Quais são os problemas ambientais causados pelo processo de urbanização?

O processo de urbanização que milhares de cidades enfrentam tem afetado de maneira impactante a natureza. Isso porque o rápido crescimento populacional e territorial que acontece nesses centros, transformando o espaço rural em urbano, faz com que diversos malefícios ocorram contra o meio ambiente.

De acordo com o arquiteto e urbanista do Instituto de Arquitetos do Brasil - Minas Gerais (IAB-MG), Alceu Brito, consequências como a extinção da vegetação nativa e a erradicação ou expulsão da fauna local são algumas das causas mais graves. “Além disso, temos a alteração do perfil natural do terreno, o que compromete a estabilidade e a mudança dos padrões de drenagem naturais, razão pela qual pode-se acelerar o processo de erosão e assoreamento do local”, destaca.

Ainda segundo ele, a urbanização sempre afetará o ecossistema natural, pois pode modificar profundamente ou mesmo interromper definitivamente os processos ecológicos existentes. No Brasil, os problemas urbanos se agravaram nas últimas décadas, uma vez que milhares de pessoas migraram do campo para as metrópoles.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 1940, apenas 31% da população vivia em cidades. Ao término de 2010, o número passou para 84%. Conforme relatório do programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), esse número crescerá para 90% em 2020.

Esse crescimento desordenado trouxe uma série de problemas sociais e ambientais,entre eles a poluição sonora, do ar, visual, dos rios e mananciais, além de inundações, maior ocorrência de desabamentos e criminalidade. Para Brito, o modelo brasileiro, historicamente, sempre se contrapôs negativamente ao meio ambiente. “Desde os fins do século XIX até os dias de hoje, praticamente nada foi levado em consideração a despeito da evolução do conhecimento no processo de urbanização”, critica.

Conforme explica o profissional, é possível elaborar um projeto urbanístico que priorize a harmonia entre a conservação do meio ambiente e o bem-estar humano. “É preciso começar com o mapeamento completo da região, bem para além do espaço a ser projetado. Além disso, levar em consideração fatores como áreas de preservação, nascentes, recarga de aquíferos e demais recursos hídricos, topografia, solos e características geológicas e descarte de lixo”, diz. Outras medidas importantes seriam o saneamento básico, arborização e a adoção de manejo ecológico das áreas paisagísticas dentro das cidades.

Referência. Para a arquiteta e urbanista Luciana Bragança, a cidade de Curitiba, no sul do país, possui um ótimo modelo de urbanização. “Essa capital respeita os leitos naturais dos rios e os protege. As propostas de mobilidade, focadas nas bicicletas e transportes públicos, também, são bons exemplos”, diz. No entanto, ela destaca que aplicar modelos urbanísticos de determinados centros em outras metrópoles não é um bom exercício, uma vez que “é importante reconhecer os condicionantes locais para, assim, construir boas práticas”, conclui.

A metrópole- grande aglomeração na qual uma cidade central polariza (política, econômica e culturalmente) uma ampla região constituída de várias outras cidades - é a maior amostra do poder do homem para transformar o ambiente natural.

De maneira geral, os problemas ambientais se manifestam mais nas grandes cidades, em comparação às pequenas ou ao meio rural. Nesses grandes centros urbanos há problemas ambientais que produzem diversas conseqüências sobre todos os aspectos do meio ambiente natural (como a fauna, a flora, o relevo, o clima e a hidrologia). Além da poluição atmosférica, as metrópoles apresentam outros problemas ambientais, como:

  • Poluição sonora: provocada pelo excesso de ruídos (do trânsito de veículos automotores, indústrias, obras nas ruas, movimento de pessoas, propaganda comercial, sirenes e alarmes, atividades recreativas, entre outras). Isso pode causar danos aos seres humanos, como estresse, efeitos psicológicos, distúrbios neurológicos, náuseas e cefaleias, até a perda da audição.
  • Poluição visual: ocasionada pelo excesso de cartazes, anúncios, propagandas, banners, totens, placas, etc. dispostos no ambiente urbano e que escondem a fachada das casas e dos edifícios - e, principalmente, a paisagem natural.
  • Água e esgotos: devido ao excesso de consumo de água e à poluição dos mananciais (reservas de água) por resíduos domésticos e industriais, os sistemas de abastecimento tornam-se cada vez mais caros, pois quando as reservas locais estão contaminadas é preciso, para abastecer os grandes centros urbanos, transportar água de locais distantes.

O esgoto também se configura num problema grave, sobretudo nas cidades dos países em desenvolvimento, que não dispõem de redes completas de coleta e de estações adequadas de tratamento.

Como consequência, ocorre a poluição das águas dos rios e córregos, causada pelo lançamento de efluentes industriais e agrícolas - e também de esgotos domésticos, além de outros resíduos sólidos.

No estudo desenvolvido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), intitulado "Além da Escassez: Poder, Pobreza e a Crise Mundial do Fornecimento de Água", a agência das Nações Unidas informa que, anualmente, 1 milhão e 800 mil crianças morrem de diarreia (o equivalente a 205 crianças por hora), 443 milhões faltam à escola por doenças causadas pelo consumo de água inadequada e metade da população dos países em desenvolvimento passa por algum problema de saúde dessa natureza.

  • Congestionamentos frequentes: um dos problemas que tem recebido maior atenção de especialistas e governos é referente ao tráfego e à crescente motorização das populações urbanizadas. Nas grandes cidades, a expansão da motorização individual gerou um aumento nos deslocamentos por automóvel, ao passo que a utilização dos transportes públicos estagnou ou declinou.

Nas cidades dos países em desenvolvimento, devido à carência de adequados sistemas de transporte público, o uso do automóvel foi privilegiado para os habitantes realizarem seus deslocamentos. Além disso, a expansão das cidades e a conseqüente formação de subúrbios distantes do centro propiciaram o aumento das distâncias percorridas por aqueles que diariamente se deslocam para trabalhar, utilizando, para isso, o automóvel.

Assim, o congestionamento das vias urbanas de tráfego é resultado da ligação desses dois processos. Vale lembrar ainda os impactos locais ocasionados pelo automóvel, como a poluição do ar, a poluição sonora e os acidentes de tráfego, bem como a infra-estrutura viária construída (pistas expressas, vias elevadas, viadutos, anéis periféricos), que consome amplos espaços, descaracteriza grande parte da paisagem urbana e deteriora parques, praças e áreas residenciais.

  • Carência de arborização: entende-se por arborização urbana toda cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades. As árvores desempenham uma importante função nas áreas urbanizadas, no que se refere à qualidade ambiental. A sua falta implica em diversas conseqüências para o ambiente urbano, já que elas realizam a purificação do ar por meio da fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através de mecanismos fotossintéticos.

As árvores melhoram o microclima da cidade, retendo a umidade do solo e do ar e gerando sombra; influenciam o balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e provocando evapotranspiração mais lenta; protegem as nascentes e os mananciais; reduzem a poluição sonora, pois amortecem os ruídos; e, finalmente, servem de abrigo à fauna, principalmente aos pássaros.

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