Para o meu irmão, Pedro. Show 1. 2. O poema saiu em uma magra coleção de mesmo título ao fim do livro Poesias, publicado em 1942, pela famosa José Olympio. Tempos depois, os 12 poemas ali reunidos ganharam protagonismo em uma edição própria com prefácio de Paulo Rónai. Por curiosidade: a capa foi desenhada por Drummond. A letra J, em traço fino e econômico, pousa seca e comprida ocupando a página do topo ao pé. Capa do livro José & Outros (1967). Acervo IMS/ Carlos Drummond de Andrade3. Quatro anos mais velho que Drummond, José compunha com ele a vasta prole de 13 irmãos, filhos do coronel Carlos de Paula e de Julieta, todos nascidos e criados em Itabira do Mato Dentro, em Minas Gerais. A roda dos anos gira e toda a extensa família dos Andrade vai desaparecendo, restando só Drummond e José. Este em Belo Horizonte e aquele no Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1934 e de onde sairia somente em dois episódios antagônicos entre si: o enterro da mãe e o nascimento do primeiro neto. A relação dos dois irmãos está em 37 cartas trocadas em um intervalo de 37 anos de distância. A conta não é difícil; em uma distribuição fria, é o equivalente a uma missiva por ano, não mais. Álbum de Família: Drummond à esquerda. José e Altivo atrás, ao lado da mãe Julieta Augusta. Rosa e Marinha ao lado do pai, Carlos de Paula Andrade. Foto de Brás Martins da Costa/Acervo O Globo4. Drummond, escorpiano de 31 de outubro, recebe, em 1925, a felicitação do irmão mais velho só alguns dias depois, em 4 de novembro, com justificativa cheia de humor:
Falando sobre seu próprio aniversário de 31 anos, José agradece “as palavras delicadas” enviadas por Drummond, mas pede que, na próxima vez, Carta de José para Carlos Drummond de Andrade de 14 de agosto de 1929. Acervo IMS/Carlos Drummond de Andrade Definitivamente, José, macambúzio, não era afeito à alegria das festas. Nas calendas de janeiro, quando costumamos ensaiar projetos, metas e expectativas pela chegada do ano ainda desconhecido, o irmão engrossa o coro dos descontentes, naquele 1962:
Se não o caracteriza certa joie de vivre, podemos tranquilamente fazer o exercício de imaginar José como alguém recolhido nos livros, sorumbático. Em boa parte da correspondência menciona o que estava lendo naquele momento. Na lista, estão Moby Dick e livros de autoria do irmão, a quem não só agradecia pelo envio como compartilhava uma palavra ou outra a respeito. Não que poesia fosse seu gênero preferido. Em carta de 24 de abril de 1950, o irmão de um dos maiores poetas em língua portuguesa admite não gostar de poesia – registro aqui meu espanto inocente. A explicação não é lá repreensível: é que poesia “se afasta da dureza e da realidade da vida”. No entanto, naquela manhã, José abre uma exceção para o “soneto ‘Encontro’, rimado em decassílabos perfeito, clássico”, lido no Correio da Manhã e que seria incluído em Claro enigma, lançado no ano seguinte. A exceção não é pela forma, mas pelo conteúdo:
Nesse breve comentário de José identificamos dois pontos principais da obra drummondiana: o trabalho formalístico e o tema familiar, que se arrastaria em vários e vários outros poemas do autor mineiro. A relação tanto de Carlos quanto de José com o grupo parental não parece exatamente harmoniosa; antes, deixa no ar certo nó. Ao informar sobre o estado de saúde da mãe, que convalescia em setembro de 1940, José emenda uma espécie de defesa de si (a acusação, se houve, jamais saberemos exatamente qual foi). Escreve:
Ele, que nunca se casaria, anuncia em 1º de maio de 1941: “resolvi tornar-me mais solitário do que nunca”. Alguns anos antes, compartilha com o irmão o verbo que o mantém vivo:
Não, nunca, indiferença – palavras de um espectro quase melancólico se repetem reiteradas vezes nas cartas desse homem cujo estado de saúde começa a declinar na década de 1950. E para os problemas de circulação que o impediam de caminhar, diz ele, “adotei o remédio – não tomar nada. O tempo da cura ou da moléstia é o mesmo”. Tanto José quanto Drummond pareciam formar com o outro irmão, Altivo, a trinca mais próxima entre os 13 rebentos. Nas cartas trocadas entre si, um sempre menciona o outro, participando, à distância, alegrias – como casamentos e nascimentos – e burocracias – procurações e herança. Altivo, mais velho que ambos e, ao contrário deles, visto como “alguém tem tanto apreço pela vida”, acaba “assim lentamente na cama” (“a gente é feito para acabar”, posso ouvir José Miguel Wisnik cantar). Na carta de 10 de junho de 1961, José entrega a triste notícia:
No final desse mesmo ano, o irmão, agora ainda mais solitário, faz uma espécie de balanço dessa falta inerente à vida mesma: Carta de José para Carlos Drummond de Andrade de 4 de dezembro de 1961. Acervo IMS/Carlos Drummond de Andrade A última carta entre José e Carlos é de 29 de novembro de 1962 – depois disso, silêncio no arquivo. Mas terá sido silêncio entre os irmãos? 5. Em Boitempo II (Menino antigo), Drummond publica o poema “Irmão, irmãos”, no qual, à semelhança do que faz no título, balança entre o plural e o singular, entre companhias e solidões: irmão como aquele que está “sozinho acoplado a outros sozinhos”. Em família, a linguagem sobe e desce escadas “do mais velho ao mísero caçula”; e todos compartilham não só a mesma casa e os mesmos pais como “os mesmos copos, o mesmo vinhático das camas iguais”. Apesar da aparente proximidade, irmãos são estranhos e se estranham (“Que léguas de um a outro irmão”), cavando distâncias que se dilatam naquilo que fazem, naquilo que pensam. Na última estrofe, é Drummond quem nos pergunta: ser irmão é ser o quê? “Uma presença a decifrar mais tarde,/ com saudade?/ Com saudade de quê? De uma pueril / vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?”. Ao taciturno irmão, Drummond dedicaria ainda outro poema, dessa vez mais solar: “Nova casa de José”, publicado nesse mesmo livro. O personagem, com certa rabugice, chega ao Paraíso e se põe a reclamar: “Pensei que fosse maior/ O azul das paredes está desbotado./ Então é isto, o Céu?”. Junto aos velhos santos, que insistem para que José brinque de roda ou amarelinha, ele responde “Obrigado (entredentes)”. A negativa do recém-chegado preocupa são Pedro, que admite que “José foi bom, / foi ríspido mas bom” e que “carece varrer do íntimo de José as turvas imagens/ de desconfiança e solidão”. A solução encontrada pelo santo é contar a ele uma piada fescenina. A essa sugestão, José já não é mais o que foge a galope, nem aquele que usa terno de vidro e busca o mar para morrer, como no poema de 1942 que leva seu nome. Agora, em sua nova casa, “José sorri ouvindo a piada”. 6. O que a repetição dos versos e agora José e a escolha da pontuação revela?A repetição dos versos no poema de Carlos Drummond de Andrade indicam: A) uma incerteza. O texto não traz uma possibilidade, ele traz afirmações seguidas de um questionamento, indicando uma incerteza, uma duvida, perguntado ao leitor o que será feito agora, o que acontecerá depois do que aconteceu.
O que quer dizer o poema E agora José?Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.
Qual é a situação de José comprove sua resposta com elementos do texto?- "a noite esfriou" - essa é uma representação da falta de aconchego, de pessoas. - "Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta?" - José não tem sobrenome, representando o homem comum ou um anônimo. Ele também não se conforma com as ideologias dominantes, por isso "protesta".
Quem é José Justifique sua resposta?Resposta verificada por especialistas
José é uma pessoa comum, talvez seja poeta, igual Carlos Drummond de Andrade. O personagem se encontra em um beco sem saída, que já não tem mais expectativas em sua vida. José é talvez um poeta, isso fica notório quando lermos a obra e diz 'você que faz versos'.
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