Chegou a vez de os atletas paralímpicos mostrarem que não devem em nada aos competidores sem deficiências, e até debaixo de neve. Os Jogos Paralímpicos de Sochi começam nesta sexta, na Rússia. Pela primeira vez na história, o Brasil vai participar da competição, com Andre Cintra no snowboard cross e Fernando Aranha no ski cross country adaptado. Show
A participação de dois atletas brasileiros confirma a determinação da Confederação Brasileira de Desportos de Neve em inserir o país nas competições de inverno, apesar da dificuldade óbvia do país nestas modalidades, devido à falta de neve. Nas Olimpíadas de Sochi, o Brasil já havia batido o recorde de classificados, com 13 competidores. O objetivo é aumentar este número em 2018 e 2022, e começar a vencer medalhas em 2026. “Os dois atletas são de neve, não de gelo, e essa é a nossa grande dificuldade”, afirma Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. “Para mantê-los treinando, é preciso mantê-los no exterior. A gente tem delegações bastante enxutas e tenta reduzir os custos ao máximo, mas oferecendo uma excelente estrutura e qualidade de treinamento para eles.” O primeiro a entrar na pista é Aranha, no domingo, 9, com a prova de 15km. Ele ainda disputará o cross country de 1km e 10km, dias 12 e 16. Já Cintra participará no dia 14 no snowboard. O comitê paralímpico investiu nos dois atletas para tentar competir pela primeira vez dos Jogos de Inverno, e a aposta deu certo. “Nós escolhemos o André e o Fernando, cada um na sua modalidade, e investimos neles: compramos equipamentos, levamos para treinar no exterior, com técnicos estrangeiros. Eles participaram de competições internacionais e se qualificaram para os Jogos”, relembra. Aranha, 35 anos, tem uma longa carreira em esportes adaptados, como basquete, atletismo, ciclismo e triatlo. Ele ficou impressionado com o próprio desempenho na neve. “Eu me sinto orgulhoso porque realmente foi uma coisa muito difícil. Os índices de classificação não são necessariamente fáceis. Mas o esporte é universal”, ressalta. “E independente dos investimentos, a neve está para todos, os esportes de inverno também. Eu tenho certeza de que qualquer atleta, até mesmo brasileiro, que não tem a neve, se surpreenderia com o quão bom ele pode ser nos esportes de inverno também.” O paulista de Cotia pisou pela primeira vez na neve há menos de dois anos, mas mesmo assim conseguiu a vaga na Rússia. Ele passou os últimos quatro meses em treinos intensos nas pistas do Colorado, nos Estados Unidos. “Eu cresci num internato e bagunçava junto com as outras crianças em vários esportes adaptados. Na realidade sou um multiatleta, e quando me surgiu essa oportunidade, visando uma possível participação em Sochi, eu aceitei quase imediatamente. É uma coisa que está me trazendo muitos bons frutos.” Jogos sob tensão política Enquanto as Olimpíadas de Sochi foram marcadas por uma série de críticas à Rússia pela discriminação de homossexuais e as violações de direitos humanos, agora os Jogos Paralímpicos acontecem à sombra de uma das mais graves crises na região desde o fim da União Soviética, a intervenção russa na Ucrânia. Apesar da tensão, Parsons observa que os esportistas permanecem concentrados, e espera que as questões políticas não interfiram nas competições. “Aqui é um evento esportivo e estamos concentrados só nos aspectos esportivos. É obvio que a gente está ciente do que está acontecendo no mundo e em especial aqui nessa região, mas a gente deixa a política para os políticos”, diz. A Rússia foi o país que ganhou mais medalhas nas Olimpíadas de Sochi. Os Jogos Paralímpicos de Inverno se encerram no dia 16, e os próximos ocorrem em 2018, em Pyeongchang, na Coreia do Sul. Jogos Paralímpicos de Verão ajudaram a reabilitar e socializar pessoas com deficiência de todo o mundo. Graças à Ludwig Guttmann, um neurologista alemão que passou a chefiar o Centro Nacional de Traumatismos em Stoke Mandeville na Inglaterra. Passou a utilizar o esporte como uma forma de reabilitar seus pacientes, e em 28 de julho de 1948 organizou o primeiro evento esportivo para pessoas com deficiência. O evento passou a acontecer todos os anos, e em 1952 passou a ser internacional, com a participação de quatro atletas dos países baixos. Roma sediou em 1960 a nona edição dos Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, como era conhecido o evento, e foi realizado alguns meses após os Jogos Olímpicos de Verão. Em 1964, o uso do nome “Paraolimpíadas” já era comum, formado pela contração de “paraplegia” e “olimpíadas”. Em 1976, nos Jogos de Toronto, amputados e deficientes visuais participaram pela primeira vez. Por questões financeiras ou pela falta de acessibilidade, diversas edições dos Jogos Paraolímpicos aconteciam em cidades diferentes, mas a partir de 1988 em Seul, os jogos passaram a acontecer na mesma cidade e utilizando os mesmos locais de competição dos Jogos Olímpicos. Em 2011, após os Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, o Comitê Paralímpico Internacional determinou que todos os comitês nacionais padronizassem o termo “Paralimpíada” e, por consequência, “Jogos Paralímpicos” e “atletas paralímpicos” para que se assemelhassem ao termo original em inglês “Paralympics”. Veja a seguir, todas as edições dos Jogos Paralímpicos de Verão. Suas respectivas datas, símbolos, e outras informações detalhadas de cada jogo: 1960 - Jogos Paralímpicos de Roma, Itália
Modalidades: Tiro com Arco, Atletismo, Tiro de Dardo (espécie de Tiro com Arco, mas praticado com dardos), Sinuca, Natação, Tênis de Mesa, Esgrima em Cadeira de Rodas, Basquete em Cadeira de RodasO Brasil não disputou esta edição 1964 - Jogos Paralímpicos de Tóquio, Japão
Modalidade incluída: Levantamento de peso O Brasil não disputou esta edição 1968 - Jogos Paralímpicos de Tel Aviv, Israel
Modalidade incluída: Lawn Bowl (esporte semelhante à Bocha) O Brasil não disputou esta edição 1972 - Jogos Paralímpicos de Heidelberg, Alemanha Ocidental
O Brasil não conquistou medalhas nesta edição 1976 - Jogos Paralímpicos de Toronto, Canadá
Modalidades incluídas: Goalball, Tiro Esportivo, Vôlei O Brasil conquistou 1 medalha de prata e se classificou na 31° posição no quadro geral 1980 - Jogos Paralímpicos de Arnhem, Países Baixos
Modalidade incluída: Vôlei Sentado O Brasil não conquistou medalhas nesta edição 1984 - Jogos Paralímpicos de Stoke Mandeville, Reino Unido e Nova York, Estados Unidos
Modalidades incluídas: Bocha, Ciclismo de Estrada, Futebol de 7, Hipismo, Levantamento de Potência, Luta Livre O Brasil conquistou 7 meldalhas de ouro, 17 medalhas de prata e 4 medalhas de bronze e se classificou na 23° posição no quadro geral 1988 - Jogos Paralímpicos de Seul, Coreia do Sul
Modalidades incluídas: Judô, Tênis em Cadeira de Rodas O Brasil conquistou 4 meldalhas de ouro, 9 medalhas de prata e 14 medalhas de bronze e se classificou na 24° posição no quadro gera 1992 - Jogos Paralímpicos de Barcelona, Espanha
O Brasil conquistou 3 meldalhas de ouro, 4 medalhas de bronze e se classificou na 32° posição no quadro geral 1996 - Jogos Paralímpicos de Atlanta, Estados Unidos
Modalidades incluídas: Vela, Rugbi em Cadeira de Rodas, Ciclismo de Pista O Brasil conquistou 2 meldalhas de ouro, 5 medalhas de prata e 13 medalhas de bronze e se classificou na 22° posição no quadro geral 2000 - Jogos Paralímpicos de Sydney, Austrália
Modalidade incluída: Basquete ID (adaptado para deficiência intelectual) O Brasil conquistou 6 meldalhas de ouro, 10 medalhas de prata e 6 medalhas de bronze e se classificou na 24° posição no quadro geral 2004 - Jogos Paralímpicos de Atenas, Grécia
Modalidade incluída: Futebol de 5 O Brasil conquistou 14 meldalhas de ouro, 12 medalhas de prata e 7 medalhas de bronze e se classificou na 15° posição no quadro geral 2008 - Jogos Paralímpicos de Pequim, China
Modalidade incluída: Remo O Brasil conquistou 16 meldalhas de ouro, 14 medalhas de prata e 17 medalhas de bronze e se classificou na 11° posição no quadro geral 2012 - Jogos Paralímpicos de Londres, Reino Unido
O Brasil conquistou 21 meldalhas de ouro, 14 medalhas de prata e 8 medalhas de bronze e se classificou na 9° posição no quadro geral 2016 - Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, Brasil
Modalidades incluídas: Canoagem, Triatlo O Brasil conquistou 14 meldalhas de ouro, 29 medalhas de prata e 29 medalhas de bronze e se classificou na 8° posição no quadro geral 2020 - Jogos Paralímpicos de Tóquio, JapãoModalidades incluídas: Badminton, Taekwondo Quando o Brasil participou pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos de Verão e de Inverno?A primeira vez do Brasil nos Jogos Paralímpicos foi na edição de 1972, em Heidelberg, Alemanha Ocidental, quando o país enviou seus representantes para competir no atletismo, tiro com arco, natação e basquetebol em cadeira de rodas.
Quando foi a primeira participação do Brasil nas Paralimpíadas?A primeira participação do Brasil em Jogos Paralímpicos de Inverno foi em Sochi, na Rússia, em 2014. Na ocasião, o país foi representado por apenas dois atletas, André Cinta, no snowboard, e Fernando Aranha, no esqui cross-country.
Quando ocorreu pela primeira vez os Jogos Paralímpicos de Verão?Os Jogos Paralímpicos de Verão de 1960, aconteceram pela primeira vez, em Roma, na Itália, entre os dias 18 e 25 de Setembro de 1960. Como sendo os primeiros jogos, a lesão na medula espinhal foi única deficiência presente nesses jogos. Participaram cerca de 400 atletas de 23 países.
Quando o Brasil ganhou a primeira medalha nas Paralimpíadas?A primeira medalha do Brasil em Jogos Paralímpicos veio com a conquista da dupla Robson Sampaio e Luiz Carlos da Costa, nos Jogos de Toronto em 1976. A prata foi conquistada no lawn bowls, modalidade similar à bocha e que já não faz mais parte do programa dos Jogos Paralímpicos.
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