Qual é a origem da palavra sambaqui e onde se localizam alguns dos sambaquis mais importantes do Brasil?

Por Mariana Miranda ()

Se engana quem acredita que a história do Brasil começou com a chegada dos portugueses em Porto Seguro. Igualmente equivocados estão os que afirmam que, na verdade, tudo começou com os índios residentes do território brasileiro. Através de constantes descobertas, a arqueologia brasileira mostrou que há mais de 10 mil anos o Brasil já era povoado por grupos pré-históricos, alguns deixando suas marcas no solo em formato de sambaquis.

A palavra “sambaqui” tem origem tupi e significa “amontoados de conchas”. “Falantes desta língua ocuparam o litoral séculos depois dos sambaquieiros, e reconheceram os montículos”, conta Paulo DeBlasis, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.  Contudo, um sambaqui é formado por muito mais do que isso: conchas de moluscos, areia, sedimentos lamosos, ossos de animais, artefatos, restos de fogueiras e esqueletos humanos também fazem parte de sua composição.

Qual é a origem da palavra sambaqui e onde se localizam alguns dos sambaquis mais importantes do Brasil?

Sambaquis: estruturas feitas por homens pré-históricos através do acúmulo de conchas e outros sedimentos (Foto: Paulo DeBlasis / Museu de Arqueologia e Etnologia – USP)

Esses sítios arqueológicos são estudados desde a época de Dom Pedro, possuindo três características básicas: são estruturas antrópicas, ou seja, feitas pelo homem, muitas vezes funerários e localizam-se próximo a água, seja rios, lagos ou o mar. “Há sambaquis por quase todo o litoral brasileiro, principalmente nas baías, lagunas e estuários, áreas de grande produtividade e muito ricas em recursos alimentares. Apesar de haver concheiros espalhados pelas áreas litorâneas de quase todo o mundo, o termo ‘sambaqui’ é usado apenas para os concheiros brasileiros, e se refere às culturas locais”, explica o professor.

Os maiores sambaquis são quase sempre monumentos funerários. Durante séculos, as cerimônias eram realizadas em um mesmo local, gerando o acúmulo de sedimentos: “Para essas cerimônias, ao que parece bastante festivas, grandes quantidades de alimentos eram trazidas e os restos eram, depois, depositados sobre as áreas funerárias. Assim, aos poucos, o sambaqui vai ganhando volume e se agigantando”, conta DeBlasis. Cada camada da estrutura representa uma época específica de habitação, sendo as mais superficiais as mais recentes e as mais profundas as mais antigas. Apesar da grande semelhança entre os sambaquis em toda a costa brasileira, o professor diz que é pouco provável que tenham sido construídos pelo mesmo grupo social.

Analisando os esqueletos encontrados, foi possível concluir que os sambaquieiros tinham estatura baixa, os homens por volta de 1,62m e as mulheres de 1,53m. Além de coletores, eram também caçadores e pescadores, o que lhes  proporcionava corpos robustos devido ao intenso esforço muscular. Tinham poucas cáries, pois possuíam uma alimentação altamente protéica e com poucos carboidratos. Utilizavam as fogueiras para cozinhar seus alimentos e espantar animais selvagens, sendo possível encontrar vestígios delas nos próprios sambaquis.

Qual é a origem da palavra sambaqui e onde se localizam alguns dos sambaquis mais importantes do Brasil?

Sambaqui do litoral sul catarinense (Foto: Paulo DeBlasis / Museu de Arqueologia e Etnologia – USP)

Para realizar as pesquisas acerca  desses sítios, os arqueólogos utilizam diversas técnicas. As escavações são utilizadas para documentar  o contexto em que viviam os sambaquieiros, descobrindo sobre seus habitats e atividades cotidianas. “A forma mais conhecida são as famosas escavações arqueológicas que, por serem destrutivas, são feitas em áreas escolhidas e, em geral, não muito grandes. Existem hoje métodos não destrutivos, como o radar de solo (GPR), que estão se tornando cada vez mais populares”, conta o professor. O GPR usa sinais eletromagnéticos para encontrar objetos enterrados na terra sem que seja necessário escavar o local. Desse modo, o sambaqui permanece preservado e os arqueólogos conseguem realizar o estudo da área.

Apesar de sua grande importância histórica, muitos brasileiros não conhecem a existência dos sambaquis devido  à  falha divulgação científica no Brasil. Além disso, esses sítios sofrem com a falta de preservação, desde a chegada dos primeiros europeus, que os utilizavam para a produção de cal, até hoje, quando são muitas vezes destruídos. “Os sambaquis são importantes porque demonstram a ocupação humana do litoral  milênios atrás, representam um registro cultural e paleoambiental importantíssimo, e podem mesmo servir de referência para se pensar em estratégias de sustentabilidade para áreas costeiras”, conta DeBlasis.

Sambaqui é um sítio arqueológico muito comum no Brasil. É um depósito de restos de mariscos, ostras, caranguejos, ossos de peixes e de mamíferos marinhos acumulados por populações pré-históricas no litoral. São encontrados na costa do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul.

A palavra é de origem tupi, tambá ki, significando concha amontoada ou monte de conchas e que a população local conhece como concheira, casqueiro, berbigueira ou ostreira.

O formato dos sambaquis pode ser cônico ou semiesférico, sua altura varia de menos de um metro até 30 metros de altura, estendendo-se de 40 metros até 400 metros de comprimento.

Importância dos sambaquis

Os sambaquis são fontes de informações sobre antigos grupos de coletores e pescadores que viveram na costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos antes do presente. Eram povos anteriores aos tupi-guaranis que ocuparam a região mais tarde.

Muitos sambaquis foram destruídos desde o período colonial transformados em cal para a construção de engenhos de açúcar, do Palácio do Governador, do Colégio da Bahia e outros edifícios.

Em meados do século XX eles atraíram a atenção de Paul Rivet, famoso pesquisador francês e fundador do Museu do Homem, de Paris que, em 1952 ministrava um curso na Universidade de São Paulo.

O maior pesquisador dos sambaquis, contudo, foi o jesuíta João Alfredo Rohr (1908-1984), um arqueólogo autodidata que catalogou mais de 400 sítios arqueológicos em Santa Catarina. Foi o criador do Museu do Homem do Sambaqui (1963-1964) que hoje leva o nome de seu fundador e cuja coleção possui cerca de 8 mil objetos descobertos em sambaquis.

Os sítios mais importantes estão localizados no litoral sul de Santa Catarina. As cidades de Laguna e Jaguaruna abrigam 42 sambaquis dos mais diversos tamanhos, destacando-se entre eles o Garopaba do Sul, o maior depósito de conchas do mundo em extensão com 30 metros de altura e 200 de diâmetro, e mais de 3,7 mil anos.

Sepultamentos nos sambaquis

Cada comunidade construía os seus sambaquis para atender finalidades específicas, como demarcação de território, mirante, cemitério etc.

Os mortos eram enfeitados com colares de conchas e enterrados com objetos como pontas de osso, lâminas de machado de pedra. É comum encontrar entre os esqueletos, dentes e vértebras de tubarões, macacos, porcos-do-mato e outros animais.

As covas eram preparadas e, muitas vezes, forradas com argila, areia, corantes, palha e madeira.

Há covas individuais e coletivas, corpos estendidos e em posição fetal e, muitos cobertos com pigmento vermelho.

Objetos encontrados nos sambaquis

Foram encontrados nos sambaquis vários objetos utilizados pelos moradores como raspadores de conchas, batedores de osso e facas de pedra. Em meio ao material fossilizado há também, marcas de fogueira e potes de cerâmica de tamanho e formato variados.

Nos sambaquis do litoral de Santa Catarina, foram descobertas estatuetas de pedra polida: são os zoólitos, figuras de animais representadas de maneira estilizada representando em geral baleias, peixes e pássaros.

Os zoólitos são peças refinadas, de grande beleza. Alguns deles tem uma cavidade rasa no centro da peça que pode ter servido para colocar corantes ou alguma substância usada em rituais.

Veja o vídeo Pré-História do Brasil, parte 4

Fonte

  • CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
  • GASPAR, Madu. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
  • PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
  • TENÓRIO, Maria Cristina. Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.

Outros vídeos da série Pré-História do Brasil

  •  Parte 1 – Povoamento da América e do Brasil
  • Parte 2 – Parque Nacional da Serra da Capivara
  • Parte 3 – Pinturas rupestres do Seridó e Paraíba, Pedra do Ingá

Onde se localizam sambaquis mais importantes do Brasil?

Os maiores sambaquis brasileiros foram encontrados nas cidades de São Francisco do Sul, Jaguaruna, Laguna e Garuva, no estado de Santa Catarina, onde temos formações com 30 metros de altura e 400 metros de extensão.

O que são sambaquis e onde se localizam no Brasil?

Sambaqui é um sítio arqueológico muito comum no Brasil. É um depósito de restos de mariscos, ostras, caranguejos, ossos de peixes e de mamíferos marinhos acumulados por populações pré-históricas no litoral. São encontrados na costa do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul.

Qual é a origem do sambaqui?

Os sambaquis são empilhamentos de materiais orgânicos constituídos basicamente de conchas de moluscos e carapaças de crustáceos – foram formados ao longo de vários séculos por povos que habitaram, sobretudo, o litoral do Atlântico.

Qual a origem da palavra sambaqui e onde se localizam alguns dos sambaquis mais importantes do Brasil?

A palavra sambaqui tem raiz etimológica no tupi-guarani, significando depósito de conchas. Os povos que habitavam as regiões litorâneas e formaram os sambaquis com suas ações são conhecidos como povos do sambaqui.