Diante da aceleração das reformas neoliberais que se seguiu à crise financeira de 2008 e aos “movimentos das praças”, o presente artigo procura compreender a relação do neoliberalismo com as crises econômicas e políticas na democracia liberal. A governamentalidade neoliberal instrumentaliza as crises de modo a reforçar seu dispositivo de poder, impossibilitando a transição para outro regime de acumulação e convertendo a instabilidade em estado crônico. Show PALAVRAS-CHAVE: ABSTRACT Considering the acceleration of neoliberal reforms after the 2008 financial crisis and the “movement of the squares”, this article seeks to understand the relationship between neoliberalism and economic and political crises in liberal democracy. Neoliberal governmentality instrumentalises crises in order to reinforce its power device, making a transition to another regime of accumulation impossible and converting the instability into a chronic condition. KEYWORDS: O neoliberalismo não morreu com o colapso financeiro de 2008 nem com os protestos internacionais que lhe seguiram. Contrariando o prognóstico de diversos intelectuais e jornalistas (Mirowski, 2014Mirowski, Philip. Never Let a Serious Crisis Go to Waste: How Neoliberalism Survived the Financial Meltdown. Londres: Verso, 2014., pp. 30-3; Peck; Theodore; Brenner, 2012aPeck, Jamie; Theodore, Nik; Brenner, Neil. “Neoliberalism Resurgent? Market Rule after the Great Recession”. The South Atlantic Quarterly, v. 111, n. 2, 2012a, pp. 265-88., pp. 61-4), ele não apenas sobreviveu como se aprofundou e acelerou o ritmo de suas reformas. Eis, então, uma situação singular em que há crise econômica e de representatividade política, mas não de governamentalidade; nela, o dispositivo geral de poder parece se fortalecer fazendo uso das demais crises. A percepção de que a racionalidade política neoliberal instrumentaliza as crises não é nova. Perry Anderson (1995Anderson, Perry. “Balanço do neoliberalismo”. In: Sader, Emir; Gentili, Pablo (orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, pp. 9-23., p. 21) narra uma história exemplar ocorrida ainda em 1987, quando era consultor do Banco Mundial em missão no hemisfério sul. Segundo Anderson:
Fórmula parecida foi retomada depois da crise de 2008, mas dessa feita no centro do capitalismo mundial. Diante da explosão da dívida pública de alguns países europeus, a ocde publicou um documento em que propôs, segundo Dardot e Laval (2016_______. Ce cauchemar qui n’en finit pas. Comment le néolibéralisme défait la démocratie. Paris: La Découverte, 2016.), um verdadeiro “manual de uso” político da crise, de modo a contornar as resistências políticas e morais aos ajustes estruturais. Segundo o documento:
A mesma instrumentalização neoliberal parece valer para crises de representatividade política. O caso do governo brasileiro sob Michel Temer é paradigmático nesse aspecto. O presidente afirmou no final de 2016: “Estou aproveitando essa suposta baixa popularidade para tomar medidas impopulares, que, caso contrário, não tomaríamos” (Castro, 2017Castro, José Roberto. “Qual a trajetória de popularidade do governo Temer”. Nexo Jornal, 15/2/2017. Disponível em: <www.nexojornal.com.br/expresso/2017/02/15/Qual-a-trajet%C3%B3ria-de-popularidade-do-governo-Temer>.
A crise de popularidade se apresenta como ocasião propícia para radicalizar o neoliberalismo, sempre em nome de respostas emergenciais à crise econômica. Por isso, a despeito de 95% dos brasileiros considerarem que o governo está no rumo errado e de Temer bater recordes sucessivos de rejeição,1 1 Segundo pesquisa Pulso Brasil realizada entre 1º e 13 de junho de 2017 e pesquisas Ibope/CNI realizadas entre 22 e 25 de março e entre 21 e 24 de junho de 2018. Quais o problemas do neoliberalismo?Além disso, a abertura financeira gera um aumento considerável da desigualdade social na população do país. Segundo os autores, as políticas de austeridade, que frequentemente reduzem o tamanho do Estado, não somente "geram custos sociais substanciais" mas também "prejudicam a demanda", além de aprofundar o desemprego.
Por que o neoliberalismo não funciona?Os críticos do neoliberalismo afirmam que colocar o mercado no centro das prioridades, desregulamentar a economia e desmantelar os mecanismos do Estado que asseguram o bem-estar da população contribuiu para o aumento da distância entre os mais ricos e os mais pobres em vários países.
Porque o neoliberalismo é ruim para o trabalhador?Esse processo desregulamentador, parte do projeto neoliberal, não traz benefícios para os trabalhadores, ao contrário, significa a volta à exploração de mão-de-obra que ocorria no século passado, um retrocesso diante de tantas conquistas e lutas pelos direitos fundamentais do homem e sua positivação.
Quais são as 4 principais características do neoliberalismo?As características do Neoliberalismo são:. Privatização de empresas estatais.. Livre circulação de capitais internacionais.. Abertura econômica para a entrada de empresas multinacionais.. Adoção de medidas contra o protecionismo econômico.. Redução de impostos e tributos cobrados indiscriminadamente.. |