Quais são os benefícios do cultivo de biocombustíveis no Brasil?

17 junho 2021

Setor de transporte seria beneficiado, mas precisaria de ações complementares

Setor de transporte seria beneficiado, mas precisaria de ações complementares

Por WWF-Brasil

Estudo divulgado pelo WWF-Brasil reafirma a importância do uso de biocombustíveis para combate à crise climática e em especial para o setor de transporte, que representa cerca de um quarto de todas as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) no mundo (UNEP, 2019). O levantamento apontou que o Brasil tem capacidade de produzir biocombustíveis sem comprometer a oferta de alimentos e a preservação dos habitats naturais, mas apesar de ter potencial elevado, o país não é capaz de suprir toda a demanda do setor de transportes brasileiro, o que demandaria ações alternativas e complementares.

  Mesmo sendo o país com maior participação de biocombustíveis nos transportes do mundo, o Brasil ainda tem grande dependência de combustíveis fósseis, basta recordar a greve dos caminhoneiros contra a alta do preço dos combustíveis, em 2019. Neste cenário, os biocombustíveis se configuram como uma opção para combater a crise climática, pois emitem menos gases de efeito estufa e também podem ser vistos como uma segurança frente a uma possível crise escassez do petróleo.

  Os pesquisadores buscaram responder até que ponto é possível tornar a matriz de combustíveis mais renovável e reduzir as emissões de carbono sem causar mais desmatamento e prejudicar a segurança alimentar. Para isso, idealizaram dois cenários: o primeiro focado no agronegócio, focando a produção nas commodities e monoculturas atuais e, o segundo, alternativo, aumentando a importância da participação de culturas pouco exploradas atualmente, mas que oferecem maior rendimento na produção.

  Como ponto de partida, consideraram o potencial de produção de biocombustíveis em 2030, último ano para atingir as metas propostas na primeira NDC21 brasileira; as projeções conservadoras de aumento de rendimento na produção, diversificação de culturas e outras fontes de biomassa; a área disponível para produção de biocombustíveis e, ainda, a área necessária para a expansão de alimentos.

  A conclusão é que o aumento da produtividade das áreas de pastagens (cerca de 170 milhões) liberaria cerca de 36 milhões de hectares para cultivos em geral, área mais que suficiente para acomodar a expansão da produção de alimentos e de biocombustíveis por várias décadas. No entanto, alertaram que esse possível aumento pode acarretar possíveis impactos, como o aumento do desmatamento. Por isso, é fundamental aplicar e aperfeiçoar os mecanismos existentes de controle do uso da terra, como o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e o Zoneamento Agroecológico.

  Ricardo Fujii, analista de conservação do WWF-Brasil alerta: “A adoção deste tipo de combustível não pode correr o risco de gerar mais desmatamento, se apropriar de terras que poderiam ser destinadas à produção de alimentos e à restauração florestal ou mesmo causar mais impactos frente ao desafio das mudanças climáticas. Caso isso aconteça, suas vantagens caem por terra e ao invés de serem parte da solução correm o risco de piorar o problema”, ressalta.

  Entre os cenários avaliados, o que apresentou maior capacidade de atender a demanda de todos os combustíveis líquidos foi o cenário alternativo, que privilegia as culturas de palma e macaúba, representando maiores benefícios para o meio ambiente pois abre espaço para o cultivo de plantas nativas e que podem ser cultivadas em conjunto com outras culturas em SAFs (Sistemas Agroflorestais) ou ILPFs (Sistemas Lavoura-Pecuária-Floresta), sem prejuízo para sua produção.

  Na avaliação, o potencial de produção de biocombustíveis é menor naquele em que as commodities atuais são priorizadas, já que a produtividade de combustível dessas culturas por área é inferior à dos outros cultivos. Observou-se também um alto potencial de produção de biodiesel e biogás a partir de resíduos, que em termos ambientais são os mais vantajosos.

  Nos cenários analisados, mesmo priorizando-se a produção de etanol e biodiesel, não seria possível atender a demanda total da frota brasileira de veículos rodoviários. Por outro lado, é possível atender a demanda por QAV e GNV por meio da produção de bioquerosene e biometano. Este pode, inclusive, ser melhor aproveitado: o biometano pode ser o combustível na frota de veículos leves e pesados utilizados no setor agropecuário, eliminando a necessidade de criação de uma extensa rede de distribuição. O biometano também pode ser utilizado em outras atividades, substituindo gás natural tanto em regiões rurais como urbanas.

  Para Fujii, a adoção de combustíveis renováveis é um passo necessário em direção à sustentabilidade energética no longo prazo. “A utilização de biocombustíveis não é solução definitiva ou a única alternativa. Neste momento ela se mostra como opção atrativa para a redução das emissões do setor de transportes, mas ações complementares como a diversificação de modais, expansões do uso de ferrovias e hidrovias, aumento da eficiência energética veicular e expansão do transporte público são alternativas complementares”, finaliza.

Soluções para controlar o impacto dos biocombustíveis
É possível aumentar a produção dos biocombustíveis sem a necessidade de expandir a área cultivada, evitando a escassez de alimentos e o comprometimento dos biomas brasileiros. Grandes esforços têm sido feitos no sentido de aumentar tanto a produtividade na fase agrícola (t/ha) quanto na fase industrial, quando a biomassa é transformada em biocombustível (L/t).

O aumento da produtividade pode ser oriundo de melhorias incrementais, relacionadas à seleção de variedades de cultivos mais apropriados ao processamento (cana com maior teor de açúcar, por exemplo) e aprimoramento dos processos produtivos, especialmente na produção de bioquerosene e biodiesel, casos em que as cadeias produtivas são mais recentes.

  Outra opção é a utilização de matérias-primas alternativas. Um exemplo é a macaúba, espécie nativa de palmeira que apresenta um rendimento muito maior do que a soja na produção do óleo (4000 kg/ha comparado aos 500 kg/ha da soja) e que pode ser convertida em bioquerosene e biodiesel16. Em muitos casos, tais culturas podem ser integradas em ILPFs, otimizando o uso do solo com benefícios para a produtividade e resiliência da terra.

  O aumento de produtividade também pode se dar na pecuária, a qual atualmente responde com suas pastagens por 70% da terra agriculturável ocupada no país. À medida que a produtividade da pecuária aumentar, haverá liberação de espaço para cultivo de alimentos e biocombustíveis.

  Pode-se ainda aumentar o aproveitamento energético de resíduos urbanos e agropecuários, inclusive para a produção de biocombustíveis19. Esse tipo de matéria-prima é particularmente interessante do ponto de vista ambiental pois, além de contribuir para o aporte energético, também diminui o montante de lixo e poluentes depositados no ambiente.

  Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira e sem fins lucrativos que trabalha para mudar a atual trajetória de degradação ambiental e promover um futuro em que sociedade e natureza vivam em harmonia. Criado em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF. Apoie nosso trabalho em

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Qual a vantagem para o Brasil produzir biocombustível?

Diferentemente dos combustíveis fósseis e tradicionais, o biocombustível neutraliza a pegada de carbono e reduz a emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. Além disso, os biocombustíveis são renováveis, uma vez que são criados usando recursos que podem ser reaproveitados ou repostos.

Quais as vantagens que o uso do biocombustível traz para o Brasil no setor social?

As vantagens sociais do biodiesel são principalmente na geração de emprego e renda no campo e na indústria nacional. O cultivo da mamona, dendê, girassol, soja e de outras oleaginosas vão gerar emprego e renda, especialmente para os agricultores familiares.

Qual a importância dos biocombustíveis?

Os biocombustíveis, portanto, são muito importantes, pois reduzem a emissão de CO2 e geram menos poluentes, sendo essenciais principalmente nas grandes cidades. Além disso, diminuem a dependência das importações de petróleo, fator muito importante economicamente.

Qual é o uso de biocombustíveis no Brasil?

No Brasil, o principal biocombustível utilizado é o etanol, mas existem outros como o biogás e o biodiesel. A adoção dessas fontes de energia passou a ocorrer no país a partir da década de 1970. Em 2005, procurando ampliar a produção de biocombustíveis, o governo lançou o Plano Nacional de Energia.