Traços culturais herdados de portugueses holandeses ou franceses no lugar onde você mora

Traços culturais herdados de portugueses holandeses ou franceses no lugar onde você mora
Ilustração mostra a Cidade Maurícia, o Recife do período holandês. (Foto: Acervo Instituto Ricardo Brennand)

De todos os prédios que compõem o centro histórico do Recife atual, nenhum deles foi originalmente construído no período de domínio holandês no Nordeste brasileiro. O que se tem de herança são os traçados das ruas, a inspiração arquitetônica de prédios compridos e estreitos, além da disposição das edificações, a mesma desde o período do governo do conde Maurício de Nassau. É como se a Mauristadt (nome dado à capital pernambucana na época) estivesse debaixo da cidade contemporânea. Mesmo sendo uma colonização de apenas 24 anos (1630-1654), identificada através dos tais resquícios arqueológicos, o período holandês deixou marcas que até hoje perduram no imaginário dos pernambucanos. A crença popular vai desde os guias que espalham aos turistas informações equivocadas sobre o período até a ideia de que, se os holandeses não tivessem sido expulsos, a realidade hoje seria melhor. Especialistas no assunto ouvidos pelo G1, entretanto, afirmam: essa idealização do período não passa de uma ilusão.

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Traços culturais herdados de portugueses holandeses ou franceses no lugar onde você mora
Professora Virgínia Almôedo fala que holandeses
queriam o lucro com a colônia. (Foto: Vitor Tavares / G1)

Foi em um mês de maio, há 370 anos, que a Insurreição Pernambucana, fato histórico que expulsou os holandeses do Brasil, começou ganhar força. Maurício de Nassau tinha sido convocado de volta aos Países Baixos pela Companhia das Índias Ocidentais – empresa que administrava as colônias e o comércio exterior – por não estar dando o lucro suficiente.

Nassau, um nobre alemão humanista e ligado às artes, mantinha um clima de paz e o desenvolvimento em Pernambuco, através de uma política que incluía liberdade religiosa, empréstimos aos senhores de engenho e transformação urbana da cidade do Recife. “Qualquer colonização quer o lucro. A partir do momento que não há resultados, a Companhia passou a cobrar impostos e os empréstimos, mudando o clima cordial. Não existia bondade e nem trazia qualidade de vida ao povo nativo, porque o que a Holanda queria na época era controlar todas as etapas da produção e do comércio do açúcar”, esclarece a professora de história Virgínia Amôedo, da Universidade Federal de Pernambuco, especialista no período do Brasil Colônia.

Com os holandeses presentes no território que ia desde o Ceará até Sergipe, a escravidão foi mantida em larga escala e há registros de mortes de indígenas que viviam na região. Além disso, esses europeus (em grande parte, protestantes) permitiam a liberdade religiosa, mas de forma silenciosa e escondida, de acordo com pesquisadores. Era uma maneira de manter sob controle tanto o importante grupo dos judeus que veio ocupar o Nordeste brasileiro – e que construiu no Recife a primeira sinagoga das Américas – quanto os católicos portugueses.

“Basta a gente se perguntar e ver como se deu a colonização holandesa que durou mais tempo em países como Suriname e África do Sul”, pontua o arquiteto José Luiz da Mota Menezes, presidente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Outras regiões que foram dominadas por holandeses são os atuais territórios de Gana e parte da Indonésia.

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Imagem mostra o conde Maurício de Nassau, que
assumiu o governo holandês em Pernambuco.
(Foto: Acervo Fundação Joaquim Nabuco)

O que também não se pode negar é que, sob domínio holandês, o Recife deixou o status de pequena vila para tomar feições de uma cidade urbanizada. Ganhou a primeira ponte do Brasil, ruas calçadas, saneamento, palácios, jardins com plantas importadas e monumentos até então inéditos na região. Além disso, eram comuns festas para senhores de engenho e eventos para a população, dinamizando a vida cultural. Maurício de Nassau, por sua afeição à ciência e à cultura e por iniciativa pessoal, também instalou o primeiro observatório astronômico das Américas, além de trazer cientistas para estudar a fauna, a flora e a população locais, e pintores do "primeiro escalão" da Europa, como Frans Post, Albert Eckhout e Georg Marcgraf.

Nome de universidade, ruas e prédios no Recife, Nassau é o grande responsável pela afetividade que permaneceu relativa a esse período. “O que muita gente acaba confundindo é o fato de Nassau ter essa característica humanística, de se importar com a cidade, com o belo. ‘E se ele tivesse ficado?’ Aí é difícil de imaginar, porque ele tinha uma companhia que financiava seus projetos. Sem o apoio dessa companhia, não teria como ele governar”, opina a professora Virgínia Almôedo. “Quanto mais ficasse aqui, mais guerra ia ter, o que demanda muito dinheiro. Os holandeses passaram muita fome aqui. Economicamente, podemos dizer que o período no Brasil foi um fracasso para eles”, completa José Luiz da Mota Menezes.

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Mapa mostra o Recife no período de dominação holandesa. (Foto: Acervo Fundação Joaquim Nabuco)

Imaginário
“Se você for a Olinda, aqueles guias-mirins vão falar que as casas ali são holandesas, até dizendo onde Maurício de Nassau morou. Até no interior, qualquer ruína que tem, a população costuma dizer que é do tempo dos holandeses”. O relato da professora Virgínia Almôedo sobre discursos equivocados da tradição oral em Pernambuco mostra como esse período prevaleceu na memória, quase quatro séculos depois. Na verdade, em Olinda, os traços arquitetônicos são portugueses, modificados com o passar dos anos; e, no interior, não há registro de grandes construções do período do governo de Amsterdã.

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Vestigios arqueológicos, como cachimbos,
comprovam passagem dos holandeses
no Brasil. (Foto: Acervo Instituto Ricardo Brennand)

De acordo com a professora, muito dessa relação afetiva pode ser explicada através do modelo como as crianças estudam história nas escolas. “Se você abre um livro de história sobre Pernambuco, você vai achar algo do período de açúcar, além das revoluções de 1817 e a Confederação do Equador. O domínio holandês também está presente, principalmente na figura de Nassau, falando que construiu jardins, palácios, urbanizou Recife e deu liberdade de culto. Como não ficar afeiçoado a essa figura?”, questiona.

Outo marco para a preservação da memória do período holandês em Pernambuco é a visita do então imperador Dom Pedro II ao Recife, em 1870. Na época, o governante questionou os pernambucanos sobre onde estava a preservação do importante período de domínio neerlandês. Foi a partir daí, segundo os professores, que estudiosos, arqueólogos e historiadores começaram uma espécie de cruzada para identificar os traços dessa ocupação. Busca presente até hoje. “As pessoas tendem a se identificar com uma característica que seja diferente, única. No caso daqui, essa ocupação dá o diferencial em relação a todo o País”, aponta o professor José Luiz da Mota Menezes.

Cooperação cultural
Se é dada muita importância ao período holandês no Brasil, a Holanda também faz esforço para manter viva essa história compartilhada entre os dois países. Em entrevista ao G1, o embaixador do Reino dos Países Baixos no Brasil, Han Peters, disse que, apesar de curto, o período foi importante para criar laços em termos culturais. “Para mim, esse período foi o início de uma longa relação que, claramente, mudou ao longo do tempo. Hoje em dia, essa relação é intensa no âmbito do patrimônio cultural comum, pois os esforços da embaixada se focalizam nesse estado [de Pernambuco]”.

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Pintores como Eckhout vieram a Pernambuco
para pintar os nativos.
(Foto: Acervo Instituto Ricardo Brennand)

Em termos de economia, a Holanda é o maior importador de frutas de Pernambuco, além de investir em indústrias criativas e contribuir para a solução de problemas ligados à gestão do litoral, já que o país está localizado, em grande parte, abaixo do nível do mar. “Sou historiador de formação, mas gosto mais de pensar em como esse passado pode ajudar a construir um bom futuro. É mais importante usar esse passado a favor dos pernambucanos, pois ele é muito rico e traz muita diversidade com ele”, opina.

A embaixada do Reino dos Países Baixos em Brasília afirmou ainda que dispõe de verbas para organizar, cada ano, um edital para convidar organizações brasileiras a apresentar propostas no âmbito do patrimônio cultural comum entre os dos países. Em 2015, serão realizadas palestras em varias universidades do estado de Pernambuco sobre o período do Brasil Holandês, além de treinamento para guias que quiserem se aprofundar sobre o período. Um guia turístico sobre a herança holandesa no Recife e um DVD sobre a produção musical dos dois países também devem ser lançados.

Traços culturais herdados de portugueses holandeses ou franceses no lugar onde você mora
Frans Post pintou a paisagem nordestina no século XVII. (Foto: Acervo Instituto Ricardo Brennand)

Quais são os traços culturais herdados de portugueses holandeses ou franceses?

As duas festas mais importantes do Brasil, o carnaval e as festas juninas, foram introduzidas pelos portugueses. Além destas, vários folguedos regionalistas como as cavalhadas, o bumba-meu-boi, o fandango e a farra do boi denotam grande influência portuguesa.

O que herdamos da cultura holandesa?

Assim como o alto consumo de laticínios, os holandeses ficaram conhecidos também por serem os maiores consumidores de vegetais da Europa. Com uma alimentação avaliada como das mais saudáveis e nutritivas do mundo, sua culinária foi influenciada pela simplicidade e pelos sabores da fazenda.

Quais os costumes herdados dos holandeses?

Então venha conhecer 20 costumes culturais dos holandeses:.
Pontualidade. ... .
Ser direto. ... .
Tirar o sapato para entrar em casa. ... .
Anunciar o seu nome completo ao telefone. ... .
Comer o bolo de aniversário no ínicio da festa. ... .
Religião na Holanda. ... .
Sair com amigos para sauna (pelados) ... .
Comer pão no café da manhã e no almoço..

O que o povo brasileiro herdou dos portugueses?

Além da língua e da religião, vários folguedos populares como o bumba-meu-boi, o fandango e a farra do boi denotam grande influência portuguesa. No folclore brasileiro, são de origem portuguesa os seres fantásticos como a cuca, o bicho papão e o lobisomem, e muitas das lendas e jogos infantis como as cantigas de roda.