Quais os pontos positivos e as contradições da BNCC?

115

Quais os pontos positivos e as contradições da BNCC?

Há pontos positivos na Base, mas também contradições sérias, que precisam ser analisadas com critério pelo professor do componente

Quais os pontos positivos e as contradições da BNCC?
BNCC propõe a integração de duas tendências divergentes na Educação Física: a cultural e a construtivista. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

As concepções teóricas sobre o ensino da Educação Física nas últimas décadas passaram por importante transformação e a repetição mecânica de exercícios, a ausência de crítica e reflexão na realização das práticas corporais, a alienação política pedagógica e o baixo status desse componente curricular foram bastante questionados. Em função disso, esperava-se que a BNCC trouxesse para as aulas de Educação Física um enfoque mais claro, que dialogasse de forma mais objetiva e possível sobre o ensino desse componente na escola. Mas não é o que acontece. 

Para tematizar as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, a Base propõe a integração de duas tendências divergentes no ensino de Educação Física: uma cultural e outra de base construtivista. A primeira tendência reconhece que o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e tem como principal objetivo o trabalho com as práticas corporais, abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. A segunda, de base construtivista, influenciada pela tipologia dos conteúdos proposta por César Coll, que entende a imersão na cultura como necessária, mas não suficiente para a prática corporal dos alunos, propõe o desenvolvimento de competências e habilidades específicas para cada segmento de escolaridade.

Nas duas primeiras versões do documento, percebe-se claramente a influência da abordagem cultural da Educação Física escolar, seu posicionamento político pedagógico e a sua articulação à área de Linguagens. Já na versão final, ao introduzir as competências e habilidades específicas da Educação Física, a Base apresenta um discurso mais alinhado às teorias da psicologia do desenvolvimento, concentrando-se na proposição das habilidades essenciais que todos os alunos devem desenvolver a cada etapa da Educação Básica. Porém, a primeira ideia se opõe à segunda. 

É importante destacar que o esforço de anos para que a Educação Física não seja mais tratada como uma prática meramente recreativa, voltada ao desenvolvimento da aptidão física e desportiva, está presente no texto da BNCC. O desafio maior é o que fazer com tantos conteúdos propostos. Por mais que o próprio documento afirme que os critérios de organização das habilidades na BNCC não devam ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currículos, a impressão que se tem é que há um excesso de objetos de conhecimento e habilidades para o escasso tempo didático (duas aulas semanais) disponível na realidade escolar brasileira. 

Outra idiossincrasia do documento é o que a BNCC chama de “progressão do conhecimento” na unidade temática de jogos e brincadeiras. Há a mudança de brincadeiras populares do contexto regional para brincadeiras populares do Brasil, sem que ocorra uma explicação sobre o que faz as primeiras serem consideradas menos complexas do que as outras. Nessa mesma unidade temática, o documento se posiciona favorável à valorização do jogo com um fim em si. Na Educação Física Escolar, predomina o entendimento de que os alunos constroem conhecimento de forma relativamente natural e espontânea ao participar de práticas sociais como os jogos e as brincadeiras. No entanto, planejar e utilizar estratégias para resolver desafios é uma habilidade que não ocorre espontaneamente e com a mesma intensidade em todos os alunos. Portanto, o jogo em si não oportuniza as mesmas habilidades para todos. É necessário que exista intencionalidade na ação do professor.

Essas são apenas algumas das incoerências que podem ser observadas em uma leitura mais crítica e minuciosa do documento. Mas o maior desafio da BNCC de Educação Física, na minha opinião, ainda é ter um marco teórico coerente e conseguir aproximar do professor que está no “chão da quadra” uma concepção que ainda está muito distante da realidade desse componente na escola. 


Marcos Santos Mourão (Marcola) é professor de Educação Física do Ensino Fundamental da Escola da Vila, professor do Centro de Formação da Escola da Vila e selecionador do Prêmio Educador Nota Dez

Eu quero saber mais sobre

Nesta semana, o Ministério da Educação (MEC) entregou ao Conselho Nacional de Educação (CNE) a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio. O documento nasce com uma difícil missão pela frente: estancar a evasão e a queda nos índices de aprendizagem da etapa, além de torná-la mais conectada com os jovens. Confira alguns pontos que merecem sua atenção nesse assunto.

Áreas do conhecimento

A BNCC do Ensino Médio organiza os conteúdos (competências e habilidades) por áreas do conhecimento (a saber: Linguagens, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Sociais e Matemática). Esse é um arranjo muito interessante, porque está alinhado a uma concepção de ensino mais integrado, condizente com os desafios atuais que exigem a mobilização simultânea de diversos conhecimentos. Além disso, essa organização incentiva a colaboração entre professores de diferentes áreas e disciplinas. Dito de outra maneira, professores de matemática e geografia, por exemplo, serão mais estimulados a trabalhar juntos em um tópico sobre o espaço em que a escola está inserida. A despeito dessa positiva transversalidade, é válido ressaltar, porém, três pontos. O primeiro é a necessidade de outras mudanças para que esse efeito positivo aconteça (como a alteração na forma de funcionamento das escolas e a formação inicial e continuada de professores). O segundo é que o CNE terá de avançar na especificação das habilidades previstas no documento, que estão ainda muito amplas e genéricas, e o terceiro é que o MEC terá de criar políticas de apoio e incentivo robustas, o que nos leva ao tema seguinte.

A Base na prática

A reflexão sobre como a Base do Ensino Médio de fato chegará às escolas diz respeito ao que chamamos, entre os especialistas, de implementação da política pública. Em relação a isso, muito falta ser explicado.

No momento, há um processo de discussão técnica do que queremos em termos de conteúdo para o ensino de nossos jovens, de acordo com as legislações já existentes e as melhores práticas pedagógicas. No entanto, como dito no tópico anterior, o novo arranjo de conteúdo e a reestruturação dessa etapa exigirão dispositivos de apoio e incentivo (inclusive de recursos e infraestrutura) que garantam uma adaptação das redes de ensino, com qualidade e equidade. Essa implementação tem que estabelecer altas expectativas de aprendizagem para todos os jovens do Brasil, a despeito de suas características socioeconômicas e étnicas. Uma mudança de currículo que não combata as desigualdades educacionais e sem as devidas providências de implementação será fatalmente uma frustração.

Professores

Enquanto a Base do Ensino Fundamental funcionou como rearranjo e adição de móveis a uma sala, a do Ensino Médio significa uma reconstrução completa do cômodo, pois vem acompanhada da reforma aprovada em 2016 (MP nº 746/2016). Tamanha mudança desafiará todos os profissionais da etapa, especialmente os professores. Diante disso, é preciso incluir e preparar os docentes em três dimensões: envolvê-los nas audiências públicas de discussão da Base (haverá 5 nos próximos meses), alinhar a formação docente aos novos desafios interdisciplinares e garantir uma ampla participação na adaptação dos currículos locais à Base. Precisamos evitar a todo custo que os novos currículos sejam apenas despachados aos docentes, pois serão eles os responsáveis por colocar em movimento os novos formatos e metodologias, que acompanham uma aprendizagem mais transversal. Sem os professores, a Base do Ensino Médio estará fadada ao fracasso.

Divisão em partes flexíveis e comuns (obrigatórias)

Assim como determinado pela lei da reforma, o novo Ensino Médio terá uma parte flexível (formada por itinerários formativos) e uma comum a todos os alunos do Brasil. Embora essa composição seja desejável e alinhada ao que se faz em países referência em excelência, nessa etapa de ensino, ainda falta clareza sobre quais conteúdos comporão a parte comum e serão obrigatórios a todas as escolas.

A MP nº 746 já definiu que os conhecimentos relacionados a português e matemática serão obrigatórios nos três anos da etapa, mas não ficou explícita no texto entregue pelo MEC a obrigatoriedade dos demais saberes. Esse é um dos aspectos que precisarão ser melhor esclarecidos e definidos nas discussões sobre o documento no CNE.

Reconhecimento das juventudes

O texto da Base reconhece que o Ensino Médio tem de acolher as juventudes (assim, no plural). O documento também trata o jovem como alguém que tem algo a dizer sobre seu tempo, com expectativas originais para sua vida, a sociedade e o mundo. Esse reconhecimento é fundamental para que as escolas e a aprendizagem dos estudantes estejam conectadas à diversidade de projetos de vida e identidades juvenis. Nesse sentido, a Base acerta ao fortalecer as opiniões dos jovens e suas visões de mundo, o que precisa ser considerado e incorporado na adaptação dos currículos escolares regionais. Uma escola que acolhe as diversidades e combate todos os preconceitos trabalha a favor da formação integral e, assim, cumprirá sua missão: ser o berço de uma sociedade mais produtiva, equitativa e justa.

Quais os aspectos positivos e negativos da BNCC para a Educação Básica?

A BNCC torna alguns pontos prioritários para o Ensino Fundamental brasileiro, a exemplo da valorização cultural, da comunicação ampla, do incentivo ao pensamento científico entre os estudantes, do autoconhecimento e do acesso plural à tecnologia. A seguir, este post explora como essas competências afetam os pequenos.

Qual é o ponto de vista negativo desfavorável à BNCC?

Muitos se sentem perdidos sobre como se adaptar até 2020 com as novas regras e sentem falta de uma orientação mais eficaz. Assim, muitos críticos definem a disputa entre o real propósito da BNCC e as dificuldades de sua aplicação, considerando que o ensino atual é muito mais rígido e pré-definido.

Quais as principais críticas feitas a BNCC?

Em suma, o texto final da Base é criticado por insistir em uma visão fragmentada do conhecimento e do desenvolvimento humano, por invisibilizar as questões ligadas à identidade gênero e orientação sexual, enfatizar o ensino religioso e antecipar a idade máxima para conclusão do processo de alfabetização, ignorando as ...

Quais são as implicações da BNCC?

Portanto, a BNCC traz implicações para o currículo da Educação Básica à medida que tenta regular o conhecimento por meio de conteúdos mínimos, competências, habilidades e desempenho nas avaliações.