O barroco no Brasil ocorreu entre 1601 e 1768, e sofreu influência das medidas da Contrarreforma Católica, ocorrida na Europa. Suas principais características são o fusionismo, o culto ao contraste, o cultismo e o conceptismo. Assim, as principais obras literárias desse estilo no Brasil são Prosopopeia, de Bento Teixeira; Os sermões, de Padre António Vieira; além da poesia de Gregório de Matos. Já na arte, é possível apontar as obras do famoso escultor Aleijadinho, do pintor Mestre Ataíde e do maestro Lobo de Mesquita. Show Na Europa, o barroco surgiu no final do século XVI e perdurou até o século XVIII. Apesar de esse estilo ser de origem italiana, os principais autores europeus são os escritores espanhóis Luis de Góngora e Francisco de Quevedo, de onde provêm os termos “gongorismo” (cultismo) e “quevedismo” (conceptismo). No mais, é preciso destacar também os autores portugueses Francisco Rodrigues Lobo, Jerónimo Baía, António José da Silva, Soror Mariana Alcoforado, entre outros. Leia também: Classicismo – movimento cultural europeu anterior ao barroco Tópicos deste artigoContexto histórico do barroco no BrasilNo Brasil Colônia, no século XVII, a estética barroca passou a influenciar artistas no território brasileiro. Nesse período, Salvador e Recife eram os principais centros urbanos, pois a economia do país era baseada na exploração de cana-de-açúcar, concentrada no Nordeste. Salvador era a capital do Brasil, centro do poder, e lá moraram os dois principais escritores do barroco brasileiro. A escravidão dos nativos indígenas e dos negros africanos, iniciada no século anterior, estava em curso no país. O trabalho na produção de cana-de-açúcar era, portanto, exercido por escravos. Não havia ainda uma ideia de Brasil como nação, a identidade do país estava em construção. A principal influência cultural era portuguesa. Dessa maneira, a religiosidade cristã ditava o comportamento das pessoas da época, comandadas pela Igreja Católica. Na Europa, no século anterior, a Reforma Protestante provocou a reação da Igreja Católica naquilo que ficou conhecido como Contrarreforma, criando medidas de combate ao protestantismo, entre elas a criação da Companhia de Jesus. Os jesuítas, responsáveis pela catequização dos índios, chegaram ao Brasil no século XVI e permaneceram no país, onde exerceram grande influência política, até o século XVIII, quando foram expulsos. O autor barroco Padre António Vieira (1608-1697) foi um dos mais importantes. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Características do barrocoO barroco, no Brasil, durou oficialmente de 1601 a 1768 e apresentou as seguintes características:
Leia também: Arcadismo no Brasil – escola literária que tinha no bucolismo sua principal característica Obras do barroco no Brasil
O livro Os sermões (1679), de Pe. António Vieira, é a principal obra da prosa barroca brasileira e portuguesa, já que esse autor faz parte da literatura de ambas as nações. São textos de cunho conceptista, isto é, com uma argumentação engenhosa na defesa de uma ideia. Para a defesa de seu ponto de vista, Vieira usava comparações, antíteses e paradoxos. Bem ao estilo barroco, contrastante e contraditório, o padre aliava fé à razão, já que o conteúdo de seus textos era religioso, mas também argumentativo, ou seja, sua fé cristã era defendida por meio da razão. Assim, o famoso “Sermão de Santo António” — “Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino” —, entre outras coisas, faz uma crítica aos maus pregadores a partir de metáforas (comparações implícitas), como “o sal da terra”, em que o “sal” é o pregador e a “terra” é o ouvinte da pregação:
Já em “Sermão de Santo António” — “Pregado em Roma, na Igreja dos Portugueses, e na ocasião em que o Marquês das Minas, Embaixador extraordinário do Príncipe nosso Senhor, fez a Embaixada de Obediência à Santidade de Clemente X” —, é possível perceber, como marca do barroco, o paradoxo, quando Vieira diz que Santo António é “um português italiano” e “um italiano português”. Então, ele explica a contradição: “De Lisboa [Portugal], porque lhe deu o nascimento; de Pádua [Itália], porque lhe deu a sepultura”, onde se pode também perceber a antítese na oposição entre “nascimento” e “sepultura”. Na sequência, o padre usa a metáfora “luz do mundo” para indicar que o santo levou a fé cristã para o mundo, pois, como bom português, não se manteve na terra onde nasceu, já que os portugueses são famosos pelas conquistas durante as Grandes Navegações. Assim, o padre homenageia tanto a Igreja quanto a nação portuguesa. Também é possível perceber o paradoxo quando Vieira diz que o santo saiu de Portugal para ser grande e, depois, afirma que ele era grande e, por isso, saiu:
Apesar de não ser considerado de grande valor pela crítica, o livro que inaugurou o barroco brasileiro é o poema épico Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira (1561-1618). Já o maior representante da poesia barroca no Brasil é Gregório de Matos (1636-1696), que não publicou livros em vida|1|, apesar de o autor ser bem conhecido e comentado em sua época — principalmente por causa de sua poesia satírica —, devido aos manuscritos compartilhados entre seus leitores de então. Além dessa poesia crítica, o poeta escreveu também poesias sacras (de teor religioso) e poesias lírico-filosóficas (de temáticas variadas, inclusive amorosas).
Como exemplo de sua poesia lírico-filosófica, vamos ler um soneto clássico, metrificado e com o uso da medida nova (dez sílabas poéticas), em que o eu lírico faz a comparação de uma mulher de nome Angélica com um anjo e uma flor, bem ao estilo cultista, com o jogo de palavras em torno do nome Angélica, que vem de anjo e também é o nome de uma flor: Anjo no nome, Angélica na cara! Quem vira uma tal flor, que a não cortara, Se pois como Anjo sois dos meus altares, Mas vejo, que por bela, e por galharda, Já como exemplar de sua poesia sacra, vamos ler o soneto A Jesus Cristo nosso senhor, que traz a temática do pecado e da culpa. Nesse texto, o eu lírico demonstra que, por mais que ele peque, será perdoado por Deus, pois o perdão é o que torna essa divindade um ente grandioso. Além disso, apresenta antíteses e paradoxos, como no primeiro verso, em que o eu lírico diz que pecou, mas não pecou. Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Se basta a vos irar tanto pecado, Se uma ovelha perdida e já cobrada, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Por fim, como exemplo de sua poesia satírica, vamos ler o soneto As coisas do mundo. Nele o eu lírico critica a corrupção humana, exemplificada na desonestidade do enriquecimento, na hipocrisia e nas falsas aparências. O soneto é marcado pelo cultismo (jogo de palavras), como se pode observar na última estrofe, com o trocadilho que envolve as palavras “tropa”, “trapo” e “tripa”: Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Mostra o patife da nobreza o mapa: A flor baixa se inculca por tulipa; Para a tropa do trapo vazo a tripa Autores do barroco no Brasil
Há poucas informações sobre a vida do autor. Até o momento, é sabido que nasceu em Porto (Portugal), em 1561, aproximadamente. Era filho de judeus convertidos ao catolicismo, um cristão-novo, portanto. Veio para o Brasil com seus pais, em 1567, e estudou em colégio jesuíta. Mais tarde, tornou-se professor em Pernambuco, mas foi acusado, pela sua esposa, de realizar práticas judaicas. Por isso (ou por ela cometer adultério), Bento Teixeira assassinou a mulher e refugiou-se no Mosteiro de São Bento, em Olinda, onde escreveu seu único livro. Depois foi preso, enviado a Lisboa, provavelmente em 1595, e condenado à prisão perpétua em 1599. No mesmo ano de sua condenação, recebeu liberdade condicional; mas, sem posses e doente, voltou à prisão para morrer em julho de 1600.
Filho de uma família rica de origem portuguesa, o poeta nasceu em Salvador, em 20 de dezembro de 1636. No Brasil, estudou em colégio de jesuítas e, mais tarde, estudou na Universidade de Coimbra, em Portugal. Formado em Direito, trabalhou como curador de órfãos e juiz criminal, mas voltou à Bahia para assumir os cargos de vigário-geral e de tesoureiro-mor da Sé. Foi destituído dos cargos por insubmissão e criou muitas inimizades devido às críticas que fazia em seus poemas, o que lhe garantiu o apelido de Boca do Inferno. Em 1694, foi deportado para Angola. Mais tarde, obteve permissão para voltar ao Brasil, mas não à Bahia, e morreu em Recife, em 26 de novembro de 1696 (ou 1695).
Nasceu em Lisboa (Portugal), em 6 de fevereiro de 1608. Filho de família sem posses, veio para o Brasil em 1615. Em Salvador, estudou em colégio de jesuítas e entrou para a Companhia de Jesus em 1623. Exerceu carreira diplomática em Lisboa, em 1641, e ficou amigo de Dom João IV. Mas também conseguiu inimigos em Portugal por defender os judeus. Então voltou ao Brasil. Porém, perseguido por condenar a escravidão dos índios, retornou a Portugal em 1661, onde foi condenado pela Inquisição por heresia, mas perdoado em 1669. A partir de então, viveu por um tempo em Roma, depois novamente em Portugal e, por fim, voltou ao Brasil em 1681, onde morreu, em Salvador, no dia 18 de julho de 1697. Veja também: Parnasianismo – movimento literário poético da segunda metade do séc. XIX Barroco na arteA arte barroca no Brasil teve seu auge no século XVIII. Inspirados no barroco europeu, os artistas brasileiros imprimiram em suas obras elementos típicos de nossa cultura em formação (como a Nossa Senhora da Porciúncula, de Ataíde, com traços mulatos), caracterizando o rococó — mais sutil que o barroco, com cores mais suaves, traços simétricos e menos excessos —, uma transição para o estilo neoclássico. Originalmente, a arte barroca é caracterizada pelo exagero na ornamentação e nas cores, presença de traços retorcidos e predominância de temática religiosa. No Brasil, a arquitetura privilegiou a simetria, como ocorreu nas esculturas de Aleijadinho, o mais famoso artista barroco brasileiro. Em suas obras, a dualidade mostrou-se ao aliar a simetria (razão) com a temática religiosa (fé). O barroco-rococó esteve fortemente presente em cidades como Mariana, Ouro Preto, Tiradentes (Minas Gerais) e Salvador (Bahia), na arquitetura de suas igrejas, que, aliás, abrigam em seu interior a pintura de artistas do período. Os principais artistas do barroco-rococó no Brasil são:
Barroco na EuropaApesar de o barroco ser de origem italiana, os principais autores europeus desse estilo são os espanhóis Luis de Góngora (1561-1627) e Francisco de Quevedo (1580-1645). Quanto ao barroco português (1580-1756), é possível apontar os seguintes autores:
Resumo sobre o barroco- Contexto histórico:
Exercícios resolvidosLeia a poesia a seguir para responder às questões 1 e 2. TEXTO “A inconstância dos bens do mundo”, de Gregório de Matos: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Começa o mundo enfim pela ignorância, MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. São Paulo: FTD, 1998. p. 60. Questão 1 – (UFJF - adaptado) No poema lido de Gregório de Matos, podemos certificar a seguinte característica barroca: A) o cultismo, pelos recursos da linguagem rebuscada. B) a religiosidade medieval e o paganismo. C) o recurso da prosopopeia na personificação do Sol e da Luz. D) o conflito entre a idealização da alegria e a realização da tristeza. E) a consciência da fugacidade do tempo. Resolução Alternativa E. No soneto, é recorrente a “consciência da fugacidade do tempo”, pois o eu lírico demonstra sua angústia diante da passagem do tempo e da finitude das coisas. Questão 2 – (UFJF) Ainda no poema de Gregório de Matos, a 2a estrofe expressa, por meio de perguntas retóricas, o sentimento do eu lírico. Qual opção expressa melhor esse sentimento? A) Comoção B) Ressentimento C) Inconformismo D) Vulnerabilidade E) Alegria Resolução Alternativa C. Na segunda estrofe, é possível perceber o inconformismo do eu lírico devido aos seus questionamentos: “Porém, se acaba o Sol, por que nascia? / Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?”. Ao fazer tais perguntas, ele demonstra que não se conforma com a finitude ou inconstância das coisas. Questão 3 – (Unimontes) “Vede como diz o estilo de pregar do céu, com o estilo que Cristo ensinou na terra. Um e outro é semear; a terra semeada de trigo, o céu semeado de estrelas. O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja.” (Sermão da Sexagésima, p. 127.) Com o fragmento em destaque, Pe. António Vieira considera que A) o pregador deve utilizar-se de elementos naturais na composição da arte de pregar. B) o pregador deve desprezar as ações humanas para ser bem-sucedido na sua pregação. C) o pregador deve recorrer a vocabulário culto e exemplos sublimes para compor seus sermões. D) o pregador deve optar pela clareza das palavras, abandonando os jogos verbais e as inversões. Resolução Alternativa D. Ao dizer que “O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja”, Vieira opta pela simplicidade, pela naturalidade, isto é, pela clareza das palavras. Nota |1|A Academia Brasileira de Letras publicou a primeira edição de poemas de Gregório de Matos (ou atribuídos a ele), em seis volumes, entre 1923 e 1933. |