Qual foi a integração da região Norte?

A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) publicou o livro A Região Norte e a Integração: a demanda dos atores subnacionais amazônicos por integração regional, do Conselheiro Marcelo Ramos Araújo.

Originalmente tese apresentada no Curso de Altos Estudos (CAE) do Instituto Rio Branco, a obra procura analisar as relações entre a crescente atuação internacional de atores subnacionais da Amazônia brasileira – tanto governos estaduais e municipais como agentes da sociedade civil – e o processo de integração da América do Sul.

O trabalho, segundo o autor, visa acrescentar uma contribuição ao estudo das relações entre a chancelaria brasileira e os atores subnacionais, e, em particular, estimular o debate sobre o lugar da região Note na política de integração sul-americana.

Praticamente a metade do território nacional, a Amazônia brasileira é apenas uma parte da área coberta pela grande floresta. Seus desafios para o século 21 fazem jus ao seu tamanho, complexidade e importância. A diversidade física e as necessidades distintas daquele imenso território são algumas das reflexões do 4º seminário do ciclo “Desafios para uma Amazônia Sustentável”, que irá debater o tema Hidrovia, Ferrovia e Rodovia: Logística Intermodal, Desenvolvimento e Conservação.

Marcado para o dia 21 de setembro, das 14h às 17h30, na Sala de Eventos do IEA, o debate é organizado pelo Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Territorialidades e Sociedade (IEA) e o Instituto de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IDS), com apoio do Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH-SP). Público e gratuito, o encontro terá transmissão ao vivo online e recebe inscrições até o dia 20 e setembro.

A necessidade de um planejamento intermodal para toda a Amazônia é uma discussão que contrapõe quem acredita na necessidade de um recorte geográfico mais específico para o desenvolvimento sustentável amazônico e sua integração ao território nacional. Para os organizadores do debate, algumas questões devem vir à tona, como a possibilidade de pensar se de fato os três principais modais, ou seja, hidrovias, ferrovias e rodovias, devem ou não representar opções para a Amazônia.

Ao mesmo tempo em que é necessário atender às demandas socioeconômicas regionais e promover o acesso a serviços básicos para populações que vivem em áreas remotas, torna-se complexo promover a integração das cadeias produtivas apontando apenas uma única solução ao desenvolvimento.

A questão do transporte no Brasil é de longa data vista como uma área onde falta planejamento estratégico integrado dos diferentes modais. Além disso, a experiência mal sucedida da rodovia transamazônica (BR-230), alvo de críticas e polêmicas, constitui um exemplo da inexperiência brasileira quanto à logística de transportes e gestão integrada de modais.

“Como integrar as potencialidades da região com suas necessidades específicas? Como aliar serviços de infraestrutura com políticas de preservação ambiental e de proteção dos direitos sociais?”. Essas e outras questões deverão permear o debate, que contará com a presença dos conferencistas Arnaldo Carneiro Filho, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do professor Sergio Margulis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

A moderação será da professora da Escola de Artes e Humanidades (EACH) da USP, Neli Aparecida de Mello-Théry, coordenadora do grupo de pesquisa organizador do encontro.

Breve histórico

Qual foi a integração da região Norte?

Diversidade física e integração do território: temas do dia 21 no ciclo sobre Amazônia

A partir da década de 1950, o governo iniciou uma política de integração da região Norte ao território nacional, inicialmente visando a impedir a invasão estrangeira e a perda de soberania do território. A construção de rodovias, o incentivo à instalação de indústrias, a criação da Zona Franca de Manaus e a criação de organismos de desenvolvimento regional são alguns exemplos dessa iniciativa.

A região recebeu muitos programas de colonização, de desenvolvimento agropecuário e projetos de exploração mineral, além da construção de usinas hidrelétricas, portos e estradas. Mas o processo de modernização levou à devastação de grandes áreas da floresta, além de conflitos por terras indígenas, posseiros e migrantes.

Estão na região Norte as maiores reservas minerais do planeta e os países compradores dessa matéria-prima são também grandes investidores dessa atividade produtiva. Entre as fartas e diversificadas reservas minerais da região destacam as de ferro, manganês, bauxita, cassiterita e ouro.

Diante de tal incentivo ao crescimento, a população da região Norte vem registrando crescimentos maiores que o total nacional, desde a década de 1970. Mas devido ao tamanho do território, sua densidade demográfica ainda permanece baixa.

Segundo o Censo de 2000, cerca de 70% da população da região vive no meio urbano. As duas capitais mais populosas são Belém (PA) e Manaus (AM). Os indicadores urbanos regionais contabilizam ainda as mais elevadas taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil, além de baixa taxa de saneamento e falta de água tratada, o que contrasta com a vasta capacidade hídrica da região.

A expansão urbana, a extração de madeira ilegal e a implantação de áreas de agropecuária são apontadas como as principais causas da devastação da floresta.

As populações tradicionais da região são formados por seringueiros e ribeirinhos vivendo em áreas rurais e periferias urbanas. Os castanheiros praticamente desapareceram com a drástica diminuição das castanheiras. Esses habitantes vivem do extrativismo e da agricultura de subsistência. A região Norte abriga 60% da população indígena brasileira, sendo que na região se localizam a maior parte das terras indígenas do país. Com isso, ainda é grande o número de indígenas que nunca tiveram contato com pessoas não indígenas.

O conflito de terras na região compõe um cenário conhecido mundialmente, em que grileiros, fazendeiros e garimpeiros invadem tanto terras públicas quanto territórios indígenas, mesmo que a posse dessas terras esteja assegurada em lei.

A partir de 1989, foram criadas reservas extrativistas na região Norte graças à luta de comunidades tradicionais do Acre, lideradas pelo seringueiro e ambientalista Chico Mendes. Assim, parte das terras pertencentes à União passaram a ser utilizadas por castanheiros e seringueiros para o seu sustento e o de suas famílias, o que vem demonstrando a possibilidade de modelos sustentáveis baseados nessas atividades econômicas.

Como se deu a integração da região Norte?

Criado em 1970, plano previa criação de estradas e povoamento na região. Os conflitos de terra no norte do Brasil, abordados no especial do Estado Terra Bruta, são resultado do plano de povoar e integrar a região por terra com a construção de duas grandes estradas, a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém.

Qual Estado passou a integrar a região Norte por último?

Em 1988, com a Constituição Federal, houve alterações na divisão territorial do país com a criação do estado do Tocantins, que passou a integrar a região Norte.

Quais ações foram feitas para tentar integrar a região Norte ao restante do país?

Foram criadas instituições (bancos, superintendências) para gerenciar a ocupação da região, principalmente para exploração de madeira e minérios. Ocorreu o avanço das fronteiras agrícolas e a doação de glebas de terra para colonos, além de incentivos financeiros.

Quais são os principais projetos de integração da Amazônia?

As políticas de integração da Amazônia se materializaram através de grandes obras estruturantes, como a construção de rodovias – Belém-Brasília e Transamazônica –, hidrelétricas, como Tucurui e Balbina, além de polos agropecuários e projetos de reassentamento agrário.