podemos perceber que muitos mudaram de opinião. Todavia, o diálogo estabelecido não pode ser caracterizado como conflito sociocognitivo, uma vez que não houve a discussão entre todas as representações diferentes para chegar a uma convergência. Após o professor questionar a turma se seria coerente que a água no copo B fosse quente, fria e morna, as respostas que apareceram no final já eram convergentes entre si. Também planejada para ser uma atividade experimental conflitiva, a mensuração da temperatura teria potencial para criar um conflito sociocognitivo, no entanto, o diálogo didático não permitiu que isso ocorresse de forma satisfatória. Nesse caso, o conflito sociocognitivo teria como meta fissurar o obstáculo da experiência primeira. Resumindo, podemos dizer que as AEs realizadas neste primeiro dia permitiram a Identificação de obstáculos e o início da 121 construção de um novo modelo explicativo, contudo, a Fissuração dos obstáculos não ocorreu de forma esperada. 122 4.3 ENCONTRO 2 – AULAS III E IV 4.3.1 Revisão e discussão da atividade dos copos No planejamento (Apêndice C), o propósito da terceira aula era fissurar o obstáculo substancialista e, na quarta aula, construir um novo modelo representacional tal que promovesse a etapa de superação dos obstáculos de aprendizagem. No entanto, neste encontro, havia a presença de 26 estudantes, 9 a mais que no primeiro. Foi necessário revisar a atividade dos copos e discuti-la ao longo da terceira hora-aula. Trazemos na Figura 4.3 os resultados das duas primeiras questões do roteiro Atividade Experimental III-P (Apêndice B), que servem para identificar se essa discussão da AE dos três copos provocou alguma mudança no modo dos estudantes pensarem. O número total de respostas varia porque alguns estudantes não assinalaram algumas alternativas. Podemos evidenciar um número expressivo de estudantes Por que o tato não é um bom termômetro?Através do tato podemos sentir variações de temperatura em outros corpos, porém não temos precisão para indicar variações pequenas de temperatura e também podemos ser enganados pela sensação térmica.
É confiável medir a temperatura de um corpo pelo tato explique?O tato não é um bom indicador de temperatura quando o objetivo for uma medição precisa. O experimento mostra que a sensação de frio ou quente é in uenciada pela sensação anterior.
Porque não pode medir a temperatura no pulso?O pulso é uma extremidade do corpo e por isso é mais fria do que a temperatura das axilas, da testa, ou da boca por exemplo. Sendo assim, medir a temperatura no pulso, não conta com a mesma precisão e pode não detectar febres existentes, que se fossem medidas pela testa, seriam detectadas.
Porque nem sempre é adequado fazer medida de temperatura usando o tato ou seja as mãos?Nós todos possuímos, nas mãos e nos pés – e espalhados por toda a pele que recobre nosso corpo – alguns sensores que nos permitem diferenciar o que é quente e o que é gelado. Porém, esses sensores não permanecem calibrados como um termômetro comum: eles vão se ajustando à temperatura em que estão.
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