Como ficou a economia dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial?

Após a sombria previsão sobre a recuperação econômica divulgada na quarta-feira pelo Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), nesta quinta-feira foi a vez dos dados sobre a variação anual do PIB em 2020, com o pior resultado registrado desde 1946, imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial: uma queda de 3,5% da economia devido ao impacto da covid-19, segundo uma estimativa preliminar do Departamento do Comércio. A pandemia como sinônimo de recessão; o PIB como barômetro de uma devastação sem precedentes em tempos de paz.

Depois de entrar em recessão em fevereiro de 2020, após 128 meses de crescimento, no quarto trimestre do ano passado a economia norte-americana se recuperou com uma alta de 4%, segundo um indicador anualizado empregado nos EUA. A cifra, no entanto, é inferior à prevista pelos analistas, que esperavam um crescimento de 4,4%. Se for considerado o indicador utilizado em outros países, o crescimento entre outubro e dezembro foi de 1%. A perda de empregos (10 milhões de postos de trabalho a menos e uma taxa de desemprego de 6,7%), o fechamento maciço de pequenas empresas e uma enorme desigualdade são os traços que marcaram um ano em que as previsões não se cumpriam à medida que o país era atingido por novas ondas do coronavírus.

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O Departamento de Comércio informa que a queda do PIB em 2020 reflete contrações no gasto das famílias, nas exportações e nos investimentos privados não residenciais, além de uma redução nos gastos das Administrações locais e estatais, em parte compensadas por aumentos em incentivos do Governo federal. As exportações caíram 13% em 2020, e o consumo pessoal diminuiu 3,9%. Esses dados preliminares serão revisados numa nova avaliação em 25 de fevereiro.

É a primeira vez que o crescimento anual registra uma queda desde 2009, na Grande Recessão, quando a economia teve uma contração de 2,5%. Bem diferente, por certo, da redução de 1946, que foi de 11,6% em virtude da desmobilização posterior ao conflito bélico. Em qualquer caso, o comportamento da economia em 2020 foi marcado por altos e baixos: da crise da primavera, que coincidiu com a primeira onda da pandemia, até a retomada do verão, com um crescimento de 7,4% que coincidiu com a reabertura da atividade econômica, e a desaceleração do último trimestre sobre a qual o Federal Reserve alertou na quarta-feira, por efeito direto da segunda e da terceira ondas da crise sanitária.

Com o vírus ainda fora de controle em boa parte do país, os economistas preveem que o crescimento econômico continuará negativo no primeiro trimestre do ano, antes de uma eventual retomada no verão, à medida que o Governo de Joe Biden, que prometeu ajuda no valor de 1,9 trilhão de dólares (10,3 trilhões de reais), e o ritmo de vacinação sejam ampliados e cheguem à maioria dos norte-americanos. Segundo a nova Administração, no verão o país alcançaria a imunização coletiva. A recuperação também será observada com as ajudas diretas às famílias e às pequenas e médias empresas, após os dois programas de estímulos aprovados em 2020. Os benefícios do primeiro se esgotaram justamente no último trimestre do ano passado, ao passo que, conforme denunciou o Governo de Biden, boa parte dos recursos do segundo programa ainda não havia chegado aos beneficiários quando o novo mandatário assumiu na Casa Branca, na terceira semana de janeiro.

A retração do consumo no último trimestre de 2020, devido ao vírus e ao atraso na aprovação pelo Congresso do último plano de assistência, prejudicou o bom desempenho dos únicos setores que tiveram dados positivos: a indústria e a construção. O setor mais afetado pela pandemia e pelos consequentes fechamentos parciais ou totais da atividade foi o de serviços, em especial os trabalhadores mais precários ―em sua maioria, mulheres e membros de comunidades como a latina e a afro-americana.

Minas busca suprir indústria do Rio e de São Paulo, que atendem aos esforços de guerra dos EUA; Pampulha é criada e projeta BH

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Como ficou a economia dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial?

  • Por Sandra Carvalho
  • Em 19 de julho de 2022 às 00:29

Como ficou a economia dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial?
Minas abastece, entre outras indústrias, a Companhia Siderúrgica Nacional, criada em 1941 | Crédito: Secretaria de Cultura de Volta Redonda / Divulgação

A década de 1940 jamais será esquecida e serve de aprendizado, principalmente, no que se refere a não aceitar a instauração de regimes totalitários e nefastos como o fascismo e o nazismo. A Segunda Guerra Mundial matou em torno de 40 milhões de pessoas entre os anos de 1939 e 1945.

Os esforços de guerra dos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e dos Aliados (França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética) envolveram economias do mundo todo, inclusive do Brasil, importante fornecedor de matéria-prima. Minas Gerais, que na época era o maior exportador de minério do País, também teve sua dinâmica impactada por esse triste capítulo da história da humanidade.

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Como ficou a economia dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial?

Mas foi na primeira metade dos anos 40, apesar da guerra, que Belo Horizonte viveu seu auge e teve seus momentos de “celebridade” mundial. A capital mineira, enfim, deixou de ser estigmatizada como “roça grande” e se consolidou como uma capital verdadeiramente moderna graças a Juscelino Kubitschek.

Esses são alguns dos fatos abordados nesta segunda reportagem do especial “Há 90 anos”, um presente do DIÁRIO DO COMÉRCIO aos leitores e internautas, em comemoração às nove décadas de existência do jornal.

A década de 1940 já começa sob a tensão da Segunda Guerra. O Brasil de Getúlio Vargas, no regime ditatorial do Estado Novo, manteve-se oficialmente neutro no começo do conflito, uma vez que comercializava com Alemanha e Itália. Há correntes de historiadores que afirmam, porém, que Vargas chegou a flertar com o nazismo de Adolf Hitler.

Mas o caso é que o Brasil tinha uma relação estreita e bem mais profunda com o poderoso vizinho rico do continente, os Estados Unidos, sendo o país norte-americano o principal parceiro comercial. Os EUA deixaram de ser neutros e entraram oficialmente na guerra ao lado dos Aliados no final de 1941, com os ataques do Japão à base de Pearl Harbor. Em 1942, após ataques supostamente de alemães a navios brasileiros, que causaram a morte de mais de mil soldados, Vargas saiu da neutralidade e anunciou apoio ao país norte-americano, posicionando-se contra o grupo da Alemanha nazista e da Itália fascista.

Novas indústrias

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A costura desse posicionamento com os Estados Unidos, feita pelo então ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, resultou em uma parceria comercial ainda maior e de investimentos entre Brasil e o país norte-americano. O Brasil supriu os EUA com recursos minerais e bens intermediários e até finais nos esforços de guerra. Em troca, o capital norte-americano foi fundamental para a criação de novas empresas estatais e desenvolvimento da siderurgia brasileira.

Os acordos entre os dois países selaram, em princípio, um empréstimo de US$ 100 milhões para a modernização e implantação do projeto siderúrgico brasileiro, além da aquisição de material bélico no valor de US$ 200 milhões. Os aportes do governo de Franklin Roosevelt foram decisivos para que Getúlio Vargas criasse a Companhia Siderúrgica Nacional (1941, em Volta Redonda, RJ), a Companhia Vale do Rio Doce (1942, em Itabira, região Central de Minas) e a Fábrica Nacional de Motores (1942, que ficou conhecida como Fenemê, em Duque de Caxias, RJ).

“Foi um período em que o movimento pró-indústria já está mais que estabelecido no Brasil. Toda a infraestrutura institucional e legal, com leis trabalhistas, está praticamente estabelecida. Minas, que era a principal jazida de ferro do mundo, vai se especializar na produção de minério e bens intermediários e será o principal fornecedor para indústrias de São Paulo e do Rio, que, por sua vez, vão fornecer produtos aos esforços de guerra dos Estados Unidos”, explicou o pós-doutor em história econômica pela London School of Economics, Sérgio Birchal.

Segundo ele, a demanda americana ditava o que era produzido. “A Fenemê, por exemplo, começou produzindo motores de caminhão, de aviões, depois passou a produzir caminhões, tanques e até o Jipe fizeram. Tudo para atender aos Estados Unidos”. A guerra não impactou apenas as empresas estatais. Nesta época, a siderúrgica Belgo Mineira também fez uma ampliação em sua planta em Sabará, exatamente para atender à demanda norte-americana.

Energia

A matriz energética continuava sendo um gargalo para Minas Gerais na década de 1940. A geração de eletricidade era feita por poucas empresas privadas e internacionais, que prestavam um serviço ruim e insuficiente para o crescimento econômico. “Uma parte de Minas era atendida pela companhia privada Força e Luz. Na Zona da Mata, havia a companhia Cataguases Leopoldina, e algumas empresas tinham as próprias usinas. Os governantes da época perceberam que essas companhias privadas e internacionais não iriam fazer os investimentos necessários para a industrialização do Estado e iniciaram o movimento para estatizar o serviço”.

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Roosevelt (à esquerda) colaborou com aportes na Era Vargas (à direita) | Crédito: Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Cidade Industrial sai do papel

Outro grande desafio que permaneceu no início da década de 1940 era trazer o centro econômico de Minas Gerais para o mesmo local onde estava o centro político e administrativo do Estado, ou seja, Belo Horizonte. Desenvolver a economia naquela época era sinônimo de industrialização. A questão era que a Capital, planejada para ser moderna, já tinha extrapolado seu plano de ocupação e não tinha para onde crescer. A saída foi inaugurar o primeiro distrito industrial na vizinha Contagem.

“Belo Horizonte foi planejada para ter 200 mil habitantes quando chegasse no auge populacional. Em 1940, já tinha 211 mil pessoas. Aquela Beagá feita para ser uma cidade moderna e arborizada não se organizou para o desenvolvimento de grandes indústrias, como acontecia em outras grandes cidades. A capital mineira não tinha espaço nem para a construção de indústria e nem para abrigar trabalhadores. Por isso, iniciaram, lá nos anos de 1930, planos para o crescimento industrial para os vetores periféricos”, contextualizou a professora do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais  (PUC Minas) Júlia Calvo.

O primeiro distrito industrial do Estado foi oficialmente criado em 1941, quando o coronel Juventino Dias – que hoje dá nome ao local – inaugurou sua fábrica de cimento no local.

No início, segundo historiadores, houve falta de infraestrutura urbana, como ruas e energia. “As próprias fábricas, como a fábrica de cimentos Itaú, criou uma estrutura de moradias para trabalhadores. Mas, no geral, não havia transporte, restaurante, serviços, e essa situação acaba sendo um dificultador para que as indústrias se mantenham lá na década de 40. Então, é um projeto que vai se consolidando na medida em que a cidade vai se urbanizando”, relatou Júlia Calvo.

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BH: de “Poeirópolis” a cidade moderna

Apesar de a industrialização não encontrar espaço em Belo Horizonte, a capital mineira tinha na década de 1940 um comércio movimentado, diverso, com importantes representações de marcas. As pessoas vinham de regiões distantes para adquirir produtos e serviços na Capital. Havia até alguns prédios modernos e a Feira de Amostras, no local onde é hoje a rodoviária. Mas a cidade ainda era estigmatizada como “roça grande” ou “Poeirópolis”, segundo a historiadora Júlia Calvo.

“BH foi criada em 1897 para ser uma grande cidade, moderna. Mas, até 1940, isso não acontece. Como não dava pra ter um desenvolvimento industrial, como acontecia nas grandes cidades do mundo, tinha-se a impressão de que aquela modernidade planejada jamais viria”, relatou.

A situação começa a mudar quando o então prefeito Juscelino Kubitschek de Oliveira, após revitalizar o centro da cidade, resolve tirar do papel um projeto criado pelo prefeito Otacílio Negrão de Lima nos anos 30: o Complexo da Pampulha. Otacílio iniciou as desocupações na região e represou o córrego Pampulha em 1938. JK ampliou e incrementou o projeto. “O JK pensava num espaço de lazer e turismo mesmo, moderno, nas pessoas vindo para BH para conhecer a região. No projeto inicial, tinha até um campo de golfe e um hotel, o que depois é alterado”.

Juscelino trouxe o urbanista francês Alfred Agache, que havia feito trabalhos modernos no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Agache o aconselha esquecer o projeto, fala que o que JK precisa é de uma cidade satélite, não de lazer. Mas Juscelino persiste, chega a fazer um concurso de projetos, o que não dá muito certo, e depois ele conhece o Oscar Niemeyer, iniciando ali uma longa parceria”, informou a historiadora.

Segundo Júlia Calvo, como JK havia acabado de revitalizar o Centro, a Prefeitura de BH não dispunha dos recursos para a obra. “O Juscelino faz um acordo com os construtores, que assumem o risco financeiro do projeto”.

Cheio de curvas modernistas em alusão às “montanhas de Minas”, o conjunto da Pampulha – que inclui o cassino, a Casa do Baile, o Iate Golfe Clube (atual Iate Tênis Clube) e a Igreja de São Francisco de Assis – é feito em apenas nove meses e inaugurado em 1943.

“O impacto econômico não está necessariamente no local, está nas imagens do conjunto arquitetônico que passam a circular pelo mundo. Aparecem nas revistas internacionais e projetam Minas Gerais. Só aí que BH vai ter de fato o arrojamento que se propunha desde a sua fundação”, observou Júlia. Além disso, acrescentou a historiadora, o conjunto terá um impacto financeiro no município na medida em que atrai negócios e pessoas e exige a realização de obras de infraestrutura, como, por exemplo, a da avenida Antônio Carlos. “O impacto da Pampulha é no macro. É uma coroação de BH como uma capital moderna”.

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Complexo da Pampulha tornou BH conhecida mundialmente | Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC

Presidente Dutra favorece importações

Antes de ser deposto, Getúlio Vargas decretou eleições diretas, vencidas pelo general Eurico Gaspar Dutra, do PSD, partido criado pelos interventores nomeados nos estados por Getúlio. Seu primeiro passo como presidente foi elaborar uma nova Constituição da República e trabalhar pelo restabelecimento dos direitos democráticos dos cidadãos. Conforme historiadores, apesar de ser apoiada pelos antigos interventores de Getúlio, a política econômica do general Dutra foi na linha oposta à política nacionalista do antecessor.

Dutra incentivou a importação de produtos finais para combater a inflação, o que não deu muito certo. Mais tarde criou o Plano Salte, com investimentos federais em áreas estratégicas como energia e transporte. Em seus três últimos anos de governo, a economia cresceu a uma média anual de 8%.

Minas Gerais, após a deposição de Benedito Valadares, só foi ter eleições diretas em 1947, quando Milton Campos foi eleito. Até lá, vários interventores foram nomeados pelo presidente Dutra. A gestão do governador Milton Campos foi marcada pela busca de um equilíbrio nas contas públicas e consolidação de instituições democráticas no Estado. Fez investimentos estratégicos em escolas e pesquisas agrícolas e criou um novo distrito industrial, desta vez em Santa Luzia.

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Como é a economia dos Estados Unidos impactou a Segunda Guerra Mundial?

Para dar um exemplo, as importações aumentaram aproximadamente 75%, enquanto as exportações atingiram os 340%. Este crescimento económico foi mais notório a partir de 1945, porque os EUA, além de abastecerem o mercado interno, estavam também a fornecer os países devastados pela guerra.

O que houve com a economia dos EUA após a guerra?

O colapso das bolsas de valores, dos preços e da produção ao redor do mundo foi nada menos que avassalador. Na América do Norte e na Europa, as vendas em todos os ramos do atacado e do varejo despencaram assustadoramente, roubando de uma hora para outra o sustento de milhões de trabalhadores arremessados ao desemprego.

Como os Estados Unidos se beneficiaram com a Segunda Guerra Mundial?

Os Aliados guerreavam contra o Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão. Os Estados Unidos começou a vender materiais bélicos e sua economia começou a crescer rapidamente com as políticas que o país implantava internamente. Tornou-se forte economicamente e ajudou seus aliados a vencerem a guerra.

Como ficou a economia durante a Segunda Guerra Mundial?

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, constatou-se uma dramática perda de mercados na Europa Ocidental, a assinatura de acordos comerciais com Washington e o aumento da demanda por produtos brasileiros em mercados tradicionalmente supridos pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos.