Qual a importância e o objetivo dos estudos de análise morfométrica das bacias hidrográficas?

Autores

  • Jéssica Lana de Souza da Silva Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Rômulo Montan Costa Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Ricardo Tavares Zaidan Universidade Federal de Juiz de Fora

DOI:

https://doi.org/10.14393/RCG228255911

Palavras-chave:

Alta suscetibilidade, Comportamento hidrológico, Integração Qualitativa, Sub-bacias

Resumo

As análises morfométricas são importantes ferramentas metodológicas na interpretação do comportamento hidrológico e da dinâmica geomorfológica de uma bacia hidrográfica. Tal assertiva ganha importância, a partir do momento em que os fenômenos de inundações compreendem um dos principais problemas ambientais na América Latina e Brasil. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo é avaliar comparativamente, com base nas características lineares, zonais e hipsométricas, a morfometria de onze sub-bacias de contribuição do Ribeirão Ubá, a fim de apreender aspectos qualitativos que possibilitem subsidiar o entendimento de fatores intrínsecos às inundações da cidade de Ubá-MG. Para a realização das análises morfométricas gerou-se uma base cartográfica constituída por arquivos vetoriais e matriciais; os mesmos foram gerenciados, manejados e tratados através do software ArcGIS 10.1. Posteriormente, uma integração qualitativa dos resultados foi realizada indicando as sub-bacias do Ribeirão Ubá que apresentam características morfológicas mais propícias às inundações. Nesse sentido, três sub-bacias foram categorizadas como de alta suscetibilidade geomorfológica às inundações, devendo receber atenção especial. As mesmas foram denominadas como sub-bacias 5, 6 e 7, apresentando caracterítiscas de alta declividade, alta amplitude altimétrica e significativo número de canais de primeira ordem.

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Qual a importância e o objetivo dos estudos de análise morfométrica das bacias hidrográficas?

Como Citar

DA SILVA, J. L. de S.; COSTA, R. M.; ZAIDAN, R. T. APLICAÇÃO DA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO SUBSÍDIO AO ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS CRESCENTES DE INUNDAÇÕES NA MALHA URBANA DA CIDADE DE UBÁ-MG. Caminhos de Geografia, Uberlândia, MG, v. 22, n. 82, p. 201–214, 2021. DOI: 10.14393/RCG228255911. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/55911. Acesso em: 12 dez. 2022.

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1As bacias hidrográficas são importantes para a investigação das características das mais variadas formas de relevo, pois elas auxiliam no entendimento da evolução do modelado terrestre. Segundo Penteado (2011) as bacias hidrográficas podem ser entendidas como uma “[...] célula básica da análise ambiental permitindo reconhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos de interação que nela ocorrem, devido à possibilidade do estudo dos elementos naturais e sociais que a compõem numa relação de causa e efeito”.

2O comportamento de uma bacia hidrográfica pode ser alterado de acordo com suas características físicas, tais como relevo, clima, drenagem, cobertura vegetal, dentre outros (Lima, 1986). Muitos estudos sobre bacias hidrográficas tem um viés qualitativo, onde são interpretados os aspectos fisiográficos da área em questão. Entretanto, algumas especificidades ou generalidades podem passar despercebidas, fazendo com que seja necessário o emprego de técnicas quantitativas para complementar o estudo (Alves e Castro, 2003).

3Do ponto de vista quantitativo é comumente empregado o método de análise morfométrica, em que através de alguns parâmetros matemáticos é possível interpretar os elementos geométricos das formas de relevo que são capazes de revelar indicadores físicos específicos para cada área estudada, de forma a qualificarem as alterações ambientais (Alves e Castro, 2003).

4Segundo Barbosa e Furrier (2011) “os aspectos morfométricos das bacias hidrográficas refletem algumas das interrelações mais significativas entre os principais fatores responsáveis pela evolução e organização do modelado, em particular a geomorfologia”. Os estudos relacionados com as drenagens fluviais sempre possuíram função relevante na geomorfologia, pois os cursos de água constituem os principais responsáveis no processo morfogenético mais ativos na esculturação da paisagem (Alcântara e Amorim, 2005). Assim, a análise morfológica e morfométrica, representam um avanço para a compreensão do modelado do relevo (Cherem, 2008).

5A análise morfométrica aplicada na geomorfologia contribui para a interpretação da evolução da paisagem. Nesse sentido, Christofoletti (1970) relata que os estudos relacionados com as drenagens fluviais sempre possuíram função relevante na Geomorfologia, pois os cursos de água constituem processo morfogenético dos mais ativos na esculturação da paisagem terrestre.

6A partir do trabalho pioneiro de Horton (1945), outras metodologias foram surgindo para a representação estatística da evolução das bacias hidrográficas, tais como os trabalhos de Schumm (1956) e Strahler (1952, 1957). Por sua vez, na literatura nacional, destaca-se o trabalho desenvolvido por Christofoletti (1970), que contribuiu com a integração de novos índices (TONELLO et al., 2006).

7Diante do exposto, esse trabalho visa compreender e explicar, embasado em estudos geomorfológicos e morfométricos, as distintas morfologias fluviais das sub-bacias de terceira ondem da porção sul que compõem a bacia hidrográfica do rio do Peixe (MG), expondo, dessa forma, generalidades e especificidades baseadas nos seus parâmetros morfométricos. Atrela-se a este, o objetivo principal de interpretar padrões e singularidades entre os aspectos morfométricos das sub-bacias, relacionando os padrões com aspectos litológicos e estruturais, para se investigar áreas-chave idiossincráticas quanto aos aspectos geomorfológicos.

8Em termos científicos, importantes contribuições de tal estudo para a análise da paisagem poderiam ser citados, uma vez que a bacia hidrográfica do rio do Peixe possui um padrão geomorfológico sensivelmente distinto das suas circunvizinhas. Se por um lado apresenta relevos condicionados por expressivos lineamentos estruturais e controle litológico em sua porção sudoeste-nordeste, traz padrões fluviais meandrantes em extensas planícies aluviais intervaladas por rupturas de declive em sua baixa porção. Tais aspectos levam a morfologias fluviais distintas, comumente associadas a contextos de atividade neotectônica.

9O rio do Peixe é um dos principais afluentes da bacia do rio Paraibuna (Staico, 1977), afluente da margem esquerda do rio Paraíba do Sul. Sua bacia drena uma área de aproximadamente 2.373km², tendo o seu rio principal uma extensão de 188km (IGAM, 2010), nas mesorregiões da Zona da Mata Mineira e Sul/Sudeste de Minas, drenando os municípios de Bom Jardim de Minas, Olaria, Lima Duarte, Pedro Teixeira, Bias Fortes, Santa Rita de Ibitipoca, Santos Dumont, Matias Barbosa, Belmiro Braga, Santa Bárbara do Monte Verde e Juiz de Fora (Felippe, 2014).

10As sub-bacias estudadas (Figura 1) são as bacias do Córrego Cachoeira, Sem nome 1, Córrego Pirapitinga, Sem nome 2, Ribeirão Pirapitinga, Córrego Cerrado, Córrego Pasão da Cruz, Córrego Calaboca, Córrego Fumaça, Córrego Grota do Jacaré, Córrego do Barão, Córrego Grota do Paiol, Córrego Olaria, Córrego Pirapitinga 2 e Córrego Pinheiro.

11Há também questões ligadas à sociedade que direta ou indiretamente viria a ser afetada por alterações na paisagem. Bacias hidrográficas são constituídas de elementos como relevo, clima, vegetação, rede hidrográfica, mas também da própria sociedade que ali vive, habita e que pode vir a necessitar de retirar sua própria subsistência destes locais. É a organização hierárquica e que visa chegar o mais próximo a um equilíbrio que permite que o todo se sustente e mantenha em funcionamento. Assim, compreender qualquer uma de suas partes, traria subsídios para a melhoria da qualidade ambiental e de vida presente na bacia hidrográfica do rio do Peixe.

12Tais questões implicaram, inclusive, para que um financiamento através do Edital BIC-UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) / 2014 – 2015, permitisse que o projeto intitulado Morfometria da Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe: Identificação de Padrões e Singularidades, pudesse ser executado.

Material e métodos

13A primeira etapa da pesquisa consistiu na delimitação das bacias de 3ª ordem sobre a base hidrográfica ottocodificada do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), na escala de 1:50.000. Essa delimitação foi realizada por meio de equações SQL em SIG, agrupando-se as ottobacias referentes às bacias da ordem desejada. Foi elaborada a equação SQL das quinzesub-bacias da porção sul da bacia hidrográfica do rio do Peixe, através de ferramentas do software ArcGis 10.2.

14Foram calculados os parâmetros geométricos fundamentais para cada uma das sub-bacias delimitadas de 3º ordem: altitude máxima e mínima do canal, amplitude altimétrica do canal, comprimento canais, comprimento dos canais principais, comprimento da bacia, perímetro da bacia, área da bacia, altitude máxima e mínima da bacia e amplitude altimétrica da bacia.

15Posteriormente, foram geradas funções para o cálculo dos parâmetros morfométricos (Tabela 1): índice de rugosidade (Ir), densidade de drenagem (Dd), coeficiente de manutenção (Cm), fator de forma (Kf), gradiente do canal (Sc) e taxa de relevo (Rh). Esses parâmetros são os mais frequentemente utilizados em análises morfométricas de bacias hidrográficas (Vestena et al., 2006). Todos os cálculos geométricos e morfométricos foram realizados no software ArcGIS 10.2, com auxílio da base ottocodificada do IGAM na escala de 1:50.000.

Parâmetros morfométricos

16A densidade de drenagem correlaciona o comprimento total dos canais de escoamento com a área da bacia hidrográfica (Christofoletti, 1980). Esse índice permite indicar o grau de desenvolvimento do sistema de drenagem, podendo variar desde bacias com drenagem pobre a bacias excepcionalmente bem drenadas (Carvalho e Silva, 2006). O comportamento hidrológico das rochas é um dos fatores que altera a densidade de drenagem. Isso ocorre porque bacias constituídas por rochas com maior impermeabilização permitem um melhor escoamento superficial, facilitando a formação de canais e, consequentemente, aumentando a densidade de drenagem. A evidência de rochas porosas dificulta o escoamento superficial, que por sua vez dificulta a formação de canais de drenagem (Horton, 1945).

17Para Christofoletti (1980) “o coeficiente de manutenção tem a finalidade de fornecer a área mínima necessária para a manutenção de um metro de canal de escoamento”

18O índice de rugosidade é a relação entre a amplitude altimétrica da bacia hidrográfica e a densidade de drenagem (Tabela 1). Esse índice ajuda a evidenciar a movimentação do relevo, ou seja, a variação de declividades e o comprimento das vertentes, além da dimensão das drenagens. A declividade influencia na infiltração e nos processos erosivos em função do escoamento superficial (Lobão et al., 2011).

Tabela 1. Parâmetros morfométricos escolhidos para aplicação

Qual a importância e o objetivo dos estudos de análise morfométrica das bacias hidrográficas?

19Fonte: Elaborado pelas autoras.

20A taxa de relevo é a razão entre a amplitude altimétrica da bacia hidrográfica e o comprimento total da bacia. É diretamente proporcional ao tempo de concentração de escoamento superficial. Assim, com o aumento da taxa de relevo, maior será o tempo de concentração do escoamento superficial e, portanto, elevam-se os picos das enchentes/inundações (Horton, 1945).

21O fator forma é obtido através do produto entre a área total da bacia e o quadrado do comprimento total da bacia (Chorley et al., 1957). Uma bacia com um baixo fator forma, ou seja, mais estreita e alongada, é menos suscetível à enchentes e inundações, enquanto que outra bacia com o mesmo tamanho, porém com um fator forma maior (circular, por exemplo) é mais propensa a sofrer com as inundações (Souza, 2005).

22O gradiente do canal é calculado através da razão entre a amplitude altimétrica dos canais pelo comprimento do canal principal da bacia. Para Nunes et al., (2006), esse parâmetro é um bom indicador da capacidade de transporte de sedimentos. Quanto maior o gradiente, maior será a capacidade de transportar sedimentos, tendo em vista que sua declividade também é maior.

Área de estudo

23A bacia hidrográfica do rio do Peixe está localizada no sudeste do estado de Minas Gerais, na Zona da Mata Mineira (Figura 1), sendo uma bacia de 8ª ordem de acordo com a hierarquia fluvial de Strahler (escala 1/50.000). O principal curso d’água da bacia é o rio do Peixe, que possui uma extensão de 188 km e em seu trecho inicial recebe o nome de córrego da Serrinha, onde se encontram suas nascentes tradicionais, no município de Bom Jardim de Minas, em altitudes, em relação ao nível do mar, próximas a 1.200 metros e máxima de 1680 metros.

24A região localiza-se nas imediações do paralelo 22°, no domínio do clima Tropical (Conti, 1979), situando-se de acordo com IBGE (2002) na zona climática Tropical do Brasil Central. O clima da região é, predominantemente, tropical, úmido e de altitude, dada as proximidades com o Oceano Atlântico e a disponibilidade de sistemas atmosféricos ainda ricos em umidade, assim como por estar inserido em uma região serrana do tipo Mares de Morro (AB'Saber, 2007) e sofrer influências da orografia. Tal configuração climática ocorre pela forte influência de tais fatores geográficos de formação do clima (NIMER, 1989) e se materializa em duas estações climáticas bem distintas: uma quente e chuvosa, nos meses de verão, e outra mais fria e seca, nos meses de inverno (Ferreira, 2002). Durante os meses do verão, período das chuvas mais intensas, é comum a ocorrência de enxurradas e enchentes, com o aumento expressivo das vazões fluviais.

Figura 1. Localização da área de estudo, representando as sub-bacias de terceira ordem da bacia hidrográfica do rio do Peixe.

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25A média térmica anual oscila entre 18,9°C, sendo no mês mais quente fevereiro, com média de 21,7°C; e o mês mais frio julho, com média de 16,1°C. As precipitações no verão são marcadas pelas chuvas do tipo convectivo com elevado total pluviométrico acumulado, já no período de estiagem, as poucas precipitações são do tipo frontal com um baixo total pluviométrico (Santiago, 2008).

26De acordo com o CPRM (2007), a bacia é embasada pelas litologias do Complexo Mantiqueira, da Suíte Pouso Alto, do Grupo Andrelândia, do Complexo Paraíba do Sul, do Complexo Juiz de Fora e o do Complexo Piedade (Figura 2). Nessa conjuntura, os terrenos mais antigos da área são representados pelo Complexo Mantiqueira, datado do Arqueano, composto por rochas metamórficas, sobretudo, ortognaisses. Por sua vez, o Complexo Piedade está na base de extensas parcelas do norte e da região central da bacia (Tabela 2). Apresenta litologias paleoproterozóicas de biotita-hornblenda gnaisse e anfibolitos (CPRM, 2007). Os limites deste complexo são marcados por zonas de falha (cisalhamento compressional), onde se encontram declividades expressivas (acima de 30%).

27A bacia do rio do Peixe está situada no que Ab’Saber (2007) denominou de Domínio Morfoclimático Tropical Atlântico, que é constituído por “Mares de Morros”. Regionalmente, apresentam-se colinas e morros convexos a policonvexos com grande variabilidade de altura. O revelo dessa região se apresenta como movimentado, “amorreado” e serrano, com serras curtas e morros elevados de vertentes convexas (Scolforo et al., 2008).

28De acordo com Avila et al. (2017) “morfologicamente, a área da bacia possui colinas e morros convexos a policonvexos, apresentando uma grande variabilidade altimétrica. As coberturas superficiais configuram-se, majoritariamente, de elúvios coluvionados associados à colúvios em processo de eluviação, intercalados, por vezes, com planícies aluviais (em alguns casos, altimontanas), decorrentes da intensidade dos processos intempéricos associados ao clima úmido. Devido à resistência diferencial dos materiais, as maiores altitudes são atualmente encontradas sob embasamento de rochas quartizíticas e as menores em associação de granitoides e rochas gnáissicas”.

29As características hipsométricas da bacia demonstram que as maiores altitudes são encontradas nos trechos de montante, constituídos de litologias mais resistentes, sobretudo, em áreas serranas, embasadas pela unidade quartzítica do Grupo Andrelândia.

Figura 2. Geologia da área de estudo.

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Tabela 2. Litologia da das sub-bacias de 3ª ordem da bacia hidrográfica do rio do Peixe.

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Fonte: CPRM, 2007.

30A variação altimétrica média aproximada da área de estudo é de quase 600 metros. A porção oeste configura as maiores altitudes a medida que esta se estende para jusante, sentido leste (Figura 3).

31A declividade (Figura 4) das bacias componentes da área de estudo seguem a configuração hipsométrica. A porção leste se configura com menores declividades, principalmente < 2%, que de acordo com Silveira e Cunha (2006), são áreas sucetíveis a inundação. As bacias da porção oeste possuem de média a alta declividade (> 15%) justificado pela maior proximidade com os limites extremos da Serra da Mantiqueira.

32As menores altitudes da bacia são encontradas em terrenos de litologias menos resistentes, compostas por variantes de rochas granitoides e gnáissicas, onde os processos denudacionais puderam atuar de forma mais conspícua.

Figura 3. Modelo digital de elevação da área de estudo.

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Figura 4. Declividade da área de estudo

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33Foram delimitadas (escolhidas) quinze sub-bacias da porção sul do rio do Peixe de 3º ordem (Figura 5). Analisando o mapa do coeficiente de manutenção (Figura 6), ao observar os resultados dos coeficientes de manutenção das sub-bacias, nota-se que, a partir de uma relação inversa a densidade de drenagem, onde aquelas bacias que são mais bem drenadas, apresentam coeficientes de manutenção inferiores. Isso se deve ao fato de que esse parâmetro morfométrico tem o objetivo de fornecer a área mínima necessária para a manutenção de um metro de canal de escoamento. A bacia que obteve maior valor para o coeficiente de manutenção foi a do Córrego Calaboca (8) com 0,000643 km², sendo assim, nessa bacia é necessária uma área de 0,000643 km² para manter ativo um quilômetro (km) de canal fluvial.

34Alguns canais formam uma zona onde os coeficientes de drenagens são relativamente baixos se comparados aos padrões da bacia do Peixe, e permitem a formação de canais de maneira mais conspícua que em outras áreas da bacia. Nessas bacias é mais fácil a formação de canais e, provavelmente, a evolução da paisagem por processos hídricos se dá de forma mais evidenciada. Em sentido contrário tem-se bacias onde foram encontrados índices menos favoráveis para se formar canais, representados por uma baixa densidade de drenagem. Essa singularidade pode ser atrelada à condicionantes da paisagem local, como características geológicas e hidrológicas, que dificultam a formação de canais.

Figura 5. Sub-bacias estudada.

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Figura 6. Resultados para o parâmetro morfométrico coeficiente de manutenção.

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35A análise de padrões morfométricos como a densidade de drenagem, adquire grande importância como instrumento de análise da paisagem. No caso desse parâmetro, espacializado na Figura 7, permite supor que esta área apresenta uma subordinação litológica. No geral, esse parâmetro apresenta uma relação direta com a ordem hierárquica. A densidade de drenagem pode ser influenciada pelo embasamento litológico, podendo indicar o grau de permeabilidade do solo. A análise deste parâmetro morfométrico permite que as áreas anômalas sejam individualizadas entre baixa e alta densidade de drenagem, podendo refletir em um controle tectônico ou pedológico.

36Os valores encontrados variam de 1,55 a 8,89 km² e indicam que tal sistema hidrográfico tem bastante volume de escoamento fluvial, apresentando terreno de pouca, média e alta drenagem. Segundo Villela e Mattos (1975), os valores deste parâmetro morfométrico podem variar de 0,5 km2 em bacias com drenagem pobre a 3,5 km2, ou mais, em bacias bem drenadas.

Figura 7. Resultados para o parâmetro morfométrico densidade de drenagem.

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37O gradiente de canais (Figura 9) auxilia na compreensão do potencial de susceptibilidade erosiva da bacia. Os maiores valores foram identificados nas sub-bacias Sem Nome 1 (2), Sem Nome 2 (4) e Córrego Pinheiro (15). Como as quinze sub-bacias estão localizadas na porção sul da bacia hidrográfica do rio do Peixe, os resultados mais elevados estão associados a Serra Negra e Serra de Lima Duarte, onde há um lineamento de cristas se estende na porção sul da bacia configurando os patamares de cimeira dessas serras explicando tal resultado.

38O gradiente do canal é obtido através da razão entre a amplitude altimétrica dos canais pelo comprimento do canal principal da bacia. Para Nunes et al., (2006), esse parâmetro é um bom indicador da capacidade de transporte de sedimentos, pois quanto maior for o gradiente do canal principal maior será a capacidade de transporte de um rio, pois maior é a sua declividade.

Figura 8. Resultados para o parâmetro morfométrico fator forma.

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39Esse parâmetro é a relação entre a amplitude altimétrica da bacia hidrográfica e a densidade de drenagem. Esse índice ajuda a evidenciar a movimentação do relevo, ou seja, a variação de declividades e o comprimento das vertentes, além da dimensão das drenagens. A declividade influencia na infiltração e nos processos erosivos em função do escoamento superficial (Lobão et al., 2011).

40As sub-bacias dos Córregos Cerrado (224, 91), Pirapitinga (190,22) e Pinheiro (191,05), são as que apresentam os maiores valores, sendo necessário destacar, que são as que tem os maiores números em relação a altimetria de todas as sub-bacias analisadas, variando de 1.100 m a 1.180 m. Essas sub-bacias situam-se em importantes zonas de cisalhamento geomorfologicamente expressas pelas serras quartzíticas do Ibitipoca, de Lima Duarte, bem como a Serra Negra, indicando um alto potencial erosivo e de produção de sedimentos, promovendo maior disponibilidade de material para transporte (Chen; Yu, 2011). Por essa área estar inserida em zonas de cisalhamento há a possibilidade de influenciar na ocorrência de corridas de detritos, um índice de rugosidade com altas taxas aumentaria o potencial de uma bacia para geração de corrida de detritos (Dias; Vieira e Gramani, 2016).

41A relação de relevo encontrada com a aplicação do parâmetro taxa de relevo (Figura 11), mostra que os valores indicam que a bacia tem uma média relação de relevo entre os componentes horizontais (alongada) e verticais (baixa amplitude altimétrica). Bacias com altos valores denunciam que um desses elementos está sendo trabalhado pelo relevo de forma mais efetiva em relação ao outro. A sub-bacia que obteve o maior valor é a do Córrego do Cerrado com 0,72., mas ainda não foi possível verificar se realmente há mais inundações nessa bacia, dada a não disponibilidade de informações para comparação.

42Esse parâmetro é a razão entre a amplitude altimétrica da bacia hidrográfica e o comprimento total da bacia. É diretamente proporcional ao tempo de concentração de escoamento superficial. Assim, com o aumento da taxa de relevo, maior será o tempo de concentração do escoamento superficial e, portanto, elevam-se os picos das enchentes/inundações (Horton, 1945).

Figura 10. Resultados para o parâmetro morfométrico índice de rugosidade.

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43Com a emergência, cada vez mais intensificada, das questões ambientais nas discussões políticas e no planejamento territorial, o desenvolvimento de estudos que viabilizem o conhecimento da dinâmica ambiental é intrinsicamente importante para um entendimento da atuação dos processos e a configuração das formas e materiais na paisagem. Diante disso, a ciência geomorfológica tem se aproximado, cada vez mais, das questões ambientais, com enfoque em uma geomorfologia aplicada. Nessa conjuntura, o desenvolvimento de novas técnicas e ferramentas de cartografa digital, geoprocessamento e sensoriamento remoto, somadas às técnicas morfométricas e morfográficas do relevo ganham destaque, uma vez que auxiliam o entendimento dessa complexa dinâmica.

44O planejamento territorial deve ser pensado levando em conta uma análise integrada da paisagem, considerando sobre as potencialidades e as fragilidades dos sistemas ambientais (Ross, 2009). Ao obter informações acerca do sistema fluvial através de parâmetros morfométricos, estes auxiliam na interpretação de processos de inundação, erosivos, formas da bacia, topográficos e etc, sendo possível planejar melhor as ações para se implantar um manejo e gestão daquela área. Sendo assim, essa pesquisa é de grande valia para agregar informações sobre a dinâmica geomorfológica e fluvial, podendo ajudar futuros estudos sobre manejo e planejamento de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio do Peixe. Tanto as analises mais aprofundadas dos estudos univariados, quanto as sínteses presentes nas analises multivariadas, são de fundamental importância para os estudos ambientais, dado que são complementares ao mesmo tempo que representam campos de investigação distintos.

Considerações Finais

45A porção sul da bacia hidrográfica do rio do Peixe, para sub-bacias de terceira ordem, apresenta relevos condicionados por expressivos lineamentos estruturais e controle litológico diferencial. A ocorrência de formações quartzíticas em meio a granitoides promove significativa diferença de resistência ao trabalho fluvial, o que pode explicar a heterogeneidade dos parâmetros morfométricos.

46Analisando os resultados pôde-se concluir que as singularidades constatadas (expressivos lineamentos estruturais, controle litológico, variação litológica, rupturas de declive e zonas de cisalhamento) a norte e ao oeste da porção sul da bacia hidrográfica podem ter relação com a variação litológica, pois as sub-bacias perpassam o Complexo Mantiqueira, o Grupo Andrelândia e também o Complexo Juiz de Fora, atribuindo-se também às diferenças altimétricas encontradas na área de estudo.

47Os parâmetros analisados apresentam em sua individual e totalidade, importâncias para o entendimento da dinâmica morfológica e morfométrica em bacias hidrográficas. Cada parâmetro permitiu identificar fragilidades no ambiente para uma possível ocorrência de processos/eventos naturais, que independem da ação do homem para ocorrer, mas podem ser intensificadas ou agravadas pelos mesmos. A partir da relação de relevo, por exemplo, cujo objetivo é notar o tempo de concentração do escoamento superficial, é possível a identificação daquela bacia, sub-bacia ou micro-bacia, com maior aptidão para ocorrência de um evento de inundação, que pode vir a ser catastrófico em bacias hidrográficas urbanas, onde a concentração populacional é demasiada e por vezes localizadas em áreas de riscos.

48De acordo com os parâmetros morfométricos empregados nesse estudo, pode-se dizer que a maioria das sub-bacias são menos susceptíveis a eventos de enchentes e inundações, porém a bacia do Córrego Cerrado obteve um valor alto para tal fenômeno, o que indica a necessidade de haver uma atenção especial para possíveis riscos para com a população ali existente. Em relação ao potencial erosivo três sub-bacias (Sem nome 1, Sem nome 2 e a do Córrego do Pinheiro) tem maiores chances de sofrerem com o intenso processo erosivo, sendo importante que haja maiores estudos para se prevenir frente à futuros desastres. E por fim, devido aos fortes valores do índice de rugosidade em duas sub-bacias (Ribeirão Pirapitinga e Córrego Pinheiro), pode ser que aconteça a corrida de detritos.

49Estudos relacionados à análise morfométrica e morfológica em bacias hidrográficas, como unidade de planejamento, são de suma importância para subsídio técnico ambiental para o ordenamento territorial e planejamento público, seja na esfera pública ou privada. Outros estudos vêm sendo realizados nesta área de estudo, tendo o reconhecimento espaço-temporal de variáveis geomorfológicas e climáticas como objeto de estudo.

Agradecimentos

50Ao Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal de Juiz de Fora (BIC-UFJF) pelo fomento à pesquisa com bolsa de estudos.

Qual a importância e o objetivo dos estudos de análise morfométrica das bacias hidrográficas?

Estudos morfométricos de bacias hidrográficas são de suma importância, pois auxilia um melhor gerenciamento dos meios naturais, bem como o conhecimento e análise dos recursos hídricos. Análise morfométrica de uma bacia hidrográfica é uma opção que a partir de técnicas consegue-se detalhar o ambiente e as paisagens.

Qual a importância do estudo das bacias hidrográficas?

Essas áreas são elementos naturais de extrema importância para o meio natural, pois são responsáveis pela manutenção dos biomas brasileiros e mundiais, além de dar base para o desenvolvimento das atividades econômicas ligadas ao setor primário da economia, como a pecuária e a agricultura.

O que são características morfométricas?

A caracterização morfométrica de uma bacia hidrográfica é um procedimento executado nas análises hidrológicas e/ou ambientais, tendo como objetivo esclarecer questões sobre o entendimento das dinâmicas, locais e regionais, da infiltração, quantidade de deflúvio, evapotranspiração, e do escoamento superficial e ...